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Pleno.News - 12/07/2021 12h45 | atualizado em 15/07/2021 17h16

Um dia, o suposto príncipe se torna violento Foto: Reprodução

Embora as causas da violência doméstica sejam multifatoriais, a maior parte dos estudos aponta para a questão de gênero como predominante. Os parceiros agressores, que na maior parte dos casos são homens, colocam-se em posição hierarquicamente superior à da mulher. Com isso, validam suas atitudes agressivas. Seria como “educar” uma mulher para ela ser mais submissa a eles.

As ferramentas utilizadas pelos agressores são várias: desde a violência usada para intimidar ou punir a vítima e passando por várias etapas de manipulação, nas quais a vítima chega a sentir-se culpada pelo que lhe acontece.

O ciclo da violência em geral envolve um parceiro que inicialmente se comporta como um príncipe encantado. Ele é o homem dos sonhos daquela mulher que algumas vezes já vem de outras relações violentas ‒ seja na casa de origem, seja com outros companheiros.

Um dia, este suposto príncipe vira o jogo de sedução e torna-se violento. Após o primeiro episódio, ele costuma pedir desculpas, oferece presentes, diz que “perdeu a cabeça”, promete ser mais calmo em outra ocasião e, assim, consegue o seu primeiro perdão.

Os outros ataques de violência passam a acontecer sob a justificativa dele de ter sido “provocado” pela mulher, que muitas vezes é chamada de “louca”. Em certos casos, nem os pedidos de desculpas acontecem mais por parte do agressor, porque a mulher já está tão identificada neste processo como culpada, que acha mesmo que ela provocou a ira do parceiro e acabou sendo agredida por ser “tóxica”, outro adjetivo frequentemente utilizado pelos agressores.

Em muitos casos, este circuito infindável de agressão-manipulação-culpa da vítima é o que faz com que as agressões domésticas sejam denunciadas apenas depois de meses e até de anos. E, mesmo assim, às vezes, a denunciante chega a retirar suas acusações por acreditar que o parceiro mudará dali em diante; e, desse modo, ela torna a colocar-se em risco pela proximidade com seu agressor.

Na maioria dos casos, a vítima passa pelo que chamamos de processo de revitimização. Pode ser por parte da própria autoridade policial, que questiona a vítima sobre o porquê de tanto atraso na denúncia, ou por parte das pessoas em geral, que não compreendem este ciclo de violência e quão difícil é sair dele. Assim, as vítimas acabam sendo violadas por seus agressores e, mais tarde, pela sociedade, que cobra delas uma atitude mais pontual e mais precoce.

A questão financeira, combinada à existência de filhos, costuma pesar muito também nestas decisões de permanência da vítima em relacionamentos agressivos. Frequentemente, no discurso da “fase intimidadora” do ciclo de violência, homens ameaçam tomar a guarda dos filhos, em caso de separação do casal. Também ameaçam deixar as mulheres desamparadas materialmente, o que acontece com frequência quando elas não trabalham fora.

Por outro lado, quando mulheres famosas acusam seus parceiros de violência doméstica, elas acabam por encorajar outras a fazer o mesmo e a quebrar esse ciclo de violência.

Tendo em vista sua relevância, este assunto deve e merece ser debatido, pois a sociedade precisa aprender que, em briga de marido e mulher, pode-se, sim, meter a colher. Aliás, deve-se!

Maria Rafart é formada em Direito e Psic0logia e mestre em Psicologia Forense. Tem um programa de rádio na Transamérica FM de Curitiba e atua como psicóloga de adultos.

* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.

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