PCC tinha acesso às câmeras de trânsito do governo de SP, diz PF
Criminosos estiveram na casa de Sergio Moro e no escritório de advocacia de sua esposa
Marcos Melo - 23/03/2023 21h25 | atualizado em 24/03/2023 11h40

Os criminosos da facção Primeiro Comando da Capital (PCC), envolvidos na ação para sequestrar o ex-juiz e senador Sergio Moro (União Brasil-PR) e sua família (esposa e filhos), conseguiram obter acesso a um sistema de monitoramento por câmeras do governo de São Paulo. A informação é do relatório apresentado pelo Grupo Especial de Investigações Sensíveis (Gise) à Justiça Federal, que determinou as prisões e busca e apreensão executados nesta quarta-feira (22).
Agentes informaram que os marginais faziam uso do Detecta, um programa que utiliza imagens de trânsito para identificar os veículos e rastrear seu deslocamento. Em uma conversa via aplicativo de mensagens monitorada com autorização da Justiça, um dos criminosos solicita a um comparsa que faça um levantamento para saber por onde circulou uma viatura não caracterizada da Polícia Civil paulista nos dias anteriores.
– Parceiro, precisava saber onde esse carro andou de sábado até hoje – disse o suspeito na conversa, inserindo uma foto da placa do veículo.
E continuou:
– Consegue dar uma força para mim? Pra ver no Detecta lá.
Investigadores também encontraram no aparelho telefônico uma imagem contendo informações sigilosas sobre a viatura descaracterizada.
– Temos indicativo claro de que os investigados têm acesso a dados que deveriam ser sigilosos, o que permite a eles agir com desenvoltura na prática de crimes, pois conseguem identificar veículos das forças de segurança – diz a representação policial do delegado Martin Bottaro Purper.
Até o local de votação de Sergio Moro foi monitorado pela facção. Com as interceptações telefônicas e telemáticas, agentes da Polícia Federal conseguiram monitorar os manuscritos que tinham informações dos endereços de Moro, nomes dos familiares, telefones, emails dos filhos e até as declarações de bens.
Em uma das conversas rastreadas, há um relato sobre o “reconhecimento de local” feito onde Moro votou na última eleição, o Clube Duque de Caxias, em Curitiba, no Paraná.
Os criminosos sabiam detalhes da zona eleitoral.
– Na guarita de acesso estão dois seguranças e um vigia no pátio, logo após a guarita está o salão ao qual será usado para votação – diz uma das partes do print.
A juíza federal Gabriela Hardt deferiu 11 mandados de prisão e 24 de busca e apreensão. Na decisão, a magistrada relata que, durante as investigações, foi descoberto que a antena do telefone de um dos marginais esteve no bairro Bacacheri, onde fica o Clube Duque de Caxias. Agentes também identificaram que este mesmo aparelho celular esteve no local onde reside Sergio Moro e também esteve no escritório de advocacia da mulher do senador, a deputada federal Rosângela Moro (União Brasil-SP).
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