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Doria critica Bolsonaro: “Cuide mais de seu país e de seu povo”

Governador de SP comentou fala do presidente sobre a alta comissária dos Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet

Henrique Gimenes - 05/09/2019 14h28

Presidente Jair Bolsonaro e governador de São Paulo, João Doria Foto: Reprodução

O ataque de Jair Bolsonaro (PSL) à alta comissária dos Direitos Humanos das Nações Unidas, a chilena Michelle Bachelet, virou novo ponto de atrito entre o presidente e o governador paulista, João Doria (PSDB).

– Uma indelicadeza, não se faz isso com ninguém, ainda mais uma ex-presidente – disse o tucano sobre o episódio.

Na quarta (4), Bolsonaro respondeu a críticas de Bachelet ao estado da democracia brasileira enaltecendo a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e dizendo que ela evitou que esquerdistas como o pai da comissária chegassem ao poder.

Alberto Bachelet, na realidade, era um brigadeiro da Força Aérea legalista e opositor do golpe de Pinochet, cujo regime o prendeu e torturou até sua morte, por doença cardíaca, em 1974. Sua filha, a política centro-esquerdista Michelle, foi presidente do Chile em duas ocasiões (2006-10 e 2014-18), e a fala de Bolsonaro foi criticada pelo sucessor centro-direitista dela, Sebastián Piñera.

– Acho que ele [Bolsonaro] pode compreender e talvez recuar, pedir desculpas. Foi criticado no Chile, pela direita e pela esquerda – afirmou Doria.

O governador, cujo pai foi um deputado exilado na ditadura brasileira, já havia discordado de uma fala correlata de Bolsonaro, em que ele sugeria que o pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil não havia sido morto pelos militares, mas sim por colegas de luta armada.

Para o tucano, a nova fala condenada do presidente se encaixa à perfeição em seu projeto de tentar desvincular-se do apoio que pediu ao então candidato durante a campanha eleitoral de 2018, o chamado voto BolsoDoria. Doria nega, mas está em plena campanha para tentar suceder Bolsonaro em 2022.

Em conversa com o jornal Folha de S.Paulo na terça (4), o presidente chamou o tucano de “ejaculação precoce”. No fim de semana, havia dito que ele estava “morto para 2022”.

Transitando na centro-direita do eleitorado que já apoiou Bolsonaro com mais afinco, Doria morde e assopra. Nesta semana, ele repetiu a terminologia bolsonarista e retirou das escolas paulistas material didático sobre orientação sexual alegando que ele promovia a chamada ideologia de gênero, suposta liberalidade excessiva em favor de minorias.

Ao mesmo tempo, nesta quinta (5) admoestou o presidente na esteira da crítica sobre Bachelet.

– Tomo aqui a liberdade de dar um conselho para o presidente Jair Bolsonaro: que cuide mais de seu país, de seu povo, com menos briga, menos acusações, menos agressões. Temos mais de 13 milhões de desempregados – disse após evento no Palácio dos Bandeirantes, ampliando o escopo do embate.

Orientado por pesquisas que indicam a rejeição à fraseologia combativa e radical de Bolsonaro, Doria elaborou um discurso em que evita demonizar o eleitor de Bolsonaro.

– Sessenta milhões de pessoas votaram no presidente na esperança de que ele possa mudar o país. Continuo acreditando que é possível, mas não será com briga, com palavrões que nós vamos construir uma imagem positiva do Brasil. E não vamos construir uma economia sólida para gerar emprego e confiança dos investidores internacionais – afirmou.

Na semana passada, os dois mandatários já haviam se estranhado quando o presidente acusou o governador de “mamar na teta do BNDES” por ter obtido um empréstimo do banco estatal com juros financiados para compra de um jatinho da Embraer. Doria rebateu, dando continuidade a uma disputa que só fez crescer ao longo deste ano.

*Folhapress

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