Porteiro volta atrás e diz que não falou com Bolsonaro
Funcionário do condomínio afirmou que se sentiu confuso durante depoimentos dados em outubro
Paulo Moura - 21/11/2019 07h16 | atualizado em 21/11/2019 07h31
O porteiro que havia citado o presidente Jair Bolsonaro nas investigações da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes recuou, em depoimento à Polícia Federal, da versão dada anteriormente à Polícia Civil do Rio.
Ele disse à PF na última terça-feira (19) que errou ao atribuir ao presidente a autorização para a entrada no condomínio Vivendas da Barra de um dos acusados do crime. Também afirmou ter se sentido confuso durante os dois depoimentos dados à Polícia Civil em outubro.
A informação foi revelada pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo. O porteiro havia feito menção ao nome de Bolsonaro ao depor em 7 e 9 de outubro. Na ocasião, ele atribuiu a “seu Jair” a autorização de entrada do ex-PM Élcio de Queiroz, um dos suspeitos pela morte de Marielle e Anderson Gomes, no condomínio Vivendas da Barra horas antes do assassinato, no dia 14 de março de 2018.
Registros da Câmara dos Deputados mostram que Bolsonaro, à época deputado federal, estava em Brasília no momento da ligação. No controle de entrada da portaria, foi registrada a ida de Élcio para a casa 58, onde morava Bolsonaro.
O Ministério Público do Rio, porém, disse que uma perícia contradisse a declaração do porteiro e apontou a ida de Élcio para a casa 65/66, do policial militar reformado Ronnie Lessa, outro acusado do crime e que morava no mesmo condomínio. O novo depoimento do porteiro à Polícia Federal durou aproximadamente três horas.
Segundo duas fontes ouvidas pelo UOL, ele disse à PF que primeiro errou na anotação do número da casa. Depois, afirmou que, ao ser chamado pela Polícia Civil, ficou nervoso e passou a dizer que ouviu a voz de “seu Jair”.
A PF e a Defensoria confirmaram a oitiva do porteiro, mas não revelaram oficialmente seu teor. Bolsonaro tem duas casas dentro do condomínio Vivendas da Barra. Além do imóvel onde ele morava com a família, antes da mudança para Brasília, quando foi eleito presidente, em outro reside um de seus filhos, Carlos Bolsonaro, vereador do Rio pelo PSC.
O depoimento do porteiro à PF foi colhido em inquérito aberto a pedido do ministro Sergio Moro. O procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou, por solicitação de Moro, que ele fosse investigado por possível prática dos crimes de obstrução de Justiça, falso testemunho, denunciação caluniosa e violação a um artigo da Lei de Segurança Nacional.
A citação ao nome do presidente na investigação do caso Marielle levou o Ministério Público a consultar o STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a possibilidade de seguir com a investigação no Rio de Janeiro, em razão do foro especial do presidente. A PGR, porém, afirmou que não havia indícios de envolvimento de Bolsonaro, em razão dos fatos que contradiziam o depoimento.
Além da presença de Bolsonaro em Brasília no dia do crime, uma gravação do interfone da portaria apontou que foi Lessa quem autorizou a entrada do ex-PM, segundo perícia do Ministério Público do Rio. Essa análise foi usada pela Promotoria para contradizer o depoimento do porteiro.
*Folhapress
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