Leia também:
X Fila em busca de emprego chega a dar volta em estádio

Pr. Vargens reflete sobre trabalho e prosperidade

No dia do trabalhador é importante pensar sobre as raízes do "jeitinho brasileiro" e batalhar por crescimento pessoal

Pleno.News - 01/05/2018 11h49 | atualizado em 01/05/2018 11h50

por Renato Vargens

O catolicismo vivenciado por Portugal foi o pior tipo de catolicismo existente. Os portugueses do século 19 eram extremamente religiosos, místicos, e absolutamente avessos ao desenvolvimento da ciência.

Um exemplo claro disso se deu quando Dom José, herdeiro do trono português contraiu varíola. Sua mãe, D. Maria I, por motivos religiosos proibiu com que o rapaz recebesse a vacina que poderia livrá-lo da morte. A crença popular era de que não cabia a ciência interferir no processo de vida e morte de quem quer que seja.

Para piorar a situação, Portugal foi o último país europeu a abolir a inquisição. Além disto, numa época de grandes descobertas, os patrícios não produziram um cientista e intelectual sequer.

Sem sombra de dúvida, dentre as nações europeias, Portugal foi a mais decadente e a mais avesso à modernização dos costumes e das ideias. A riqueza portuguesa não era resultado do trabalho e sim do dinheiro fácil extirpado das colônias.

Além disso, numa época em que a revolução industrial começava a redefinir as relações e o futuro das nações, os portugueses ainda estavam presos ao sistema extrativista o qual tinha construído sua efêmera prosperidade.

Junta-se a isso, que o conceito reinante de prosperidade estava relacionado a ausência do trabalho, até porque, para os portugueses radicados no Brasil, trabalhar era função exclusiva dos escravos, cujo comportamento deveria ser absolutamente diferente dos fidalgos.

Entrelinhas, a ideia que se dava é que a prosperidade não era consequência direta do trabalho do indivíduo e sim da exploração do sacrifício alheio, o que indiretamente ocasionava à população a ideia de que sem ter bons padrinhos ou ter nascido em berço de ouro, dificilmente
se experimentaria prosperidade financeira.

Além disso a crença mística de que os santos católicos intervinham nos dramas humanos corroborava com a concepção de que os cidadãos brasileiros deveriam esperar dos céus as suas riquezas.

Ouso afirmar que a Teologia da Prosperidade encontrou na cultura brasileira o campo ideal para o desenvolvimento de suas doutrinas, até porque, para os adeptos de tal filosofia a prosperidade não se dá exclusivamente pelo trabalho, mas sim pela intervenção milagrosa de Deus mediante decretos e determinismos humanos.

Tenho a impressão de que o inconsciente coletivo nacional está pautado na ideia de que se é possível ser rico sem trabalhar. Talvez seja esta uma das razões para termos tantas loterias e raspadinhas espalhadas por este país. Sem sombra de dúvida afirmo que os cidadãos tupiniquins almejam por prosperar, no entanto, para estes, essa prosperidade não pode em hipótese alguma relacionar-se com o trabalho, até porque, é muito mais fácil e rápido usar de subterfúgios mágicos com vistas ao enriquecimento, do que passar anos a fio dedicando-se ao batente.

Calvino acreditava que o homem possuía a responsabilidade de cumprir a sua vocação através do trabalho. Na visão de Calvino, não existe lugar para ociosidade em nossas agendas. E ao afirmar isto, o reformador francês, não estava a nos dizer de que homem deva ser um ativista, ou até mesmo um tipo de workaholic. Na verdade, Calvino acreditava que a prosperidade era possível desde que fosse consequência direta do trabalho.

Acredito profundamente que se quisermos construir um país decente e sério, necessitamos romper com alguns paradigmas que nos cercam. Nações bem-sucedidas são aquelas que se empenham na construção de valores e conceitos como honestidade, equidade, ética e retidão. Infelizmente no país do jeitinho, o trabalho nem sempre é visto com bons olhos, até porque na perspectiva tupiniquim, trabalho foi feito para gente miserável e desqualificada que precisa sobreviver.

Isto posto, gostaria de lhe dar duas dicas, que possivelmente não o enriqueça, mas com certeza o ajudará a viver a vida com dignidade.

1. Aumente sua escolaridade
Uma das principais marcas de um povo desenvolvido é educação.

Infelizmente por fatores diversos, milhões de pessoas em nosso país vivem à margem da sociedade simplesmente pelo fato de terem abandonado a escola. Tenho plena convicção que ao voltar a sala de aula o crente será abençoado por Deus dando-lhe assim novas ferramentas que o ajudarão a experimentar a tão sonhada prosperidade.

2. Melhore qualificação profissional
Prosperidade se dá mediante o trabalho. Invista na sua profissão. Faça cursos, participe de simpósios, leia muito e aprenda com quem sabe.

Nesta perspectiva, seja o melhor sapateiro, eletricista, pedreiro, médico, dentista, advogado, professor e experimente das bênçãos do Senhor.

Isto posto, afirmo que o tempo de mudarmos nossos conceitos e valores é este. Além é claro de semear no coração, do crente em Jesus, a ideia de que o trabalho é reflexo de uma grande bênção divina; o qual deve ser valorizado e dignificado.

Renato Vargens é pastor sênior da Igreja Cristã da Aliança em Niterói, no Rio de Janeiro e conferencista. Pregou o evangelho em países da América do Sul, do Norte, Caribe, África e Europa. Tem 24 livros publicados em língua portuguesa e um em língua espanhola. É também colunista e articulista de revistas, jornais e diversos sites protestantes.
Siga-nos nas nossas redes!
Telegram Entre e receba as notícias do dia Entrar no Grupo
O autor da mensagem, e não o Pleno.News, é o responsável pelo comentário.