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Facada em Bolsonaro completa 1.000 dias ainda com mistérios

Mesmo após mais de dois anos do caso, fatos como o pagamento pela defesa de Adélio Bispo ainda são alvos de questionamento

Paulo Moura - 02/06/2021 08h00 | atualizado em 02/06/2021 08h13

Momento da facada em Jair Bolsonaro Foto: Reprodução

Passados quase 33 meses desde o fatídico atentado à faca empreendido por Adélio Bispo contra o presidente Jair Bolsonaro, no dia 6 de setembro de 2018, em Juiz de Fora (MG), o episódio ainda gera inúmeras controvérsias e mistérios na mente de muitas pessoas que acreditam que o caso não foi completamente resolvido.

Teorias como a de que Adélio Bispo não agiu sozinho no atentado, mas que atuou “a serviço” de alguém, ainda são fortes e encontram guarida em fatos relacionados ao caso, como o registro de entrada de Adélio na Câmara dos Deputados. Já opositores, como o ex-presidente Lula, chegam a questionar até uma suposta “ausência de sangue” na cena do atentado.

Nesta quarta-feira (2), dia em que o histórico acontecimento completa 1.000 dias, o Pleno.News faz uma pequena retrospectiva do que já foi divulgado ao longo dos últimos dois anos e meio sobre o caso e do que ainda é alvo de questionamento por parte dos envolvidos no episódio. Acompanhe.

O QUE DIZEM AS FONTES OFICIAIS
Quebrados os sigilos bancário e telefônico de Adélio Bispo e consultados 2.000 gigabytes de arquivos de fotos e vídeos, a Polícia Federal concluiu que Adélio Bispo de Oliveira teria agredido o presidente Jair Bolsonaro, no centro de Juiz de Fora, no dia 6 de setembro de 2018, sem ajuda de ninguém ou orientação de qualquer mandante.

Em depoimentos, Adélio disse ter agido “a mando de Deus”. Mesmo preso, o agressor do presidente disse ter intenções de voltar a agredir o atual presidente da República, assim como o seu antecessor, Michel Temer, por uma alegada “ligação com a maçonaria”.

O juiz Bruno Savino considerou o agressor de Bolsonaro inimputável, por apresentar, segundo diagnósticos de psicólogos e psiquiatras, “transtorno delirante persistente, alucinações, sensação de perseguição e desconexão com a realidade”. Como resultado, o juiz aplicou a chamada absolvição imprópria, que ocorre quando o réu é o autor do crime, mas não pode ser responsabilizado por ele.

Apesar da análise apontar o transtorno, Adélio diz que não tem doença mental e, por isso, recusa os tratamentos disponíveis na prisão de segurança máxima de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, onde ele seguirá detido ao menos até junho de 2022, quando terá de efetuar novos exames. Uma transferência para um hospital psiquiátrico em Juiz de Fora (MG) foi recusada por falta de vagas.

QUEM TERIA “FINANCIADO” A DEFESA DE ADÉLIO?
Sem sombra de dúvidas, a pergunta mais vezes repetida desde que o escritório do advogado Zanone Oliveira assumiu a defesa do agressor de Bolsonaro foi a de “quem pagou pela defesa de Adélio?”. A questão paira no fato de que Bispo não teria quaisquer condições de arcar com as despesas dos advogados que passaram a defendê-lo.

Como fato relevante para a investigação, a polícia tentou obter a quebra dos sigilos telefônico e bancário de Zanone Oliveira que, no entanto, foi bloqueada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que ingressou com uma ação alegando inconstitucionalidade na medida. O pedido foi aceito pelo desembargador Néviton Guedes, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

O episódio motivou, inclusive, críticas de Bolsonaro ao presidente da Ordem Felipe Santa Cruz, cujo pai foi dado como desaparecido durante a ditadura militar. O chefe de estado disse, enquanto cortava o cabelo em público, que foi o próprio grupo de militantes contra o regime militar, do qual Fernando Santa Cruz fazia parte no Recife, que teria executado o pai do hoje presidente da OAB.

Na época dos fatos, Zanone alegou que havia aceitado fazer a defesa de Adélio para se autopromover e que adotou a mesma estratégias na defesa de réus como Bola, envolvido na morte de Eliza Samúdio; do homem que matou a missionária Dorothy Stang; e também do processo envolvendo um pai de santo que matou um pastor evangélico com um punhal.

– Essa visibilidade é boa. Eu sabia que a vítima era o Bolsonaro e aceitei porque isso também é parte de uma estratégia de marketing – disse Zanone em entrevista à rede BBC Brasil, em 2018.

ENTRADA DE ADÉLIO NA CÂMARA, NO DIA DO ATAQUE CONTRA BOLSONARO
Um dos episódios mais controversos envolvendo o fato foi, sem dúvida, o registro da presença de Adélio na Câmara dos Deputados, em Brasília, no dia do atentado praticado contra Bolsonaro.

Apesar do fato ter sido justificado pela Câmara como um “equívoco do recepcionista da portaria”, muitos apoiadores do presidente ainda hoje tratam a informação como suspeita.

De acordo com a Câmara, o recepcionista acessou o sistema por volta das 18 horas do dia 6 de setembro a pedido de dois policiais legislativos, que, tão logo tiveram informações, por meio da imprensa, sobre o atentado ao então deputado Jair Bolsonaro e sobre o nome do principal suspeito, buscaram verificar no sistema da Casa possíveis registros de entrada de Adélio na Câmara.

O funcionário do Parlamento teria, então, identificado dois registros de entrada de Adélio na Câmara no dia 6 de agosto de 2013. Com imagem arquivada do seu documento de identidade, o recepcionista achou por bem incluir o número do CPF do homem, que, até então, não constava do sistema, com a intenção de deixar o cadastro atualizado, de acordo com a Casa.

– Como o perfil de usuário do sistema não lhe permitia fazer inserção de dados sem o registro de nova entrada de visitante, o recepcionista, com o objetivo de acrescentar a informação do CPF, acabou efetuando equivocadamente dois novos registros de entrada – justificou a Câmara, na ocasião.

FILIAÇÃO DE ADÉLIO AO PSOL
Um outro ponto polêmico relacionado ao ataque contra Bolsonaro foi o fato de Adélio Bispo ter sido filiado ao PSOL, partido de esquerda que integra um dos grupos de maior oposição ao presidente da República.

Na época do ocorrido, o PSOL confirmou a filiação do agressor de Bolsonaro à legenda entre os anos de 2007 e 2014.

Como o período se encaixa exatamente na data registrada na Câmara como o da primeira visita de Adélio à Casa Legislativa, em 2013, criou-se a suspeita de que o autor da facada contra o presidente teria visitado algum dos parlamentares da legenda, fato que, segundo Departamento de Polícia Legislativa, não pode ser confirmado por conta de impossibilidade técnica.

[Não há como saber] sobre o destino do visitante, [nem como] saber o local ao qual ele se dirigiu, [pois] as imagens captadas pelo CFTV [Circuito Fechado de Televisão] ficam armazenadas somente por determinado período – dizia nota do diretor do Departamento de Polícia Legislativa da Câmara, Paul Pierre Deeter.

MORTES NA PENSÃO, CARTÕES DE CRÉDITO EM EXCESSO E CLUBE DE TIRO DE CARLOS BOLSONARO
Também intrigou muitos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro o fato de que duas pessoas morreram na pensão onde Adélio se hospedou em Juiz de Fora desde o dia do atentado contra o atual presidente. A polícia, entretanto, alegou que as vítimas (a dona da pensão, vitimada por um câncer; e um hóspede, dependente químico) não teriam interagido com Adélio.

Esse não foi o único episódio a causar estranheza: no dia do crime, foi registada a presença de Adélio na Câmara dos Deputados, em Brasília, a milhares de quilómetros do local do crime. Segundo a investigação, um funcionário, por curiosidade, pesquisou o nome do agressor de Bolsonaro no sistema, e, por engano, acabou por anotar e entrada dele no edifício.

A quantidade de computadores e de cartões de crédito de posse de Adélio também levantou suspeitas. A polícia afirmou, porém, que dois dos três computadores não tinham condições de uso e que, no terceiro, não foram encontradas informações relevantes. Quanto aos cartões, eles teriam sido enviados automaticamente após a abertura de contas bancárias.

Outro ponto foi o fato de Adélio ter frequentado o mesmo clube de tiro, em Florianópolis, que Carlos Bolsonaro, segundo filho do presidente. Contudo, os investigadores chamaram o caso de “coincidência” e não confirmaram a presença de ambos no mesmo local em um momento simultâneo.

LULA E A ACUSAÇÃO DE “FALTA DE SANGUE”
O fato ganhou repercussão tão ampla que a oposição a Jair Bolsonaro passou a criar teorias da conspiração sobre o fato, como quando o ex-presidente Lula afirmou que não aparecia sangue em nenhum momento após a facada sofrida pelo atual chefe do Executivo.

– Aquela facada tem coisas muito estranhas; uma facada que não aparece sangue em nenhum momento. O cara que dá a facada é protegido pelos seguranças do Bolsonaro – disse Lula.

A polícia rejeitou completamente a fala, visto que havia vestígios do DNA de Bolsonaro na lâmina, e os médicos que o atenderam confirmaram o ferimento. Segundo eles, a hemorragia, de cerca de dois litros de sangue, foi interna, já que a musculatura abdominal se contraiu bloqueando vazamentos, e o corte na pele foi de apenas três centímetros.

ACONTECIMENTOS RECENTES
Nos últimos seis meses, dois fatos marcaram o noticiário envolvendo o caso Adélio Bispo. O primeiro, em dezembro do ano passado, foi a rejeição do ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), a um pedido da Defensoria Pública da União (DPU) para que Adélio fosse transferido da penitenciária federal de Campo Grande (MS) para um hospital de custódia.

No caso, Nunes Marques entendeu que a legislação permitia que o tipo de pena aplicada a Adélio (a medida de segurança) fosse cumprida em outros estabelecimentos, caso não existisse vaga em um hospital de custódia, e decidiu por manter Bispo no mesmo estabelecimento penal onde ele já estava.

Mais recentemente, em maio deste ano, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) decidiu que Adélio Bispo de Oliveira não poderia responder a procedimento administrativo disciplinar de caráter punitivo durante a permanência na Penitenciária Federal de Campo Grande.

De acordo com o entendimento do tribunal, como o autor do atentado contra Jair Bolsonaro sofre de transtorno mental delirante persistente, o fato o torna inimputável, inclusive de punições enquanto estiver sob custódia do Estado.

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