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Paulo Roberto de Araújo explica os tipos de temperamento e suas influências em equipes de liderança

Virgínia Martin - 16/04/2019 18h13 | atualizado em 16/04/2019 18h48

 

Bolsonaro tem perfil dominante, parecido com o apóstolo Paulo Foto: Pleno News

Paulo Roberto de Araújo costuma palestrar para o público interessado em aprender sobre Administração de Liderança e Gestão de Pessoas. O tema chama atenção, principalmente, quando pode destacar elementos da personalidade individual na performance de líderes do governo, por exemplo. Pleno.News conversou pessoalmente com este especialista, que explicou um pouco mais sobre como equipes de trabalho funcionam. Ele fala ainda sobre competências comportamentais, tema com o qual trabalha há 30 anos.

Formado em Administração de empresas, Paulo Roberto especializou-se em Gestão Estratégica de Pessoas, com três formações em Coach. Possui três livros publicados na área de gestão humana e hoje também atua como professor universitário. Mora em Curitiba e é também pastor auxiliar na Igreja Missionária Evangélica Filadélfia.

Sobre o grande desafio de gerir pessoas, de administrar perfis diferentes, qual é hoje a maior dificuldade de um líder?
Penso que uma das maiores dificuldades é entender o comportamento humano, algo altamente complexo. Porque tecnologia a gente domina. Você aprende a lidar com as ferramentas. Agora, o comportamento humano é totalmente imprevisível e o líder precisa entender de pessoas. Sempre comento em meus treinamentos que quem trabalha com gente tem que entender de gente. O líder precisa conhecer os perfis das pessoas que atuam com ele.

Todos nós temos padrões culturais pré-estabelecidos do que seja uma boa pessoa e um bom profissional, por exemplo. Temos uma ideia do que seja um perfil ideal. Então, via de regra, achamos que um sujeito que é muito falante e bem comunicativo vai dar certo na vida. Mas este é apenas um dos perfis. Existem pessoas que são dominantes, pessoas que são influentes, pessoas que são estáveis e pessoas que são mais do perfil de conformidade.

O sujeito que tem perfil de influência, por exemplo, é altamente comunicativo, faz amizade facilmente, trabalha bem em equipe, gosta de pessoas, gosta de festa. É o perfil dele, que tem seus pontos limitantes também. Mas tem o sujeito com o perfil de estabilidade. Ele não é muito falante, gosta de ficar no seu canto, detesta ambientes que tenha muitos conflitos, não trabalha bem sob pressão. Mas ele é altamente produtivo porque tem um raciocínio de metodologia de trabalho. Então, o líder precisa identificar esses perfis. Quando ele faz isso, ele coloca a pessoa certa no lugar certo. Se não, ele tem a tendência de supor que a pessoa boa para trabalhar com ele é aquela que é parecida com ele. E não é. Jesus escolheu 12 homens absolutamente diferentes.

Com relação ao nosso governo e, particularmente, de nosso presidente, qual é o perfil de Jair Messias Bolsonaro?
Para mim, ele é notadamente dominante. O que é um perfil dominante? São pessoas que gostam do poder, gostam de comandar pessoas, são pouco ou quase nada empáticas, são muito objetivas, muito diretas e, por isso, se tornam muito hostis e muito agressivas, muitas das vezes, na maneira de se expressar. Porém, o que eles têm de ponto forte é que são pessoas determinadas, exigentes e entregam resultados de curto prazo. Haja vista a questão da Previdência Social que, não só o presidente, mas sua equipe, pretende concretizar até a metade do ano. Ou seja, eles são objetivos. Assim que enxergam o mundo.

O que causa problema não são as diferenças, mas o modo como lidamos com elas

E sobre a equipe do presidente?
Não é muito difícil, apesar da gente não estar convivendo presentemente, fazer uma análise. Uma das falhas é quando você, na sua equipe, coloca pessoas que pensam como você, que são como você, porque você entende que isso vai somar forças. Porém, em termos de construção, você precisa ter perfis diferentes, entendeu? Você tem que ter aquele sujeito que é dominante, que é influente, que é estável, que é de conformidade. Você tem que ter pessoas diferentes, pois o que causa problema não são as diferenças, mas o modo como lidamos com elas. O que a liderança modelar de Cristo fez? Pegou um pescador que pensa de um jeito e um cobrador de impostos que pensa de outro jeito. Mas foi justamente a conjugação dessas diferenças que tornou o Evangelho acessível à qualquer pessoa, a todas as linguagens e até a todas as culturas.

Até aqui, o senhor acredita que pode dar certo essa configuração de equipe do governo?
Pode dar certo. Quer dizer, o pode sugere que também não pode. Então, pode ser que sim e pode ser que não. É um caminho, pelo menos a experiência geral mostra isso. Gosto muito de fazer analogia com o futebol. Você tem um técnico que é o treinador, que é o líder, e tem um especialista para entrar no campo em cada área. Se você colocar cada especialista na sua área, com as suas características individuais e o seu potencial, você chega ao seu resultado final esperado, que é a vitória, a conquista de um campeonato ou alguma coisa assim.

Bolsonaro se identifica com que tipo de líder na Bíblia?
Com o apóstolo Paulo, que tinha um perfil dominante. Tem um texto bíblico em que Paulo diz no trecho de 1 Timóteo 1:20: “E dentre esses se contam Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para serem castigados, a fim de não mais blasfemarem”. Ele era muito direto, objetivo, determinado, exigente. Era um sujeito de altas qualidades. Quer dizer, Deus escolheu uma pessoa extraordinária.

Porém, o apóstolo Paulo tinha suas limitações. Primeiro, ele brigou com Barnabé por causa de João Marcos. Depois se arrependeu, pediu para João Marcos voltar e tudo mais. O perfil dominante, geralmente, está associado ao temperamento sanguíneo e colérico. Então, eles atiram primeiro, e depois vêem o que vão fazer. Paulo foi assim: brigou com Barnabé, depois com João Marcos, entregou o outro cara para Satanás…

Paulo era duro. Mas por qual razão? Ele era extremamente zeloso. Você pode perceber que, quando ele faz o perfil dos bispos e diáconos, em tudo ele prioriza os aspectos do caráter. Ele não diz que eles devem ter estudado com Gamaliel, que devem ter alguma noção de liderança. O caráter era o foco de Paulo. Pessoas dominantes têm este comportamento.

O apóstolo Paulo tinha suas limitações. Primeiro, ele brigou com Barnabé por causa de João Marcos. Depois se arrependeu, pediu para João Marcos voltar e tudo mais

Fale da importância dos quatro temperamentos.
É algo extraordinário. Hipócrates, o pai da Medicina, já tinha encontrado esse negócio. Segundo ele, nossos temperamentos estão associados à química do corpo. O sanguíneo vem de sangue, sangue quente, sangue que ferve, sangue que corre nas veias. Então, o sanguíneo tende a ser muito emocional. Ele tem muita qualidade, é amistoso, é extrovertido, é expansivo, mas é muito sensível na parte emocional. Na Bíblia, Pedro seria o sanguíneo.

O melancólico vem da biles negra no fígado, segundo Hipócrates. É o sujeito mais introspectivo, é mais idealista, é mais sonhador. Normalmente, são os poetas e os músicos. Um exemplo bíblico é o do rei Davi. Davi tinha esse perfil. Ele era um músico, um poeta, escreveu muito em Salmos. Mas, de vez em quando, tinha seus momentos em que refletia: “Oh, minh’alma, por que você está perturbada dentro de mim?”

O apóstolo Paulo seria o colérico, o temperamento mais difícil que vem, segundo Hipócrates, da bílis amarela do fígado. E você tem ainda o fleumático, que é aquele sujeito tímido. E timidez não é defeito.Tem gente que fala: “Você tem que vencer essa timidez”. É a mesma coisa que você falar para um sujeito rápido: “Você tem que vencer essa tua correria”. Mas não é simples assim. Todos somos reconhecidos por intermédio de nossas características neurais distintas.

André, um dos discípulos de Jesus, parece ter um temperamento fleumático. Porque, tendo em vista a sua característica mais introspectiva, eles tendem a pensar mais. Os sanguíneos falam mais do que pensam. São dois comportamentos distintos. E um líder precisa captar isso. Precisa ser capaz de identificar essas pessoas e fazer o melhor uso das qualidades delas.

Livros lançados:

  • A Bíblia e a gestão de pessoas (Editora AD Santos)
  • A Bíblia e a administração de conflitos (Editora AD Santos)
  • A Bíblia e as competências comportamentais (Editora AD Santos)

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