Damares: ‘Maior preconceito comigo é por causa da religião’
Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos foi entrevistada por Antônia Fontenelle
Henrique Gimenes - 04/06/2019 19h43 | atualizado em 04/06/2019 21h28

Nesta segunda-feira (4), a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, foi a entrevista do programa Na Lata, apresentado por Antônia Fontenelle. Na atração, ela falou sobre sua atuação no governo, as polêmicas de sua gestão e sua história pessoal.
Confira alguns momentos.
Diferença entre a ministra e a pastora
– É a mesma pessoa. Como ministra, não nego minha fé nunca. Nunca neguei. Como pastora eu aprendi a cuidar de gente. Então a minha militância na área de direitos humanos está muito envolvida com o meu trabalho como pastora, que é cuidar de gente sem excluir (…) Eu trago minha experiência para o ministério, mas respeitando o protocolo do cargo. Esse cargo requer responsabilidade, protocolo e o respeito à laicidade do estado. A ministra está aqui – ressaltou.
Educar as crianças sobre a violência contra o idoso
– Vamos trabalhar a violência contra o idoso na escola. Vamos começar a desenvolver programa de respeito e interação entre as gerações. Precisamos voltar a fazer isso. Eu lembro que na nossa época a gente aprendia a respeitar o idoso (…) Quando eu falo que estamos reconstruindo uma grande pátria, é porque estamos buscando o resgate de alguns valores. Isso porque estamos tocando em assuntos delicados. E só um presidente corajoso, e que quer fazer a diferença, tem a coragem de fazer o que vamos fazer, essa contrarrevolução cultural, de trazer o idoso para o centro da proteção. Eu pergunto, você conhece que política pública de amparo e socorro ao idoso no Brasil? – questionou.
Ideologia de gênero
– Há uma diferença entre ideólogos de gênero e os movimentos LGBT. Os ideólogos usaram esses movimentos para implantar sua própria ideologia. Ela vem com a premissa de que que ninguém nasce homem e ninguém nasce mulher, mas sim que isso é uma construção social (…) Essa ideologia que questiono porque ela ainda não está firmada, não tem nenhum respaldo científico (…) E o meu combate é que trouxeram para a infância. A criança não está pronta para discutir uma teoria que não tem respaldo científico ainda. Aí me chamaram de homofóbica, porque eu discutia a ideologia de gênero, mas esqueceram que eu sou apaixonada pelos homossexuais, pelas lésbicas e pelos travestis – apontou.
Desenhos animados
– Como educadora eu sempre trabalhei a questão dos desenhos animados. Por exemplo, lá atrás eu estava preocupada com o Tio Patinhas, era um consumo desenfreado. Depois eu me preocupei com o Pica-Pau, a figura era violenta. Eu como educadora questionava. Eu questiono a terceirização dos filhos, dos pais que colocam as bebês como babás (…) Bob Esponja. Há muitas pesquisas falando sobre ele (…) Eu mostrei uma cena específica e disse para os pais questionarem o que os filhos estavam vendo. Com relação a Frozen, eu estava mostrando uma matéria em que a Bela Adormecida volta e dá uma beijo na princesa de Frozen (…) Eu estava orientando pais, aí pegam só um trechinho e não falam a verdade (…) Eu aprendi lá atrás, quando riram a minha história do pé de goiaba, que eu fiz daquilo uma limonada – recordou.
Suicídio de crianças e adolescentes
– Vocês acham que as crianças não estão se suicidando no Brasil? Porque elas foram abusadas, sofreram bullying, estão com dúvida na identidade. Eu desenvolvi, a partir dali [a história do pé de goiaba], um debate com a sociedade sobre o suicídio de crianças e adolescentes (…) Você pensa que foi fácil para mim admitir publicamente que eu fui estuprada aos seis anos de idade? E que foi um horror e mudou toda a minha vida? Eu estou curada, mas as memórias existem. E falar disso é doloroso (…) Eu tive que falar disso o tempo todo, foi doloroso. Mas chamei atenção para o fato de que eu venci. E foi um recado para milhões de mulheres – destacou.
Preconceito e intolerância religiosa
– Será que se a ministra tivesse visto um duende, e nós temos uma grande apresentadora de televisão que fala isso. Será que se eu tivesse visto que vi o saci ou uma fada [eu seria criticada]? Os escritores que me criticaram porque eu disse que vi Jesus em um pé de goiaba levam ser filhos para ver coisas que não existem. O filho deles pode falar com papai noel e com fadas, mas eu não posso falar que vi Jesus? O que tem aí é uma grande pitada de uma intolerância religiosa no Brasil. O maior preconceito comigo é pela questão religiosa – afirmou.
Combate à corrupção
– Agora vamos apresentar ao Brasil um programa extraordinário de corrupção e direitos humanos. A maior violação de direitos humanos nessa nação foi a corrupção, e vamos trabalhar este tema (…) Vamos fazer uma revolução cultural e trabalhar a criança, o jovem e o adolescente (…) Por conta deste tema, estou auditando as contas desse ministério [da Mulher, Família e Direitos Humanos]. E encontramos um estudo que custou R$ 5 milhões (…) Eu vou auditar todas as contas – disse.
Assista ao programa.
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