Rafael Ramos - 30/08/2019 16h10 | atualizado em 30/08/2019 16h24

Vivendo a vaidosa Eugênia, na novela Bom Sucesso, da Rede Globo, a atriz Helena Fernandes revelou, no programa Encontro com Fátima Bernardes, exibido nesta terça-feira (27), que ela foi vítima de abuso sexual aos 14 anos.

– Vivi isso na minha adolescência. Eu tinha 14 anos. E não foi uma vez, foram várias vezes. E dentro da minha casa, que é um lugar que você teria que se sentir segura. Vim de uma família muito pobre e muito desestruturada, então era muito difícil. E sou uma pessoa mais agressiva, mais impulsiva, então a minha defesa é o ataque, desde jovem. Saí de casa com 15 anos. Comecei a trabalhar, tinha dois empregos, estudava à noite. Então, coloquei isso em um outro lugar. Para mim, não foi um problema, porque minha mãe era uma pessoa doente, literalmente. Não adiantava esse diálogo e ela era a única pessoa que eu poderia falar – desabafou.

Infelizmente, o relato da atriz só confirma o que os dados já comprovam. Em maio deste ano, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) revelou, através da Ouvidoria Nacional, que quase 90% dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes são registrados no ambiente familiar. Só em 2018, o Disque 100 registrou mais de 17 mil denúncias, sendo mais de 13 mil referentes a abuso e mais de 3 mil classificados como exploração sexual.

Assim como Helena Fernandes, outros famosos já tiveram coragem de vir a público denunciar casos de abuso como forma de conscientizar a população sobre isso. Em 2012, a apresentadora Xuxa revelou, em entrevista ao programa Fantástico, que sofreu abusos por parte de um padrinho, de um homem que iria casar com sua avó e de um professor até completar 13 anos. Ela disse que o trauma lhe deu forças para lutar pelo direito das crianças.

– Nunca falei nada para ninguém porque tinha vergonha, não sabia o que fazer. Se falasse para o meu pai, ele acharia que a culpa era minha, que eu provocava. Deviam ter notado que havia algo de errado; que eu, sempre muito falante, tinha virado uma pessoa calada. Eu não tinha experiência, não sabia o que fazer. Me calava porque me sentia suja, errada, achava mesmo que a culpa era minha, das minhas roupas, do meu jeito. Até hoje me sinto culpada. Mas a gente não pode pensar assim. Porque uma criança não sabe o que fazer em uma situação dessa – relatou Xuxa na época.

Em 2018, a cantora gospel Marcela Tais também criou coragem e compartilhou sua experiência na infância. Ela relatou nas redes sociais que o abusador foi um “parente confiável”. Apesar de não ter sofrido estupro, ela recorda de “carícias indevidas diversas por um longo período”.

– Durante muitas noites chorando, orei: “Ou isso me mata ou isso me fortalece! Deus, não irei Te culpar embora não compreenda o porquê, mas, se o Senhor prometeu que todas as coisas cooperam para aqueles que Te amam, eu quero uma resposta”. Sem saber, meu ministério havia começado ali – declarou.

A própria ministra Damares Alves, que é responsável pela pasta do MMFDH, foi vítima de abuso na infância por parte de um tio, quando tinha entre 6 e 8 anos de idade. Ela chegou a pensar em tirar a própria vida porque não aguentava mais passar por aquela situação.

– Ele me convenceu de que eu era a culpada, eu achava que Deus estava bravo comigo e, por ser uma menina cristã, era uma dor muito grande pela qual eu achava que não conseguiria passar. Eu queria morrer.

Decidida a minar os casos de abuso no Brasil, Damares, antes mesmo de assumir o cargo à frente do Ministério, avisou aos abusadores de crianças que “a brincadeira no Brasil acabou. O governo Bolsonaro vem para proteger a infância. Nós vamos enfrentar este mal”.

MOVIMENTO #METOO
Os casos de abuso também acontecem na fase adulta e até no ambiente de trabalho. Em 2017, a atriz Alyssa Milano iniciou uma campanha através do Twitter. Ela convocou outras mulheres a responderem “me too” (eu também), caso já tenham sido vítimas de abuso sexual. Em dois dias, a campanha conseguiu mais de 500 mil compartilhamentos.

O #MeToo virou um movimento contra o assédio sexual e a agressão sexual. A iniciativa teve apoio de nomes de peso de Hollywood, como Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow que, juntamente com outras atrizes, trouxeram à tona os assédios cometidos pelo produtor Harvey Weinstein. Um dos profissionais mais influentes da indústria cinematográfica, ele agia há décadas e teve envolvimento até em casos de estupro. Após as denúncias, Weinstein foi demitido do estúdio que fundou e expulso da Academia do Oscar.

Com a repercussão do movimento, o ator Terry Crews, conhecido por sua atuação no filme As Branquelas e na série Todo Mundo Odeia o Chris, denunciou o produtor Adam Venit. Pelo Twitter, Crews contou que estava em uma festa em Hollywood quando o executivo agarrou seus órgãos sexuais.

– Eu entendo e simpatizo com as mulheres que não falam nada por tanto tempo, mas Hollywood não é o único lugar em que isso acontece e Harvey Weinstein não é o único predador no mundo. Espero que, ao ter contado essa história, eu o faça desistir desse tipo de coisa no futuro – comentou na época.

Adam Venit é agente de nomes como Adam Sandler, Eddie Murphy e Sylvester Stallone. Crews prestou queixa na delegacia de Los Angeles e, em 2018, ambas as partes assinaram um acordo.

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