Autores abordam depressão e suicídio em livros
Obras visam alertar, principalmente, para os casos entre crianças e adolescentes
Rafael Ramos - 13/09/2019 18h00 | atualizado em 25/09/2019 10h42
“Aos 12 anos, a vida de Gustavo estava um tanto quanto complicada: problemas na escola, conflitos familiares e uma imensa crise existencial. Cansado de tudo, ele pede a Deus para deixar de existir”. Esse é um breve resumo da história do livro E Se Eu Não Existisse?, da escritora e jornalista Mayara Vellardi. Lançada em 2018, pela Chiado Editora, a publicação é voltada para o público infantojuvenil, mas, segundo a autora, também tem conquistado os adultos.
– Minha maior motivação ao escrever essa obra foi transmitir a mensagem de que problemas existem, mas podem ser superados e todos temos importância no mundo, ou seja, precisamos urgentemente valorizar a vida. Muitos adultos têm lido e se apaixonado pela história do pequeno Gustavo. Os problemas que ele vivencia, a vontade de deixar de existir e a curiosidade em saber o que teria acontecido se ele não existisse, também acontece com muitas pessoas. Por isso, há grande identificação pelo público – disse Mayara ao Pleno.News.

A autora relatou que algumas experiências pessoais ajudaram a compor a história, apesar de ela ser fictícia. Ela acredita que a leitura é um excelente meio de tocar almas e sensibilizar corações. Além do livro, Mayara promove bate-papos em escolas de forma a trabalhar a valorização da vida e alertar os pais para os altos índices de depressão e suicídio entre crianças e adolescentes.
– No bate-papo que eu faço nas escolas com os jovens, pais e profissionais da área da educação, falo que a prática de atividades físicas e artísticas é muito importante e funciona como uma válvula de escape nos momentos de tensão. Acredito que a literatura e a arte têm um papel muito importante na formação de uma sociedade. Escrever esse livro foi uma forma de ajudar as pessoas que estão passando ou que já passaram por situações semelhantes. A história gera empatia e, quando a pessoa consegue se colocar no lugar de outra, a compreensão fica mais fácil e a superação dos problemas também.

O psiquiatra infantil Fabio Barbirato e a médica Gabriela Dias também abordam o tema em O Menino Que Nunca Sorriu e Outras Histórias Reais. Lançado em maio deste ano, pela editora Máquina de Livros, os autores reuniram 32 crônicas reais sobre autismo, depressão, bullying, hiperatividade e outros tipos de transtornos.
Membro da Academia de Psiquiatria Infantil dos Estados Unidos e chefe e fundador do setor de Psiquiatria Infantil da Santa Casa de Misericórdia, Fábio comentou sobre o desenvolvimento do livro durante sua participação na Bienal do Livro, deste ano, no Rio de Janeiro.
– O que mais nos preocupa é quando fazem o diagnóstico da criança por meio de um questionário sem nem vê-la e vejo muito isso em consultórios. Precisamos olhar os sentimentos dela porque o que causa a dor, o sofrimento depressivo ou ansioso são os nossos pensamentos, aqueles que invadem nossas cabeça. É importante não negar, deixar a dor vir, sem evitar, porque, uma hora, ela vai acabar.

Com uma abordagem baseada nos oito anos dedicados a auxiliar pessoas que sofrem de depressão, o cantor, pastor e jornalista Douglas Borges, da Igreja Assembleia de Deus de Goiânia (GO), se prepara para lançar, no dia 20 de setembro, o livro Uma Luz Para Você – A Luta Contra o Suicídio, pela Editora Santorini. Ao longo das páginas, o autor convida o leitor a constatar que esse problema precisa ser enfrentado e que a fé cristã aponta caminhos para superá-lo.
– Idealizei meu livro para crianças a partir de 7 anos até o adulto de 60. Já orei por crianças com desejo de suicídio e tive um aluno de 10 anos que se matou. Então, falo com propriedade e creio que esse livro é um instrumento de cura. A pessoa terá um despertamento e vai entender que ela é uma pessoa especial, que é amada e nunca esquecida por Deus e o quanto ela é importante para a família e para os amigos. Mesmo que ela tenha sofrido traumas, existe alguém que não quer que ela morra porque ela foi criada à imagem e semelhança de Deus – declarou ao Pleno.News.
Trabalhando no auxílio a pessoas com depressão há oito anos, Douglas disse que quebrou um antigo pensamento que havia nas igrejas de que depressão é demônio ou falta de Deus. Além de ouvir as pessoas, ele sempre indica um profissional capacitado para iniciar o tratamento adequado. O pastor acredita que as igrejas estão se sensibilizando acerca do tema que se tornou uma doença patológica.
– No último tópico do meu livro eu chamo a atenção porque muitos pastores estão se matando e entrando em depressão. Uma das coisas que falo é a pressão que eles sentem para serem alguém perfeito. Na verdade, os pastores são homens que erram e pecam. A carga de ser um super-homem acaba sendo dividia com a de ser pai e esposo e, muitas vezes, ele não tem com quem desabafar e se isola em uma depressão muito profunda. Nós temos que parar de enxergar pastores como heróis e entender que eles também são falhos e erram porque são de carne e osso.
BUSQUE AJUDA
No Brasil, o Centro de Valorização da Vida é uma das instituições que dão apoio emocional e trabalham para prevenir o suicídio. Para pedir ajuda ligue para o número 188 ou acesse o site.
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