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Itamaraty: China foi ‘ofensiva’ ao responder Eduardo Bolsonaro

Ministério disse que resposta da embaixada chinesa foi "desrespeitosa" e cria "fricções desnecessárias"

Pleno.News - 26/11/2020 20h27 | atualizado em 26/11/2020 20h35

Deputado Eduardo Bolsonaro e chanceler Ernesto Araújo Foto: EFE/SHAWN THEW

O Ministério das Relações Exteriores comentou a reação da embaixada chinesa a declarações contrárias ao país asiático feitas pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). A chancelaria brasileira disse que a atitude “ofensiva” e “desrespeitosa” da China cria “fricções desnecessárias” e prejudica a boa relação entre os países. Nas redes sociais, o filho do presidente Jair Bolsonaro vinculou o governo chinês à “espionagem” por meio da tecnologia 5G, o que provocou protestos dos chineses.

“Não é apropriado aos agentes diplomáticos da República Popular da China no Brasil tratarem dos assuntos da relação Brasil-China através das redes sociais. Os canais diplomáticos estão abertos e devem ser utilizados. O tratamento de temas de interesse comum por parte de agentes diplomáticos da República Popular da China no Brasil através das redes sociais não é construtivo, cria fricções completamente desnecessárias e apenas serve aos interesses daqueles que porventura não desejem promover as boas relações entre o Brasil e a China”, disse o Itamaraty, em comunicado por escrito à embaixada.

“O tom e conteúdo ofensivo e desrespeitoso da referida ‘Declaração’ prejudica a imagem da China junto à opinião pública brasileira”, continuou o Ministério das Relações Exteriores.

O ofício do Departamento de China do Itamaraty, datado desta quarta-feira, dia 25, foi divulgado pelo canal CNN Brasil e confirmado pelo Estadão. A chamada “nota diplomática” é uma manifestação forma do governo brasileiro à embaixada.

Procurado, o Ministério das Relações Exteriores não comentou o teor.

O Departamento da China disse que as relações sino-brasileiras são mutuamente benéficas, densas e maduras e “não dependem do encaminhamento de um único tema”.

– Desrespeitar a diversidade de pensamento e opinião existente no Brasil não contribui para o avanço das relações – escreveram os diplomatas, numa carta com indiretas a Pequim.

Em publicação feita na noite de segunda-feira (23), – e apagada no dia seguinte, Eduardo Bolsonaro fez menção à adesão simbólica do Brasil à Clean Network (Rede Limpa), iniciativa diplomática do governo Donald Trump para tentar frear o avanço de empresas chinesas no mercado global de 5G. Ele celebrou o fato como um sinal de que o Brasil “se afasta da tecnologia da China”.

Para a diplomacia chinesa, o parlamentar “solapou” a relação amistosa entre os países com declarações “infames”, e o Brasil poderá “arcar com consequências negativas”. Na declaração de seu porta-voz, os chineses disseram que Eduardo agia orientado pela extrema-direita norte-americana e que essa retórica discrimina o país.

O Itamaraty pediu respeito às “decisões soberanas sobre temas de interesse estratégico” do governo Jair Bolsonaro. O Brasil anunciou recentemente apoio aos princípios do programa Rede Limpa (Clean Network, em inglês), do governo Donald Trump, criado para banir das redes de telecomunicação fornecedores de tecnologia chineses, como a Huawei. A adesão foi celebrada pela Casa Branca como a primeira na América Latina, embora ao menos publicamente o Brasil não tenha se comprometido a excluir por completo empresas chinesas.

O MRE também reclamou sobre o fato de a China ter abordado a relação entre Brasil e Estados Unidos. “É altamente inadequado que a Embaixada da República Popular da China se pronuncie sobre as relações do Brasil com terceiros países, tendo presente que a Embaixada do Brasil em Pequim não se pronuncia sobre as relações da República Popular da China com terceiros países.”

O Itamaraty confirmou ter recebido as “preocupações” da China sobre declarações de Eduardo, tratado apenas como “um deputado federal brasileiro”. Disse que elas “serão tratadas da maneira apropriada”.

SEGUNDA VEZ
Foi a segunda vez que o Itamaraty repreendeu a diplomacia chinesa em Brasília após manifestações de Eduardo nas redes sociais, respondidas da mesma forma por Pequim.

Em março, o chanceler Ernesto Araújo saiu em defesa do deputado e disse pelo Twitter que o embaixador Yang Wanming “feria a boa prática diplomática” ao rebater de forma “desproporcional” o parlamentar. Ele se dispôs a promover o entendimento entre ambos. Eduardo Bolsonaro havia dito que o governo comunista da China era culpado pela propagação do novo coronavírus e omitia dados da pandemia. O embaixador, então, se disse ofendido, pediu retratação e afirmou que Eduardo contraíra um “vírus mental” em viagem a Miami, na Flórida.

Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, Eduardo Bolsonaro é um entusiasta do chefe da chancelaria e influente na política externa bolsonarista pró-Estados Unidos. Ele passou a ser alvo de pedido de destituição do cargo depois da nova crise com a China.

Apesar da censura, o próprio chanceler Ernesto Araújo utiliza-se de redes sociais para manifestar posições da política externa nacional, assim como o presidente Bolsonaro. Como o Estadão mostrou em abril, o embaixador Yang Wanming é um dos mais influentes no Twitter entre todo o corpo diplomático chinês, que aderiu às redes ocidentais – proibidas na China – por uma diretriz do presidente Xi Jinping e do Partido Comunista A contra ofensiva começou justamente para conter a propagação de ideias anti-China nos Estados Unidos durante o governo Donald Trump.

*Estadão

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