Estampa da palavra “fé” vira febre entre evangélicos
Desenho teria surgido em uma loja de Campinas, no interior paulista
Jade Nunes - 31/05/2019 13h54 | atualizado em 31/05/2019 14h35






Um camelô no centro de São Paulo organiza roupas em uma arara no meio da rua. Entre modelos de banda de rock e super-heróis da Marvel, ele revela uma camiseta toda preta, estampada com uma cruz branca de ponta a ponta formando a palavra “fé”.
Naquele mesmo quarteirão, outras três lojas oferecem a estampa, mas não só em camisetas. Há acessórios como pochetes e bolsas em exibição e um dos vendedores está usando um boné com o mesmo símbolo.
Desde o fim do ano passado, a “fé” em formato de cruz é febre no vestuário – e na pele – do brasileiro.
– É bem comum, sai muito mesmo – diz o tatuador Paulo Fernando Neto, que já perdeu as contas de quantas vezes tatuou.
Ele conta que antes tatuava mais imagens de santos e de duas mãos juntas rezando.
– A maioria tem crença, mas não são pessoas religiosas, que costumam ser mais sistemáticas em relação a tatuagens.
ORIGEM
Hoje dominando as ruas, o desenho tem origem tão confusa quanto sua propagação. Marcas menores conseguem peças de fornecedores diversos, mas a dona de uma loja em Campinas, no interior paulista, afirma ser a criadora.
– Vi uma camiseta americana com “Jesus” escrito em forma de cruz. Como não fazemos cópias, chamei uma moça que trabalha comigo e saiu a cruz escrito “fé” – diz Kelli Gasques, da Ruah Moda Cristã, que lançou a coleção no último mês de agosto.
– Quando vi pela primeira vez, era um homem com a camiseta. Minha produção é terceirizada, então pensei que meu fornecedor deveria estar fazendo [por conta própria].
Havia, contudo, uma diferença. A figura que a paulista diz ter criado trazia um coração no lugar do acento em “fé”.
Gasques recorda que, meses depois, a estampa estava “em todo lugar que você olhava”.
– Não aguento mais nem ver! Estou enjoada. Tem bijuteria, colar, brinquinho, anel. Até vestido!
Com clientes elitizados e camisetas que saíam por cerca de R$ 80, ela pouco lucrou – e tampouco quis lutar pelos direitos – do desenho.
– Em estampa, por uma coisinha que você muda, podem alegar que é outra coisa. De todo mundo, fui a que ganhou menos dinheiro – diz.
O pastor Luciano Luna conheceu a camiseta quando começaram a aparecer com ela em sua igreja, a Poderoso Deus, em São Paulo. Duas funcionárias próximas dele têm a figura tatuada, mesmo que a prática não seja recomendada pelos evangélicos.
– O corpo não é para ter marcas, mas, óbvio, a pessoa faz o que bem entende. Pelo menos tatuou uma cruz, uma fé.
Mesmo tendo supostamente surgido em uma loja católica, a camiseta se firmou ao conquistar os evangélicos.
Amanda Vieira, sócia da loja virtual Galeria do Cristão, começou a procurar a peça depois que viu fiéis com ela no Rio de Janeiro, onde vive.
– Parecia uniforme. A maioria [do público] é cristão, principalmente evangélico.
MEMES
Até a virada do ano, o consumo da camiseta ainda era restrito.
– Muitas pequenas confecções começaram a fazer mais barato, os clientes [cristãos] pararam de comprar. Acredito também que devido aos memes. No Réveillon, tinha foto de pessoas com a blusa e gente dizendo: “O governo está dando?” – relembra Vieira.
*Folhapress
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