Rui Falcão desafia grupo de Lula e se candidata à presidência do PT
Deputado entra no páreo com discurso que se contrapõe ao do ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva
Pleno.News - 09/04/2025 20h09 | atualizado em 10/04/2025 10h00
O deputado federal Rui Falcão (PT-SP) lançou, nesta quarta-feira (9), sua candidatura à presidência do Partido dos Trabalhadores (PT) com um discurso que se contrapõe ao do ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva, nome apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para comandar o partido. A entrada de Falcão no páreo atrai o apoio da esquerda do PT, mas também desafia o grupo de Lula, uma vez que a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB) está rachada.
– Minha candidatura não é contra Edinho nem contra Lula, tanto que estou empenhado na reeleição dele, em 2026. Mas queremos uma reconexão com a nossa base social. O PT não pode ser um partido só de parlamentares, tendências e chefes do Executivo – disse o deputado.
Falcão já presidiu o PT nos anos 90 e também de 2011 a 2017. Sob o slogan “Pela base, construir a esperança”, o lançamento de sua campanha ocorre em um momento de contestação da candidatura de Edinho por parte de uma ala de sua própria corrente, a CNB, que quer manter a tesoureira do partido, Gleide Andrade. Edinho não aceita, sob o argumento de que é preciso renovação na Secretaria de Finanças.
A disputa no PT tem até mesmo denúncias de abuso do poder econômico, prática que o partido sempre condenou. Em ofício endereçado à cúpula da sigla, o dirigente Valter Pomar – que registrou sua candidatura à presidência do PT pela tendência Articulação de Esquerda – quis saber se o Diretório Nacional estava pagando jatos para o ex-prefeito de Araraquara fazer viagens de campanha.
Após a negativa do senador Humberto Costa, presidente interino do PT, e da tesoureira Gleide, Pomar não deixou por menos.
– Tendo em vista a ênfase que Edinho vem dando ao tema da tesouraria do partido, imagino que ele compreenda a necessidade de ser transparente nesta e noutras questões – escreveu.
E completou:
– Afinal, a democracia petista não rima com abuso de poder econômico nem com dinheiro de empresários interferindo no PED – disse, numa referência ao Processo de Eleições Diretas, com voto dos filiados, que escolherá a nova cúpula petista.
Edinho não quis se manifestar. Falcão, por sua vez, disse que não cabia a ele responder ao questionamento. As eleições que vão renovar o comando do PT, em todo o país, estão marcadas para 6 de julho e as inscrições de candidaturas podem ser feitas até maio. Além de Edinho, Falcão e Pomar, o outro postulante a comandar o PT é Romênio Pereira. Atual secretário de Relações Internacionais do partido, Romênio integra a corrente Movimento PT.
Em 2022, tanto Edinho como Falcão foram coordenadores da campanha de Lula. Os dois, no entanto, têm visões opostas sobre os rumos do partido e do governo.
O ex-prefeito de Araraquara defende a aproximação do PT com o centro político.
– Estou otimista na nossa capacidade de furar a bolha da polarização. Temos de fazer um esforço para aprofundar o diálogo com quem não está conosco – argumenta Edinho.
Na outra ponta, Falcão afirma não ser possível “fazer média” com os adversários.
– O que quer dizer o fim da polarização? Estamos num embate com a direita. É preciso quebrar o ovo da serpente. O fascismo prosperou onde as pessoas foram repelidas da política – destacou o deputado.
E continuou:
– Não podemos perder a identidade do PT nem nos transformar em um braço institucional do governo – apontou.
Antes mesmo de Gleisi Hoffmann deixar a presidência do PT, há um mês, para assumir a Secretaria de Relações Institucionais – ministério que cuida da articulação do governo com o Congresso -, a disputa nas fileiras do partido já indicava conflitos intransponíveis.
Embora um dos focos da briga seja o controle da tesouraria do PT, que tem a chave do cofre onde são depositados os fundos partidário e eleitoral, uma soma de quase R$ 800 milhões por ano, o racha é também sobre a concepção de país e o futuro do PT pós-Lula.
Nesse embate há não só acusações de filiações em massa no partido, uso da máquina pública e até de recursos empresariais para a obtenção de votos em favor de determinado candidato como uma queda de braço para ver quem comandará a campanha por um novo mandato de Lula, em 2026, ou mesmo quem será seu herdeiro político.
Até agora, porém, esse nome está longe de ser construído.
*AE
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