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Ex-chefe da PF do AM fala em provas ‘claríssimas’ contra Salles

Ministro do Meio Ambiente é suspeito de obstruir investigação da Polícia Federal

Pleno.News - 08/06/2021 15h45 | atualizado em 08/06/2021 17h24

Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles Foto: Reprodução

Pivô do inquérito aberto para investigar o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o presidente afastado do Ibama, Eduardo Bim, sob suspeita de obstruírem a maior investigação ambiental da Polícia Federal em favor de quadrilhas de madeireiros, o delegado Alexandre Saraiva, ex-chefe da corporação no Amazonas (AM), disse que as provas contra ambos são “claríssimas”.

– As provas da Handroanthus são toras. Aquilo tem uma logística muito específica para ser movimentada e muito custosa. Aquilo não some da noite para o dia. Depois [tem] as caixas contendo os documentos, que foi ele mesmo [Ricardo Salles] que entregou. Tudo o que tinha que se provar está provado. Os laudos estão prontos. São laudos contundentes. Está tudo ali – disse o delegado em entrevista concedida ao programa Roda Viva, da TV Cultura.

Saraiva foi exonerado após acusar o ministro de usar o cargo para patrocinar interesses privados na Operação Handroanthus, que mirou extração ilegal de madeira na Amazônia no final do ano passado.

– A atuação dele é claríssima e inédita. Isso nunca aconteceu – acrescentou ao comentar a pressão ministerial frente ao trabalho de investigação da Polícia Federal.

O delegado, que atua na Amazônia há uma década, disse que formalizou a notícia-crime junto ao Supremo Tribunal Federal por “obrigação”.

– Ficou muito claro que havia ali um dever de informar o Supremo Tribunal Federal. Documentos que demonstravam a grilagem de terras de forma grotesca, mas ao mesmo tempo ardilosa – afirmou.

Ainda segundo Saraiva, a Polícia Federal é uma instituição sólida e sua substituição pelo colega Leandro Almada não deve comprometer os trabalhos de investigação da superintendência no Amazonas.

– O meu substituto é pessoa de minha absoluta confiança. É uma instituição culturalmente e institucionalmente forte. Mesmo saindo uma pessoa, a engrenagem continua rodando. Não adianta você tirar um delegado – comentou.

Questionado sobre a entrevista concedida por Ricardo Salles ao Estadão em abril do ano passado, quando o ministro do Meio Ambiente lançou dúvidas sobre a apreensão de madeira recorde feita pela PF no Amazonas e afirmou que as toras confiscadas eram regulares, Saraiva voltou a dizer que o material tem origem ilegal.

– Isso não é verdade. Não está tudo certinho. Está tudo errado, e muito errado – apontou.

O delegado também colocou sob suspeita a decisão judicial que liberou parte do material apreendido.

– São decisões, essas especificamente, muito estranhas. Por exemplo, deste mesmo juiz que, de férias, determinou a devolução de maquinário, sob pena de multa de R$ 200 mil para mim e para os agentes que estavam no local […] São decisões que não são parâmetro – apontou.

Doutor em ciências ambientais, Saraiva defendeu que, no estágio atual, a extração ilegal de madeira se tornou mais prejudicial à floresta do que a atividade agropecuária. Em sua avaliação, o avanço do desmatamento preocupa ainda mais pela inércia do Ibama.

– O Ibama não está trabalhando. Isso é inegável – criticou.

O delegado ainda fez críticas contundentes à Lei Complementar 140, que transferiu da União para os estados a atribuição para autorizar planos de manejo florestal e corte raso.

– Foi muito ruim. Mas essa mesma lei complementar concede ao Ibama a possibilidade de fiscalizar subsidiariamente. E isso o Ibama não vinha fazendo – disse.

Saraiva também classificou como “péssimas” as mudanças promovidas por Salles nas regras para aplicação de multas contra crimes ambientais.

“É uma coisa completamente desarrazoada. Não tem lógica […] Me parece que existe, sim, uma intenção clara em tornar a fiscalização menos eficaz. É inegável – disse o delegado afastado, ao opinar que nunca se viu uma situação pior da fiscalização ambiental.

Perguntado sobre as trocas no comando na corporação durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, Saraiva afirmou não ver riscos ao trabalho das superintendências.

– A Polícia continuou funcionando – disse.

Saraiva chegou a ser cotado para assumir o braço fluminense da Polícia Federal durante a crise aberta entre Bolsonaro e o ex-ministro Sérgio Moro, que deixou o governo acusando o presidente de tentar interferir politicamente na corporação. Na avaliação do delegado, a produtividade na superintendência no Rio de Janeiro “melhorou bastante” após a substituição no comando da unidade.

*Estadão

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