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A Arte de ser simples

O discurso direto e de fácil assimilação geralmente é o utilizado por pessoas com um profundo domínio do conteúdo

Ney Pereira - 24/10/2017 09h03

Em uma reunião, seja simples. Exponha sua proposta, seu projeto, de maneira objetiva Foto: Pixabay

Cuidado para não deixar sua personalidade em casa toda segunda-feira. Preste atenção neste exemplo:

“… assim podemos identificar, a partir desta esclarecedora análise SWOT, onde se encontram as maiores oportunidades para que atinjamos o market share desejado. Diante de tantas alternativas e, em face de se identificar novos caminhos, sugerimos inicialmente um brainstorm envolvendo o máximo de steakholders possível.

…Todas estas ações justificam o investimento inicial sugerido com um payback de aproximadamente 18 meses. Entregaremos, em momento oportuno, uma checklist com todas as nossas necessidades materiais.”

“Esse rapaz deve ter acabado de fazer MBA. No final da apresentação, vou perguntar aos meus assessores o que ele quis dizer.”

Esse pode ser o pensamento de um empresário, por exemplo, que chegou ao sucesso através de muito trabalho e pouco tempo para investir em sua formação acadêmica ou, ainda, de um executivo sênior que acha simplesmente ridículo o dialeto desnecessário.

Você pode pensar: é, mas, por outro lado, existem muitos outros executivos que entenderiam e se identificariam com esse “idioma”. Certamente que sim. Quando você tiver certeza absoluta de que fará uma apresentação para uma pessoa como essa, utilizar uma linguagem mais “técnica” pode ser natural. Entretanto, não se iluda: a maioria das pessoas definitivamente não entende e/ou não se identifica com essa linguagem.

Talvez o medo de algumas pessoas seja o de ser julgado como simplório ou incompetente (o que isso tem a ver?!) ao se expressarem de maneira simples. Ser simplório significa argumentar sem recursos e sem conhecimento profundo. Ser simples significa utilizar uma argumentação que todos entendam, sem perder o formalismo ou a erudição (cuidado com o exagero!) que o local e/ou ocasião exijam.

O extraordinário está no simples. O discurso direto e de fácil assimilação geralmente é o utilizado por pessoas com um profundo domínio do conteúdo e que, com toda sua genialidade, conseguem transmitir a informação de forma assimilável e, consequentemente, agradável.

A questão de como as pessoas utilizam uma linguagem “diferente” quando estão no mundo corporativo, o “corporativez”, já se tornou alvo de chacota e tema de inúmeros artigos e livros. Brian Fugere, Chelsea Hardway e Jon Warshawsky escreveram uma divertida obra, na qual levantam a questão com muito humor e bom senso: Por que as pessoas de negócios falam como idiotas é o título de obra (Rio de Janeiro: Editora Best Seller, 2007). Precisamos falar mais?

Ops! Já íamos esquecendo a “tradução” do trecho da apresentação transcrita anteriormente:

“…analisando mais detalhadamente, concluímos onde se encontram as maiores oportunidades que nos levem a nosso objetivo: melhorar nosso posicionamento no mercado. Sugerimos ainda reunir o maior número possível de interessados, direta e indiretamente, em nosso negócio, a fim de traçarmos alternativas a partir de novas ideias.

…Todas essas ações justificam o investimento. Acreditamos que em aproximadamente 18 meses obteremos o retorno desejado. Entregaremos em momento oportuno, uma lista com todas as nossas necessidades materiais.”

A dica é: seja simples sem ser simplório.

Ney Pereira é especialista em Marketing e Neurociência Pedagógica. Palestrante, professor e escritor. Coach de professores, executivos, CEOs e palestrantes, e consultor corporativo na área de Apresentações Empresariais, Andragogia e Comunicação Interpessoal. Autor do Programa Professor Nota 10 – EaD – Curso de Capacitação em Comunicação de Professores.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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