Presidente da Frente Evangélica: Lula não entende evangélicos
Gilberto Nascimento reforçou dificuldade do governo de dialogar com público evangélico
Paulo Moura - 27/06/2025 12h50 | atualizado em 27/06/2025 13h05

O presidente da Frente Parlamentar Evangélica (FPE), deputado Gilberto Nascimento (PSD-SP), afirmou que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem dificuldades estruturais para dialogar com os evangélicos. Na visão dele, o principal motivo é o alinhamento do governo com pautas que colidem diretamente com os valores defendidos pelas igrejas. A declaração foi feita em uma entrevista à revista Veja.
– Lula faz um governo que, infelizmente, é muito diferente do que nós, evangélicos, pensamos. Olhe a pauta internacional. Ela acaba sendo muito simpática a inimigos de Israel, como a Venezuela e o Irã, nações que historicamente perseguem cristãos. Alguém pode até dizer: “Mas o Lula prega a liberdade religiosa”. Só que, ao mesmo tempo, ele apoia países que não agem dessa forma. E isso ecoa no eleitorado – dispara.
Para o parlamentar, a rejeição ao presidente nas igrejas não se limita à pauta de costumes. Ela também vem sendo alimentada pela percepção econômica ruim que predomina hoje entre os fiéis.
– Os evangélicos vão ao mercado, ao posto de gasolina, e constatam que a situação econômica está difícil, que os preços estão aumentando (…). Além disso, Lula demonstra dificuldade de entender esse eleitorado. Quando surgiu Bolsonaro, com um discurso mais conservador e afinado com a cabeça evangélica, muita gente se ligou a ele e deixou Lula de lado – diz.
Questionado sobre a estratégia do PT, que tem tentado criar pontes com esse eleitorado por meio de cursos de formação interna, Nascimento é taxativo ao dizer que dificilmente a aproximação será bem-sucedida.
– Estamos tratando de um grupo inteligente, que sabe muito bem quão difícil é para uma legenda mais liberal na agenda dos costumes ir a uma igreja e dizer: “Agora nós estamos nos mexendo para falar com você, fiel”. Não vai funcionar. Uma coisa é quando você é irmão, tem certos compromissos e responsabilidades. Outra, é mudar a linguagem, mas seguir na mesma tecla ideológica – destaca.
O deputado também aponta que as tensões não são resultado apenas de falhas de comunicação, mas da insistência do governo em temas que o segmento evangélico considera inegociáveis, como o aborto.
– Infelizmente, alguns ministérios acabam acenando para pautas que são muito contra nós, como a questão da legalização do aborto, das drogas, dos jogos de azar e da terapia hormonal para crianças mudarem de sexo. O fato de a bancada governista se posicionar a favor de temas como esses nos agride. E, diante do que enxergamos como ataque, vamos sempre reagir – aponta.
A atuação das lideranças evangélicas na defesa dos réus do 8 de janeiro, especialmente em pautas como anistia e revisão das penas, também foi tema da conversa. Segundo ele, não se trata de defender o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas de assegurar penas mais justas.
– Esse movimento não é pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, mas para fazer com que haja uma dosimetria mais adequada das penas. É questão de Justiça. Em acampamentos nas portas dos quartéis, vi donas de casa, jovens, aposentados, gente muito calma, muito tranquila (…). Não se pode dar uma pena de 14, 15 anos de prisão mesmo para aqueles que não causaram danos ao patrimônio – completou.
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