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Joice acusa Bolsonaro, mas usa verba pública em briga digital

Deputada acusa família do presidente de ter "milícia virtual"

Gabriela Doria - 24/10/2019 13h40 | atualizado em 25/10/2019 09h44

Joice Hasselmann nega ter “milícia digital” Foto: Agência Brasil/Marcelo Camargo

Ex-líder do governo no Congresso, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) utiliza dinheiro de sua cota parlamentar para pagar uma empresa que gerencia suas redes sociais, usadas como armas na guerra digital que trava com os filhos do presidente Jair Bolsonaro.

A EG Consult, sediada no Rio de Janeiro, recebe R$ 2.500 mensais da verba pública para, entre outras tarefas, administrar um grupo de WhatsApp em que a deputada rebate acusações de traição e critica adversários.

Joice tem denunciado o uso de uma estrutura sediada no Palácio do Planalto para coordenar “milícias digitais” usadas contra desafetos do governo. Ela afirma que essa rede, que passou a tê-la como alvo e seria chefiada pelos filhos de Bolsonaro, teria 20 perfis no Instagram alimentando uma rede de cerca de 1.500 páginas.

A proprietária da EG Consult, Elisa Gomes de Oliveira de Morais, é administradora e criadora do grupo de WhatsApp “Joice, eu apoio!”, parte da estrutura de comunicação da deputada.

Mensagens enviadas para o grupo são respondidas de forma automática com a assinatura “Atendimento JH”.

Esse serviço não aparece discriminado nas notas fiscais emitidas até o mês passado pela EG Consult para receber o dinheiro da cota da deputada. As notas citam “geração de materiais de ordem gráfica e multimídia, gerenciamento, atendimento e suporte aos usuários das plataformas de comunicação utilizadas pela deputada federal”, e mencionam Facebook, Instagram, YouTube e Twitter.

A cota parlamentar é uma verba da Câmara criada para custear despesas do mandato. Entre os gastos previstos está “divulgação da atividade parlamentar”, segundo ato da Mesa Diretora da Câmara de 2009, que regulamentou o uso dos recursos.

O conteúdo das redes sociais de Joice, no entanto, inclui mais do que a exposição de sua atividade como deputada federal. Textos e vídeos com ataques a opositores são frequentes.

O mesmo ocorre com o grupo de WhatsApp gerenciado por Morais. Nos dias seguintes à destituição de Joice do cargo de líder do governo, a administradora postou: “Joice nunca traiu o governo. Isso é discurso de quem é membro do Gabinete do Ódio”.

A referência é a uma estrutura com três assessores da Presidência -Tercio Arnaud Thomaz, de 31 anos, José Matheus Salles Gomes, de 26, e Mateus Matos Diniz, de 25, que seriam parte da chamada “milícia digital”.

Em outro diálogo, Morais reage a um membro do grupo que chama Joice de “traidora disfarçada de justiceira”.

– Não existe nenhuma traidora aqui. Que saiam [do grupo] todos os fakes e MAVs – disse ela, em referência à sigla para Militância em Ambientes Virtuais.

A administradora também postou um banner com texto de Joice.

– Os filhos dele [Bolsonaro] estão induzindo ele ao erro constante e enterrando o governo. Vou proteger o presidente até mesmo dos próprios filhos. Sigo lutando pelo Brasil – está escrito.

O contrato com a Eg Consult foi assinado no mês de junho. Segundo a deputada, a razão foi a necessidade de prestar contas do mandato e ouvir as pessoas que a procuram.

OUTRO LADO
“São milhões de seguidores e cidadãos que precisam ser atendidos, de modo que eu, sozinha, infelizmente não tenho condições de atender a todos”, afirmou a deputada federal Joice Hasselmann, por meio de nota.

Segundo a parlamentar, as postagens em redes sociais que são ataques a adversários são de sua responsabilidade.

– Se eu for atacada, irei rebater. A empresa não tem nada a ver com esse tipo de conteúdo – declarou.

Isso não se aplica ao grupo de WhatsApp, porém, em que os textos são de responsabilidade da proprietária da EG Consult, de acordo com registros obtidos pela reportagem.

Segundo a parlamentar, a ação da empresa contratada por seu gabinete não tem semelhança com a milícia virtual que ela denuncia.

– Estamos falando de uma empresa regulamentada que presta serviços, que tem CNPJ, que emite notas fiscais. […] A milícia digital atua por baixo dos panos, são perfis fakes que fingem não estar vinculados a determinadas pessoas e que espalham discurso de ódio – afirma.

A reportagem não conseguiu contato com Elisa Morais, dona da EG Consult.

*Fábio Zanini/Folhapress

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