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Delação põe Witzel no centro de escândalo de corrupção

Empresário diz que governador montou esquema para cobrar propina de prestadoras de serviços

Paulo Moura - 22/05/2020 09h31 | atualizado em 22/05/2020 09h32

Nome de Witzel aparece no centro de escândalo de corrupção Foto: Agência O Globo/Pablo Jacob

Graves acusações contra o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, prometem empurrar o político para o centro de um grande escândalo de corrupção, e dessa vez eles não estão relacionados com aquisições durante a pandemia do novo coronavírus.

Segundo reportagem da revista Veja, uma delação feita pelo empresário Arthur Soares, conhecido como “Rei Arthur”, coloca o governador como “Chefe Supremo” de um esquema feito para extorquir empresas prestadoras de serviço no estado. As declarações estão com a Procuradoria-Geral da República (PGR), que recebeu uma proposta de acordo de delação do empresário.

Na prática, o esquema iniciaria com governo alegando que não tem dinheiro suficiente para quitar as dívidas com os credores, assim o Estado atrasa os pagamentos, acena depois com a possibilidade de uma negociação e, por fim, surge alguém com a solução mágica, que é quem concorda em pagar propina para ganhar a preferência na fila do caixa.

Arthur, que foi preso no passado em Miami, era até pouco tempo uma autoridade em grandes negócios com as autoridades fluminenses. A proximidade com o poder fez dele um homem milionário e poderoso. O lucro, obtido de forma ilegal, era originado da venda de produtos e serviços superfaturados.

Agora detido, acusado de ter subornado membros do Comitê Olímpico Internacional para votar a favor do Rio como sede dos Jogos de 2016, ele promete denunciar outros esquemas de corrupção em troca da redução de sua pena, que pode chegar a 200 anos. Porém o maior trunfo é o chamado “Anexo Witzel”.

ANEXO WITZEL
Nos documentos, revelados pela Veja, o empresário descreve como funcionaria o esquema organizado pelo atual governador. Nele, dois nomes surgem como destaques, o pastor Everaldo Pereira, presidente do PSC, partido do governador, e o secretário estadual da Casa Civil e Governança, o ex-deputado federal André Moura, que é citado como o responsável pelas negociações para o recebimento da propina.

Arthur contou que teve certeza sobre a existência, a dimensão e os personagens envolvidos depois que foi alvo de pressão do governo. Ele revelou que tinha cerca de 100 milhões de reais a receber do Estado, mas que, em julho, seu irmão, Luiz Soares, foi avisado de que a dívida seria integralmente quitada desde que ele concordasse em pagar 20% do valor. Ele diz não ter aceitado e que, por isso, o contrato de sua empresa com o governo foi rompido.

A proposta, de acordo com Arthur Soares, teria chegado por intermédio de representantes do pastor Everaldo, uma figura influente no governo. Na época da suspensão do contrato, Luiz Soares procurou um advogado ligado ao chefe da Casa Civil em busca da “solução”.

Nesse encontro, André Moura teria reafirmado o pedido de propina e assegurado que, se o empresário topasse o acordo, o dinheiro seria liberado. As negociações seguiram até o dia 27 de dezembro, quando Arthur Soares diz ter aceitado a proposta e recebido R$ 8,6 milhões para a empresa Cor e Sabor, que fornecia alimentação para o sistema penitenciário, em troca do pagamento de R$ 1,7 milhão em seis parcelas ao Estado.

– Nunca vi esse cara na minha frente nem ninguém ligado a ele. Só ouvi falar das falcatruas dele através de empresas – diz André.

Já o presidente do PSC, pastor Everaldo, defende a investigação de suspeitas de irregularidades e a punição dos envolvidos com base em provas. Em nota, ele destacou que “não responde pelo governo do Rio” e afirma “não ter relação com o empresário”.

Arthur Soares não deu detalhes de como o dinheiro seria entregue ao secretário, mas disse que, àquela altura, já havia decidido colaborar com a Justiça e que aceitar o acordo era parte de uma estratégia para preparar um flagrante. No início do ano, ele apresentou a proposta de delação à Procuradoria-Geral da República.

No relato, Arthur anexou documentos, e-mails e mensagens para mostrar que havia uma negociação de propina em andamento. Numa das mensagens, o empresário Sérgio Serrano, um ex-sócio de Arthur Soares que negociava a liberação dos pagamentos junto ao governo, escreve sobre um tal “chefe supremo”, que seria Witzel, segundo o delator.

Soares também sugeriu aos procuradores que fosse feita uma ação controlada para monitorar a entrega da propina e rastrear o caminho do dinheiro, mas as tratativas com o Ministério Público não avançaram.

Em nota, o governador disse que se colocou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele ainda reiterou o seu “respeito às instituições e apoia as investigações que estão sendo realizadas pelos órgãos de controle”.

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