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Estudo alerta sobre suicídio de agentes de segurança pública

Aumento de casos acendem alerta em Minas Gerais

Ana Luiza Menezes - 09/09/2019 18h34 | atualizado em 09/09/2019 21h38

Suicídios entre agentes de segurança pública acendem alerta em MG Foto: Reprodução/PMMG

Suicídios entre agentes de segurança pública acenderam um alerta em Minas Gerais. A frase de uma carta de despedida publicada nas redes sociais por um policial militar de 28 anos, antes de cometer suicídio, em agosto, é mais uma prova de que os índices são sérios.

– Foram nove anos na Polícia Militar e vos digo, caros amigos: cuidem-se! A polícia é super estressante e, como no meu caso, pode ser fatal – escreveu ele antes de tirar a própria vida.

O caso dele não foi o único. Um levantamento feito por sindicatos e associações junto à ONG Defesa Social, que tem foco em segurança pública, estimou cerca de 30 casos de suicídio entre agentes de segurança só em 2019. A pesquisa foi feita com base em relatos de associados.

O levantamento inclui policiais militares e civis, agentes penitenciários e socioeducativos e bombeiros. Foram identificados nominalmente 16 agentes que tiraram a própria vida; entre esses, a PM lidera com seis casos registrados, seguido por agentes penitenciários, com cinco.

– O que assusta é que, hoje, o suicídio mata mais que confronto. Tem um PM morto por confronto em 2019 – disse Marco Antônio Bahia, vice-presidente da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra).

A ideia do levantamento veio de uma pesquisa para entender os números elevados de afastamento por transtorno psicológico entre agentes da área de segurança pública, explica Robert William de Carvalho, presidente da ONG Defesa Social e policial civil aposentado.

– Parece aumento orgânico, uma epidemia em Minas Gerais – avaliou.

Na pesquisa, que ouviu 2.603 servidores estaduais, 83% dos policiais entrevistados apontaram que o principal fator de adoecimento psicológico é a falta de reconhecimento e valorização pelo trabalho; 74% disseram ser a carga pesada de serviço, e 64%, os baixos salários. Cerca de 42% dos entrevistados disseram já ter tirado licença por motivo psiquiátrico.

Carlos, de 52 anos, escrivão da polícia civil, gostava da profissão e teve uma carreira de mais de 20 anos até cometer suicídio na metade de agosto. Segundo a prima, Carla Fernandes, ele não demonstrava problemas, mas estava mais irritado e parecia mais triste nos últimos anos.

– Ele estava endividado, essa questão do governo parcelar o salário dos policiais tem que ser banida. Isso ficou explícito para mim, porque a dívida dele começa em 2016, quando começaram [os parcelamentos] – disse ela.

Embora seja difícil analisar as causas que levam às mortes –muitas não vêm a público– as condições de trabalho aparecem entre as motivações, junto a depressão, alcoolismo e causas pessoais, como problemas de relacionamento familiar.

– O policial se sente meio desamparado, tanto na estrutura física, quanto em apoio psicológico. A gente participava de alguma operação, com troca de tiros, mortes, e ficava por isso mesmo – contou outro policial civil do estado que prefere não se identificar e que tentou se matar no final dos anos 90.

A secretaria estadual de Justiça e Segurança Pública diz estar ciente do problema e que acompanha os casos, mas não comenta os números. A pasta também não respondeu sobre número de policiais mortos em confronto.

A gestão Romeu Zema (Novo) lembra que tem uma diretoria de atenção ao servidor e que a Polícia Vivil criou um grupo de estudos para traçar diagnósticos.

CENÁRIO NACIONAL
Em 2018, segundo o boletim do Grupo de estudo e pesquisa em suicídio e prevenção (Gepesp), Minas Gerais foi o terceiro estado com maior número de suicídios de profissionais da segurança pública, com cinco casos. Mesmo número do Distrito Federal.

No total, o boletim registrou 53 casos de suicídio consumado em 2018, mais que o dobro de 2017, quando o total chegou a 25 casos. As tentativas passaram de seis para 14.

Os dados são reunidos através de uma rede de profissionais de segurança pública de todo o país, notificações compartilhadas em grupos de WhatsApp e notícias que saem na imprensa.

Os casos relatados envolvem profissionais das polícias federal, rodoviária federal, civil e militar e bombeiros, relatados em 19 estados. Somando as categorias –suicídio consumado, tentativa de suicídio, homicídio seguido de suicídio e morte indeterminada– o levantamento chegou a 88 casos só no ano passado.

– A gente não pode dizer que foi um aumento nos casos. Pode ter sido um aumento de pessoas falando sobre os casos – explicou Dayse Miranda, coordenadora do grupo.

O perfil traçado pelo boletim indica que, com idade média de 39 anos, homens compõem mais de 80% dos casos de comportamento suicida (suicídio consumado e tentativa) e 75% eram pessoas casadas.

O ranking de suicídios consumados do Gepesp é liderado por São Paulo, com 11 casos, seguido pelo Ceará, com 9. Os pesquisadores, porém, lembram que podem estar subnotificados.

Um relatório da Ouvidoria da Polícia de São Paulo, por exemplo, aponta 45 suicídios de policiais no estado em 2018 –35 PMs e 10 policiais civis. Em 2017, foram registrados 26 casos entre as duas corporações.

– A morte por suicídio ainda é um tabu na sociedade e também na polícia, o que torna mais difícil acessar a esses dados – explicou Fernanda Cruz, uma das pesquisadoras no estudo.

Em Minas Gerais, a ONG Defesa Social desenvolveu o aplicativo Centuryon, que funciona como uma linha de apoio a agentes que buscam ajuda sobre suicídio e saúde mental. O app tem um botão de pânico ligado ao Centro de Valorização da Vida (CVV).

Lançado no final de agosto, até o início da semana, a ferramenta havia passado de 400 usuários.

*Folhapress

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