Guedes ‘ignora’ perguntas sobre o ‘orçamento secreto’ na CCJ
Ministro da Economia ironizou deputados que insistiram no assunto
Henrique Gimenes - 11/05/2021 15h40 | atualizado em 11/05/2021 16h23
O ministro da Economia, Paulo Guedes, passou quase quatro horas em audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados sem responder perguntas dos parlamentares sobre um suposto esquema montado pelo governo para conquistar apoio por meio de um orçamento secreto de R$ 3 bilhões. A informação foi revelada pelo Estadão.
Nesta terça-feira (11), Guedes foi questionado repetidas vezes por deputados de oposição, mas não tocou no tema diretamente. Provocado sobre o assunto, Guedes retrucou com ironias, dizendo que “grandes negócios nas estatais e escândalos” eram especialidade de governos anteriores.
– Negócios e escândalos em estatais não são especialidade deste governo, mas de outros. Parece que isso não nos atingiu ainda, vamos ver – alfinetou.
Mais cedo, Guedes chegou a declarar que a mistura entre política e economia está no cerne dos grandes escândalos de corrupção da história brasileira.
– Quanto mais influência política o equipamento econômico tiver, maior o desafio da corrupção. Não pode quem controla o poder político também controlar o poder econômico. Essa degeneração das práticas vem da mistura de política com economia – avaliou.
Sob protestos da oposição, a presidente da comissão, deputada Bia Kicis (PSL-DF) encerrou a audiência pouco antes das 14h, mesmo sem parlamentares inscritos terem conseguido fazer perguntas ao ministro.
– É o ministro da morte. Está com medo de ouvir os congressistas – reclamou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
Kicis então rebateu a fala.
– Não concedi a palavra a mais ninguém, peço respeito e encerro os trabalhos -ministro respondeu a deputada.
“Tratoraço”
O ministro foi confrontado por parlamentares da oposição sobre o suposto “orçamento secreto” revelado pelo Estadão.
No ano passado, o governo destinou R$ 3 bilhões em emendas a parlamentares do Centrão que, ao contrário do permite a lei, puderam escolher onde os recursos de emendas de relator (RP9) seriam aplicados, inclusive na compra de tratores superfaturados. O caso foi apelidado de “tratoraço” nas redes sociais depois de a reportagem mostrar que parte do dinheiro foi usado para comprar equipamentos agrícolas com preço acima dos de mercado.
– Isso é crime de responsabilidade, é prevaricação, desvio de finalidade e improbidade administrativa. Quero saber por que vossa excelência não vetou esse arranjo de corrupção, que é a compra de votos que está sendo feita aí? – questionou o deputado Ivan Valente (PSOL-SP).
O deputado Zeca Dirceu (PT-PR) também falou sobre o tema.
– Não adianta oferecer trator, cargos, regalias. Não vamos permitir que uma PEC inconstitucional (da reforma administrativa) avance – apontou.
Picanha a R$ 1.799
Deputado de oposição também fala com o ministro sobre uma peça de carne presente em um churrasco no Palácio do Planalto que teria custado R$ 1.799 o quilo.
– O senhor vem falar que servidor público tem 20 carros. Eu desconheço. Mas conheço presidente que come picanha de R$ 1.799 o quilo; conheço presidente que tira férias de R$ 2 milhões; e conheço um orçamento que o senhor aprovou de R$ 3 bilhões para comprar parlamentar com trator superfaturado – comparou a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS).
*Estadão