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Ideologia já serviu de pano de fundo para filmes e séries

Rafael Ramos - 19/07/2019 14h07

Anarquia prega uma sociedade sem autoridade Foto: Reprodução

Simbolizado por um A envolvido por um círculo, o movimento anarquista se opõe a qualquer forma de subordinação e hierarquia. Como o próprio nome oriundo do grego significa, os defensores dessa ideia política são favoráveis à ausência de governo.

Movimento surgido em 1860, a Anarquia tem seus principais fundamentos nas ideias do alemão Max Stirner, do francês Joseph Proudhon, e dos russos Michael Bakunin e Peter Kropotkin, que captaram as ideias que circulavam entre os trabalhadores. O historiador e professor de história da Universidade Estácio de Sá, Alvaro Artur Guedes de Melo, destaca Proudhon como primeiro pensador a se proclamar anarquista com opiniões que trouxeram as bases imediatas que mostravam como o mundo anarquista poderia funcionar e ser coordenado.

O Anarquismo de Max Stirner baseia-se na filosofia romântica alemã, manifestando-se numa forma de individualismo extremo que colocava o indivíduo acima do Estado, lei, obediência, propriedade o egoísmo. Em suas críticas, atacou igualmente o egoísmo do Capitalismo e do Estado que o apóia, como o Estado socialista. Já para Proudhon, o Capitalismo e o Estado eram as fontes de todos os males sociais. Michael Bakunin desenvolveu as ideias do Anarquismo moderno, defendendo a importância do coletivismo, da insurreição das massas e da revolta espontânea como condições fundamentais para a conquista de uma verdadeira liberdade e de uma sociedade sem classes. Já Peter Kropotkin desenvolveu uma análise das condições modernas do ponto de vista anarquista, elaborando um projeto de transição para uma sociedade anarco-comunista. Para ele, a ajuda mútua era a melhor maneira de existência para os indivíduos, condenando a ideia da competição – resumiu Alvaro para o Pleno.News.

O historiador explica que a Revolução Industrial foi responsável pela mudança radical nas relações de produção. Além do progresso, ela trouxe consigo uma série de problemas para a classe trabalhadora, como inexistência de leis de proteção do trabalhador, as condições sub-humanas de trabalho, a insalubridade dos ambientes das fábricas, as longas jornadas de trabalho não só para homens mas também para mulheres e crianças. Esse conjunto de problemas gerou os primeiros protestos de trabalhadores que começaram a se organizar em associações, que eram duramente reprimidas pela polícia.

Nesse contexto, o Anarquismo é apenas uma dentre outras ideologias de espectro político de esquerda surgidas no século XIX em função dos problemas sociais surgidos com a Revolução Industrial, como o Socialismo, o Marxismo, o Comunismo. Essas ideologias são integrantes do espectro político de esquerda a partir do entendimento de que a Esquerda representa a defesa do igualitarismo e dos grupos sociais sem defesa contra os grandes interesses econômicos. Entretanto, para alguns autores, o Anarquismo não seria de Esquerda, partindo do princípio de que as ideologias de Esquerda pressupõem uma maior presença do Estado. Como o Anarquismo propõe a ausência do Estado, ele não poderia ser uma ideologia de Esquerda. Por ser um argumento que levanta vários pressupostos, fica apenas o registro de que existe essa visão.

Além de serem contrários a qualquer forma de domínio ou autoridade, os anarquistas se apoiam na ideia de propriedade comum e não apenas de uma minoria privilegiada.

POR UMA SOCIEDADE JUSTA
E por falar em minoria privilegiada, eles são contra a disputa entre classes. Visto que as classes sociais já carregam em si a relação de domínio colocando um grupo superior ao outro, os anarquistas defendem uma sociedade igualitária e justa.

A hierarquia presente no sistema também é combatido pelo movimento, que enxerga no capitalismo um grande problema por se apoiar na propriedade privada e no trabalho assalariado. Como os trabalhadores estão ligados à uma empresa, logo haverá uma relação de hierarquia, que vai contra tudo o que eles acreditam.

ANARQUISMO NO BRASIL
Os ideais anarquistas atravessaram a Europa e chegaram ao Brasil por volta de 1850 por intermédio dos imigrantes vindos do Velho Mundo. Tais teorias se difundiram através de livros dos sindicalistas franceses e contaram com o apoio da imprensa.

No período que compreende a República Velha (1889-1930), a ideologia anarquista defendeu a organização sindical autônoma, a extinção do Estado, da Igreja e da propriedade privada. Mas o auge do Anarquismo brasileiro se deu entre o final do século 19 e o início do século 20 conquistando os movimentos operários.

Grupos anarquistas foram responsáveis pelas greves operárias de 1917, em São Paulo, e de 1918 e 1919, no Rio de Janeiro. Hoje em dia, embora existam alguns focos da ideologia no país, os mesmos não possuem forte influência como antigamente.

– Não se pode pensar no sucesso de qualquer ideologia que ameace o modelo burguês-capitalista instalado no Brasil. É preciso lembrar que a social-democracia que, na Europa, geralmente está no espectro político da Centro-esquerda, no Brasil, ocupa o espectro da Centro-direita (Partido da Social Democracia do Brasil – PSDB). E o anarquismo seria contra-atacado como sendo uma ideologia da desordem, da baderna, inadequado para um país que tem a palavra “Ordem” na sua bandeira – concluiu Alvaro Guedes.

O ANARQUISMO NA CULTURA POP

V de Vingança (2005), filme inspirado na obra de Alan Moore Foto: Reprodução

A ideia de uma sociedade sem autoridade já serviu para inspiração de diversos universos distópicos nos quadrinhos, filmes e séries. Um grande exemplo é o filme V de Vingança, dirigido por James McTeigue, em 2005. Na história inspirada na obra de Alan Moore, um vigilante identificado como V atiça o povo britânico a se levantar contra seu governo fascista e totalitário. A máscara usada no filme pelo personagem principal se tornou símbolo da anarquia.

Tyler (Brad Pitt) pretende destruir as corporações em Clube da Luta (1999) Foto: Reprodução

Em Clube da Luta (1999), filme clássico da carreira de David Fincher, os personagens interpretados por Edward Norton e Brad Pitt fundam um clube de lutas secretas para os homens poderem se aliviar das tensões cotidianas. Paralelo a isso, Tyler (Brad Pitt) planeja destruir corporações que induzem as pessoas a uma vida conformista.

Rami Malek questiona a sociedade à sua volta em Mr. Robot Foto: Reprodução

Já na série Mr. Robot, o hacker Elliot, vivido por Rami Malek, quer zerar as linhas de crédito ao redor dos Estados Unidos, como forma de eliminar todas as dívidas da sociedade. Sempre enxergando a sociedade de uma forma completamente pessimista, Elliot compartilha suas angústias e pensamentos sobre o mundo que o cerca.

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