Psicólogos assinam manifesto contra o aborto
Carta de Posicionamento do CFP a favor do aborto provoca reação de psicólogos de todo o país
Virgínia Martin - 23/08/2018 08h54 | atualizado em 23/08/2018 09h09
Recentemente, um grupo de psicólogos apresentou o manifesto: Psicólogos do Brasil em Favor da Vida. A iniciativa foi uma resposta ao Conselho Federal de Psicologia (CFP) que apresentou uma Carta de Posicionamento, afirmando que o Conselho era a favor da legalização do aborto no Brasil.
O documento do CFP foi entregue na audiência pública realizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, no dia 6 de agosto. Na ocasião, a Ministra Rosa Weber, relatora da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, tratava da descriminalização e legalização até à 12a semana de gravidez.
Foi imediata a reação da comunidade de psicólogos do país. Muitos grupos de profissionais mostraram-se descontentes, já que nenhum deles tinha conhecimento de qualquer consulta neste sentido de posicionamento. Todos se uniram a fim de tomar uma atitude e tornar pública a verdade dos fatos: o Conselho estava assumindo um posicionamento absolutamente à revelia de seus representados.
As ações para execução do manifesto foram encabeçadas pelo psicólogo Paulo Pacheco, que acompanhou a reação de milhares de psicólogos pegos de surpresa, o que gerou um manifesto com 3.955 assinaturas. O documento foi entregue à Ministra Rosa Weber, a políticos brasileiros, aos meios de comunicação social e ao próprio CFP. Um dos interesses mais significativos dos que assinaram foi tornar público o fato de que o CFP não representa os psicólogos do país e que o posicionamento assumido na Audiência Pública não é o posicionamento de todos.
Na manifestação de repúdio, o grupo destaca que a “posição política e ideológica do Conselho Federal de Psicologia não encontra respaldo na maioria dos psicólogos brasileiros”.
Acesse o Manifesto Psicólogos Brasileiros em Favor da Vida.
Cursos de Psicologia
Há 17 anos, Paulo Pacheco vem se dedicando quase que exclusivamente, na academia – como professor e pesquisador -, à investigação do estatuto epistemológico da Psicologia. Como psicólogo, com doutorado e pós-doutorado, ele tem revelado sua preocupação ao perceber o impacto que o posicionamento ideológico do CFP vem tendo sobre a formação dos jovens psicólogos.
– Toda a pauta hipermoderna que a autarquia costuma panfletar não fica restrita apenas ao policiamento das consciências de seus “representados”, mas avança para dentro das salas de aula de todos os cursos de Psicologia do país, na medida em que, não somente dão as diretrizes do como e com o quê – em termos de literatura e referências “intelectuais” – formar os profissionais, como também estabelecem os critérios através dos quais os professores são escolhidos, seja nas universidade públicas, seja nas privadas.
Pacheco observa que cursos de Psicologia estão passando por reestruturação e acabam se tornando em uma espécie de centro de formação de militantes de movimentos sociais os mais variados, sejam feministas, abortistas, relativistas. Segundo sua análise, estão eliminando da formação do psicólogo a totalidade das disciplinas filosóficas, por um lado, e diminuindo as disciplinas objetivas, de caráter mais naturalista, ao nível do inofensivo.
– Com isso, retiraram da formação do profissional qualquer possibilidade de o aluno se deparar com critérios racionais, lógico-formais e verdadeiramente científicos para o enfrentamento, em primeira pessoa, dos absurdos temas que, em ritmo de lavagem cerebral, são repetidos como uma ladainha em sala de aula por praticamente todos os professores que ali permanecem.
A avaliação do psicólogo incomodou a classe acadêmica. Desligado da vida universitária, permaneceu com atenção acurada ao que o Conselho vinha fazendo em termos de disciplinamento, orientação e fiscalização, de caráter técnico, do exercício da profissão. Pacheco nota que o CFP já age no sentido de “fiscalizar as consciências, orientar o pensamento e disciplinar os valores em conformidade com uma agenda ideológica travestida de ‘construção de referências e estratégias de qualificação para o exercício profissional”.
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