Presidente do conselho do BB renuncia e critica Bolsonaro
"Restrição inaceitável", escreveu o executivo em carta de renúncia
Pleno.News - 02/04/2021 13h41 | atualizado em 02/04/2021 15h47
Hélio Magalhães, agora ex-presidente do Conselho de Administração do Banco do Brasil (BB), entregou sua carta de renúncia, tornada pública na noite da quinta-feira (1). Depois dele, foi a vez do conselheiro José Guimarães Monforte, também ex-Citi, apresentar suas razões para abrir mão do assento que ocupava.
A série de renúncias vem na esteira da nomeação de Fausto Ribeiro para a presidência do BB no lugar de André Brandão, que entrou em rota de colisão com o Palácio do Planalto após lançar plano de enxugamento da instituição.
– As circunstâncias, representadas por restrição inaceitável a atos da administração, emergiram e impedem efetivar medidas que visam realizar avanços na direção de ganhos de eficiência. Acredito também que o processo de sucessão na liderança de empresas, principalmente nas de capital aberto, não deve ser feito somente porque se detém o poder para fazê-lo – afirma Monforte em trecho da sua carta de renúncia.
Monforte ocupou a posição por pouco mais de um ano. Brandão, que deixou o posto em março, esteve à frente do BB por cerca de seis meses.
O plano (que previa o fechamento de diversas agências e a redução da força de trabalho por meio de um plano de demissão voluntária) havia sido anunciado em janeiro e foi bem recebido no mercado, que interpretou a movimentação como um alinhamento da instituição bicentenária ao modelo de gestão empregado nas grandes instituições privadas, para fazer frente ao cenário competitivo que se desenha com a entrada das fintechs na disputa pela clientela. Mas desagradou ao presidente da República, Jair Bolsonaro, e culminou na debandada de executivos.
– Tenho participado, há alguns anos, de tormentosa jornada na busca da evolução da governança das empresas estatais. Muitos avanços foram conquistados (não todos os pretendidos), mas conviver com retrocesso estabelece o limite que estou disposto a aceitar – acrescentou Monforte, na carta, datada também de 1º de abril.
Em sua carta de renúncia, o presidente do colegiado, Hélio Magalhães disse ter tomado a decisão em razão do “reiterado descaso com que o acionista majoritário vem tratando não apenas esta prestigiada instituição, mas também outras importantes estatais de capital aberto e seus principais administradores”.
– No caso do BB, me refiro às tentativas de desrespeito à governança corporativa, ainda que frustradas pela atuação diligente deste conselho e pela higidez dos mecanismos de governança da companhia. Como exemplo, cito as interferências externas na execução do plano de eficiência da companhia, aprovado por este conselho e obviamente necessário para adequá-la aos novos tempos e desafios do setor. Ato contínuo, renovo meu protesto ao rito de escolha do novo presidente do banco, o qual simplesmente não considera o desejável crivo deste conselho, vez que baseado em legislação anacrônica e contrária às melhores práticas de governança em nível global – disse Magalhães.
Magalhães protestou ainda contra o rito de escolha do novo presidente do banco, “o qual simplesmente não considera o desejável crivo deste conselho, vez que baseado em legislação anacrônica e contrária às melhores práticas de governança em nível global”.
*Estadão
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