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Em discurso na COP28, Lula cobra ajuda financeira de países ricos

Presidente do Brasil também questionou gastos de países com armas

Pleno.News - 01/12/2023 08h46 | atualizado em 05/12/2023 20h46

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva Foto: PR/Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (1°), na Cúpula do Clima (COP28), que é preciso reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e acelerar o ritmo de descarbonização da economia. Em discurso na Conferência das Nações Unidas, ele criticou o descumprimento de acordos climáticos e cobrou novamente ajuda financeira dos países ricos.

– O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos. De metas de redução de emissão de carbono negligenciadas. Do auxílio financeiro a países pobres que não chega – disse.

Lula criticou ainda os gastos de nações com arsenais de guerra e disse ser “inexplicável que a ONU, apesar de seus esforços, se mostre incapaz de manter a paz, simplesmente porque alguns dos seus membros lucram com a guerra”.

– Só no ano passado, o mundo gastou mais de 2 trilhões e 224 milhões de dólares (R$ 10,946 trilhões, na cotação atual) em armas – declarou.

Menções a guerras têm sido uma questão delicada para Lula, cujas declarações sobre os conflitos na Ucrânia e na Palestina já despertaram reações negativas na comunidade internacional. Em uma das falas mais recentes, o petista equiparou a ofensiva israelense na Faixa de Gaza ao ataque terrorista do Hamas e foi criticado na comunidade judaica.

Confira, na íntegra, o discurso de Lula:

Uma mulher africana, a queniana Wangari Maathai, vencedora do prêmio Nobel da Paz, sintetizou bem o dilema da humanidade em sua relação com a natureza.

Disse ela: “A geração que destrói o meio ambiente não é a geração que paga o preço”.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas alertou que temos somente até o final desta década para evitar que a temperatura global ultrapasse um grau e meio acima dos níveis pré-industriais.

2023 já é o ano mais quente dos últimos 125 mil anos.

A humanidade sofre com secas, enchentes e ondas de calor cada vez mais extremas e frequentes.

No Norte do Brasil, a Amazônia amarga uma das mais trágicas secas de sua história. No Sul, tempestades e ciclones deixam um rastro inédito de destruição e morte.

A ciência e a realidade nos mostram que desta vez a conta chegou antes.

O planeta já não espera para cobrar da próxima geração.

O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos.

De metas de redução de emissão de carbono negligenciadas.

Do auxílio financeiro aos países pobres que não chega.

De discursos eloquentes e vazios.

Precisamos de atitudes concretas.

Quantos líderes mundiais estão de fato comprometidos em salvar o planeta?

Somente no ano passado, o mundo gastou mais de 2 trilhões e 224 milhões de dólares em armas. Quantia que poderia ser investida no combate à fome e no enfrentamento da mudança climática.

Quantas toneladas de carbono são emitidas pelos mísseis que cruzam o céu e desabam sobre civis inocentes, sobretudo crianças e mulheres famintas?

A conta da mudança climática não é a mesma para todos. E chegou primeiro para as populações mais pobres.

O 1% mais rico do planeta emite o mesmo volume de carbono que 66% da população mundial.

Trabalhadores do campo, que têm suas lavouras de subsistência devastadas pela seca, e já não podem alimentar suas famílias.

Moradores das periferias das grandes cidades, que perdem o pouco que têm quando a enchente arrasta tudo: casas, móveis, animais de estimação e seus próprios filhos.

A injustiça que penaliza as gerações mais jovens é apenas uma das faces das desigualdades que nos afligem.

O mundo naturalizou disparidades inaceitáveis de renda, gênero e raça.

Não é possível enfrentar a mudança do clima sem combater as desigualdades.

Quem passa fome tem sua existência aprisionada na dor do presente. E torna-se incapaz de pensar no amanhã.

Reduzir vulnerabilidades socioeconômicas significa construir resiliência frente a eventos extremos.

Significa também ter condições de redirecionar esforços para a luta contra o aquecimento global.

Em 2009, quando participei da COP15, em Copenhague, a arquitetura da Convenção do Clima estava à beira do colapso.

As negociações fracassaram e foi preciso um grande esforço para recuperar a confiança e chegar ao Acordo de Paris, em 2015.

Ao retornar à Presidência do Brasil, constato que estamos, hoje, em situação semelhante.

O não cumprimento dos compromissos assumidos corrói a credibilidade do regime.

É preciso resgatar a crença no multilateralismo.

É inexplicável que a ONU, apesar de seus esforços, se mostre incapaz de manter a paz, simplesmente porque alguns dos seus membros lucram com a guerra.

É lamentável que acordos como o Protocolo de Kyoto (1997) ou os Acordos de Paris (2015) não sejam implementados.

Governantes não podem se eximir de suas responsabilidades.

Nenhum país resolverá seus problemas sozinho. Estamos todos obrigados a atuar juntos além de nossas fronteiras.

O Brasil está disposto a liderar pelo exemplo.

Ajustamos nossas metas climáticas, que são hoje mais ambiciosas do que as de muitos países desenvolvidos.

Reduzimos drasticamente o desmatamento na Amazônia e vamos zerá-lo até 2030.

Formulamos um plano de transformação ecológica, para promover a industrialização verde, a agricultura de baixo carbono e a bioeconomia.

Forjamos uma visão comum com os países amazônicos e criamos pontes com outros países detentores de florestas tropicais.

O mundo já está convencido do potencial das energias renováveis.

É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis.

Temos de fazê-lo de forma urgente e justa.

Vamos trabalhar de forma construtiva, com todos os países, para pavimentar o caminho entre esta COP28 e a COP30, que sediaremos no coração da Amazônia.

Não existem dois planetas Terra. Somos uma única espécie, chamada Humanidade.

Todos almejamos tornar o mundo capaz de acolher com dignidade a totalidade de seus habitantes – e não apenas uma minoria privilegiada.

Como nos convida o papa Francisco na Encíclica “Todos Irmãos”, precisamos conviver na fraternidade.

Muito obrigado.

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*AE

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