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Se a crise demorar a passar? Geraldo Rufino e Patrícia Lages dão dicas

Especialistas de finanças, de empreendedorismo e de gestão de trabalho orientam sobre as ações necessárias para aguentar firme durante a crise

Virgínia Martin - 08/03/2021 12h00

Geraldo Rufino e Patrícia Lages, dois grandes especialistas em trabalho e finanças
Geraldo Rufino e Patrícia Lages, dois grandes especialistas em trabalho e finanças

Há um ditado popular que diz que “a resistência é o que nos coloca de pé, e a persistência é o que nos move a caminhar”.

Esta reflexão é mais do que verdadeira neste tempo de pandemia e de caos econômico, em que o binômio resistência e persistência tem sido altamente necessário. O que as pessoas pouco analisam, porém, é que crises são cíclicas. Elas vem e vão. O mundo já passou por várias, e a história tem seus registros sobre os desdobramentos pós-eventos. Além disso, períodos de expansão e de contração econômica são naturais aos países em todo o mundo.

Relembre de algumas crises econômicas pelas quais alguns países já passaram entre os séculos XIX e XX.

  • 1929 – A Grande Depressão;
  • 1980 – A crise dos países latino americanos;
  • 1994 – A crise mexicana;
  • 1997 – A crise asiática;
  • 1998 – A crise russa;
  • 2008 – A crise do subprime
  • 2020 – A crise do coronavírus;

Em 1929, por exemplo, a chamada Grande Depressão foi considerada uma das crises econômicas mais avassaladoras que o mundo já tinha enfrentado.

Em 2008, a falência de um dos maiores bancos norte-americanos criou uma gigantesca recessão que teve início nos EUA e se espalhou por toda a Europa. Essa crise ficou conhecida como “subprime”.

E, agora, estamos todos nós envolvidos em uma nova crise que traz temores, insegurança, desemprego, mortes, conflitos… E muitos têm questionado: o que fazer enquanto a crise não passa? E se ela demorar a passar?

Quem já passou por várias crises e guerras possui uma certeza: a pior atitude a ser tomada é não fazer nada até que o período de dificuldade passe. Ou seja, não é prudente esperar até que uma crise termine. Tampouco é inteligente deixar de tomar decisões sobre a própria carreira e economias. A inércia pode se tornar um grande inimigo.

Geraldo Rufino é um destes homens que entende muito bem sobre como superar crises. Nascido em Minas Gerais, ele passou a infância na Favela do Sapé, em São Paulo. Perdeu a mãe aos sete anos de idade, com sete irmãos, e começou a trabalhar com oito anos, ensacando carvão em uma fábrica e, depois, como catador de latinhas, em um lixão.

Geraldo Rufino escreveu dois livros e deu mais de 300 palestras pelo país
Geraldo Rufino escreveu dois livros e deu mais de 300 palestras pelo país

Hoje Rufino é empresário, dono da maior fábrica recicladora de caminhões da América Latina, a JR Diesel, que fatura anualmente R$ 50 milhões de valor bruto e gera 150 empregos diretos. Ele também é palestrante e escritor. Já quebrou seis vezes e, quanto mais crises atravessa, mais resistente e persistente se torna.

Rufino tem a mente de vencedor, com espírito de gratidão, legado deixado por sua mãe. Quando criança, ele e os irmãos montavam carrinhos e os alugavam para outras crianças trabalharem como carregadores em feiras livres. O perfil de empreendedor foi mais forte do que as crises.

Entrevistado pelo Pleno.News, Rufino conta que algumas pessoas perguntam como é ter nascido pobre. E ele responde que dizer que ele nasceu pobre é um equívoco.

– Eu morei na favela. Perdi minha mãe com sete anos e meio. Eu ensacava carvão, trabalhei no lixão, catava latinha, vendia limão, mas eu nasci rico. Eu só não tinha dinheiro.

Dedicação, simplicidade, humildade e aceitação do que tinha a fazer era o que o menino Rufino tinha em mãos e na mente.

– Tinha carvão pra ensacar, eu ensacava carvão. Então, eu ganhava dinheiro. Eu era feliz. Dava pra comprar pão. Depois, tive uma oportunidade melhor. Fui catar latinha. Aí eu já tinha pão e consegui comprar a mortadela pra colocar dentro do pão. Consegui melhorar. E assim sucessivamente.

O empresário é respeitado por todos no mundo dos negócios e é também conhecido por suas lives chamadas de SEGUNDOU. Ele palestra em TEDs por todo o Brasil e dá aulas em seu curso Superando Crises. Sobre seu passado, ele afirma que consegue enxergar a vivência, a experiência e o aprendizado como anticorpos que adquiriu.

Eu ensacava carvão. Trabalhei no lixão, catava latinha, vendia limão, mas eu nasci rico. Eu só não tinha dinheiro

Aos 62 anos, Rufino é um canhão de motivação. Diante da pandemia que tem assustado e paralisado o público brasileiro, ele insiste em ajudar as pessoas e em quebrar alguns paradigmas; um deles é o de que antigamente as coisas eram mais fáceis.

– Os tempos não são difíceis, os tempos são diferentes. É um equívoco quando as pessoas dizem “ah, mas naquele tempo, nesse tempo…” O tempo muda todos os dias.

Valores e propósitos são termos inegociáveis para o empresário. No vídeo feito por Rufino especialmente para o Pleno.News, ele também destaca que seu propósito sempre foi contribuir e somar na vida das pessoas. Ele não se acha maior nem menor que ninguém. E estimula as pessoas a serem como locomotivas durante esta travessia decorrente da pandemia.

Não importa quando a crise vai acabar ou se ela vai passar. O que importa é o seu propósito, o seu sentimento, a sua vontade de fazer

Para os que estão confusos sobre como agir enquanto a crise não passa, Rufino aconselha: “Tira a expectativa”. E explica que, quando não há expectativa, não ocorre a decepção.

– Se a crise vai durar, se não vai durar… A crise nunca sumiu, ela nunca fugiu, ela só mudava de lugar. E nós passamos por tudo isso com a nossa resiliência, com a nossa fé, com a nossa determinação, com o nosso empreendedorismo. Então, não importa quando a crise vai acabar ou se ela vai passar. O que importa é o seu propósito, o seu sentimento, a sua vontade de fazer.

Com toda sua experiência de vencedor, Rufino orienta que as pessoas não têm que esperar a crise passar. Precisam é se transformar diante de cada crise que aparece. O que importa não é o prazo da crise, mas o tamanho da fé, da força, da determinação e do propósito de cada um.

Rufino é admirado por muitos, como Joel Jota, grande atleta e especialista em performance humana
Rufino é admirado por muitos, como Joel Jota, atleta campeão e especialista em performance humana

Já Dani Teixeira trabalhou como funcionária pública durante muitos anos até que decidiu pedir demissão e iniciar seu próprio negócio com a cara e com a coragem em 2015. Hoje ela atua no ramo de mentoria, ajudando as pessoas a se reinventarem em sua vida financeira e profissional. Para ela, a crise é um recado para que todos saiam da acomodação e reinventem-se sempre.

– Em vez de querer voltar ao normal, o melhor seria se perguntar: quais são os novos hábitos e rotinas que eu tenho que cultivar a partir de agora para que, estando mais em casa (ou não), eu possa ter uma vida mais feliz e saudável?Quanto maior a chance de fazer essa mudança interna e ter um novo olhar sobre a vida daqui para frente, melhor será.

A ex-funcionária pública reconhece que a pandemia trouxe muitas perdas emocionais, econômicas, financeiras, relacionais. Mas garante que, quando a pessoa é boa no que faz, ela consegue reposicionar-se sempre. Ou seja, consegue entregar o produto ou o serviço com novas estratégias, seja de forma remota ou não, utilizando plataformas e redes sociais.

– Depois da pandemia, você vai conseguir continuar escalando o seu produto, provavelmente de forma híbrida (online e físico). E vai se tornar um profissional mais forte.

Anualmente, Dani Teixeira palestra no Profissão Coah, sempre com uma média de 2 mil pessoas
Anualmente, Dani Teixeira palestra no Profissão Coach, sempre com uma média de 2 mil pessoas

Com a pandemia, a aceleração do mundo digital se intensificou. O que demoraria 10 anos para acontecer, ocorreu em um ano. E cada vez que as pessoas se adaptam e tiram proveito desta mudança tecnológica, mais chances têm de obter boa performance e bons rendimentos.

– Agora, se você ficou em casa, se o seu produto é especificamente entregue de forma presencial… Vamos dar um exemplo: você é um fisioterapeuta, você é um farmacêutico, ou seja, independente da sua profissão, você precisa entregar o seu produto só de forma presencial, então, minha dica é você usar alternativas que pode encontrar nas redes sociais para divulgação do seu produto. Faça um videozinho explicativo dizendo o que você faz, o que você entrega, como você pode ajudar aquela pessoa… Eu creio que quem conseguiu, de alguma forma, promover-se online, vai ter chance de se tornar um profissional mais reposicionado depois.

Quando o tema é educação financeira, Patrícia Lages é uma das players do mercado que traz orientações assertivas, principalmente neste período prolongado de pandemia. A jornalista paulistana tem 5 livros lançados sobre finanças pessoais e empreendedorismo, todos best-sellers que já ultrapassaram a marca de 1 milhão de exemplares vendidos. Patrícia comanda seu canal Bolsa Blindada e tem uma coluna no portal R7 e um painel dentro do Jornal da Record, onde fala sobre finanças.

Em entrevista ao Pleno.News, Patrícia orienta sobre o que fazer com o orçamento pessoal e alerta sobre a necessidade de não depender de uma única entrada de renda, especialmente diante de momentos de incertezas no mercado de trabalho. Ela ainda ressalta que o Brasil já vinha passando por crise financeira mesmo antes da pandemia e que, por exemplo, o número de inadimplentes passa da casa de mais de 60 milhões. Ou seja, muita gente já perdeu o poder de pagamento das próprias contas e está com o nome sujo.

Toda segunda-feira é o dia da Patrícia Lages apresentar o JR Dinheiro no Jornal da Record
Toda segunda-feira, Patrícia Lages apresenta o JR Dinheiro no Jornal da Record

– Devemos focar em ter maior controle sobre a nossa renda e não depender de que ela esteja totalmente na mão de terceiros. O que isso quer dizer na prática? Vamos supor que uma pessoa trabalhe fora. Ela tem um emprego e ela depende 100% da renda que aquele emprego traz. Da noite para o dia, nada impede que ela perca esse emprego; então, o controle da renda dela está muito na mão de terceiros, e o que ela precisa fazer é recuperar o controle ou manter um certo controle sobre a própria renda.

Como agir para recuperar este controle? A educadora explica que é necessário criar uma alternativa de renda extra. Trabalhar em paralelo, a fim de construir uma nova geração de renda que dependa apenas dela mesma e que não esteja integralmente na mão de terceiros. O ideal é que a pessoa não esteja tão dependente de uma empresa, por exemplo.

– Se uma pessoa tem um emprego hoje, ela tem uma renda. Mas depende 100% dessa renda. A dica é que ela vá buscar fazer uma renda extra, alguma coisa que, no caso de ela perder o emprego, não fique 100% sem renda.

Em tempos de crise e de instabilidade profissional e financeira, Patrícia adverte que não se deve “colocar todos os ovos dentro de apenas uma cesta”. Se a cesta cai no chão, todos os ovos podem se quebrar de uma só vez. Com visão proativa, complementada com prudência, a escritora aconselha a busca de uma segunda fonte de renda. O foco em diversificação de renda vai funcionar justamente para o caso de faltar uma renda.

E para quem está sem emprego? Que o foco possa ser ampliado. É legítimo continuar buscando uma colocação [no mercado de trabalho] no formato CLT, mas sem perder de vista que é possível gerar renda independente, sem ficar na dependência de uma única entrada de dinheiro.

Na economia mundial, os impactos da pandemia foram devastadores. Segundo o FMI, “nenhum país foi poupado”, tanto em economias avançadas quanto em países emergentes e em desenvolvimento.

No Brasil, só em 2020, como reação aos problemas gerados pela crise, ocorreu o registro de maior número de empreendedores no país. Não que isso represente necessariamente uma vocação do brasileiro, mas sim uma atitude de urgência frente aos impactos financeiros sobre cada família.

Somente nos nove primeiros meses de 2020, segundo a Agência Brasil, o número de Microempreendedores Individuais (MEIs) no país cresceu 14,8%, em comparação ao mesmo período do ano passado, chegando a 10,9 milhões de registros.

Mesmo diante deste panorama nacional de procura por soluções, Leandro Marinho, gerente de atendimento do Sebrae/Rio, conhece muitas histórias de pessoas que buscaram empreender, mas de forma errada, sem preparo e segurança. Ao Pleno.News ele enfatiza que empreender não deve ser uma aventura.

– Empreender pode ser uma alternativa, mas é preciso cuidados para otimizar suas reservas e seus recursos, a fim de empreender com segurança.

Nazareth Ribeiro: "Não podemos parar de utilizar o cérebro, pois isso atrofia os seus sistemas neurais"
Nazareth Ribeiro: “Não podemos parar de utilizar o cérebro, pois isso atrofia seus sistemas neurais”

Com 35 anos de profissão, a neuropsicóloga Nazareth Ribeiro estuda o cérebro humano utilizando várias técnicas e ferramentas para avaliação e tratamento, como o neurofeedback. Ela também trabalha com profissionais que buscam alta performance em suas atividades e entende bem como os neurônios podem favorecer o processo de superação diante de uma dificuldade que custa a passar.

Para Nazareth, que também possui doutorado pela ESC Rennes (França) e é professora de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a crise causada pelo coronavírus vai passar. Mas, enquanto não passa, não é válido ficar em casa esperando a “banda passar”. Em casa, todos se protegem seguindo os protocolos de segurança para Covid-19, porém é preciso ativar o cérebro como se fosse um fitness mental.

– Necessitamos estar sempre treinando nossos circuitos neurais. Há vários conceitos da neurociência que mostram que não podemos parar de utilizar o cérebro, pois isso atrofia os seus sistemas neurais, responsáveis pelas funções executivas: foco, atenção, planejamento.

A neuropsicóloga orienta sobre atividades simples ou complexas que podem ajudar a manter a mente bem treinada, mesmo quando há adversidades. Ela indica que é possível usar o sistema neural até no preparo da comida, quando cada atividade deve ser planejada. E, até mesmo quando cortam os legumes, as pessoas devem cortar em tamanhos iguais, com processo de separação e preparo dentro de uma logística organizada. Atividades mais básicas podem ajudar a exercitar os circuitos neurais. Quando as atividades complexas aparecerem, a mente já estará melhor preparada.

Enquanto a crise não passa, necessitamos estar sempre treinando nossos circuitos neurais

Meditação é outra indicação de Nazareth, já que a ansiedade pode transformar desgaste emocional em falta de criatividade e produtividade. Para turbinar o cérebro e performar melhor, meditar deve fazer parte da rotina individual.

Respiração consciente é feita com bom uso do diafragma, área próxima ao estômago, entre a barriga e o peito. A neuropsicóloga explica esse método em seu canal no Youtube e garante que respirar conscientemente pode trazer tranquilidade, capacidade de relaxamento, sono restaurador. A partir daí, cada pessoa terá melhores recursos para lidar com as instabilidades durante esta pandemia, seja por quanto tempo mais ela possa durar.

RECURSOS DE APOIO PARA SE ORGANIZAR

Confira essa lista com 4 aplicativos que você pode utilizar para auxiliar na organização de suas finanças;

1 – Minhas economias

Logo Minhas economias

Disponível para Android e IOS, o aplicativo permite que o usuário insira manualmente seus ganhos e gastos e categorize-os. Além disso, também é possível organizar as metas e fluxo de caixa no aplicativo.

Todas as funções do App disponibilizam gráficos e relatórios para serem analisados e há também um sistema que calcula o quanto falta para a realização das metas do usuário. Um comparador de fundos de investimentos também está disponível no Minhas Economias.

2 – Guia Bolso

Guiabolso- Finanças pessoais

O aplicativo permite a sincronização com a conta bancária do usuário, registrando e categorizando os gastos e ganhos automaticamente, além de permitir a análise dos dados por meio de gráficos.

Por meio da sincronia bancária, também é possível realizar transferências por meio do app, que também conta com uma área de prestação de serviços, como empréstimos, seguros, cartões e investimentos.

3. Spendee

Ideal para quem pretende organizar também carteiras virtuais e criptomoedas, o Spendee permite ainda o compartilhamento de dados e possui interface customizável, possibilitando até mesmo que o usuário adicione fotos aos gastos. O aplicativo também gera alertas customizados com base nos dados do usuário, além de reconhecer diversas moedas e de conectar-se às contas bancárias e aos cartões de crédito.

4. Planilhas Google

Planilhas Google

O Google Drive oferece uma série de modelos prontos de planilha, inclusive com temática financeira. A opção pode ser uma alternativa para quem prefere preencher os ganhos e os gastos de forma manual, mas, ainda assim, pode contar com balanços e gráficos periódicos.

São disponibilizadas uma versão de planilha mensal e uma anual, com liberdade para acrescentar, na versão mensal, até 3 categorias personalizadas e com a possibilidade de alterar as outras.

Para utilizá-las, basta acessar o Google Drive, clicar na palavra “novo”, posicionar o cursor do mouse sobre a seta ao lado do ícone das Planilhas Google e clicar na opção “com base em um modelo”.

Por ser uma planilha, o usuário pode personalizá-la da maneira que quiser, mas é necessário ter cuidado para não alterar o código de alguma célula sem ter o conhecimento adequado. Isso pode inutilizar a planilha.

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