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Confira na íntegra o discurso de Lula na 1ª reunião ministerial

Petista encontrou seus 37 ministros no Palácio do Planalto

Thamirys Andrade - 06/01/2023 16h25 | atualizado em 06/01/2023 17h58

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva coordena a primeira reunião ministerial de seu governo, no Palácio do Planalto Foto: José Cruz/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou na abertura da primeira reunião ministerial de seu terceiro mandato, realizada, nesta sexta-feira (6), no Palácio do Planalto. A seus 37 ministros, o chefe do Executivo avaliou que as eleições de 2022 foram “as mais difíceis” que eles participaram e falou que seu governo terá como objetivo “acabar com o ódio” e “reconstruir o país”.

Na ocasião, Lula disse que seu novo governo não é formado por um “pensamento único”, mas por “pessoas diferentes”, uma frente ampla. Ele admitiu que os ministros foram escolhidos com base em acordos políticos com o Congresso, pois o Executivo precisa de governabilidade no Parlamento.

– Nós não mandamos no Congresso, nós dependemos do Congresso, e por isso cada ministro tem que ter a paciência e a grandeza de atender bem cada deputado ou cada deputada, ou cada senador ou cada senadora que o buscar – assinalou.

O petista ainda afirmou que esse será o mandato de sua vida.

CONFIRA O DISCURSO NA ÍNTEGRA:
Bem, companheiros e companheiras, ministros e ministras, companheiros da imprensa, minha querida Janja. O bom filho à casa retorna! Ou seja, doze anos depois nós estamos de volta com o compromisso de unificar o povo brasileiro, acabar com o ódio – não acabar com as divergências – mas acabar com o ódio, fazer política de forma civilizada e, ao mesmo tempo em que a gente vai unificar esse país em torno dos interesses do próprio país, a gente vai ter que reconstruir esse país.

Quem já leu o material feito pela coordenação da transição, liderada pelo companheiro Alckmin, percebeu que esse país foi semidestruído naquilo que foram as políticas sociais, educacionais, política de saúde que nós fizemos, política de investimento, tanto em rodovias e ferrovias, quanto, sabe, no Minha Casa Minha Vida. Tudo isso foi paralisado e nós, então, estamos com o compromisso de reconstruir esse país.

Mas é importante a gente ressalvar o momento em que se deu essas eleições. As eleições mais difíceis que todos nós participamos. Uma quantidade em dinheiro difícil de ser mensurada em reais, quem sabe seja necessário mensurar em dólar a quantidade de dinheiro que foi utilizado na perspectiva de perpetuar um governo autoritário, um governo que é responsável pela morte de grande parte das 700 mil pessoas que morreram no Covid, por desleixo, por desrespeito e por muita ignorância do conjunto do governo.

Então vocês sabem que a nossa tarefa é uma tarefa árdua, mas é uma tarefa nobre. É uma tarefa nobre, porque a gente vai ter que entregar esse país melhor, esse país mais saudável do ponto de vista da saúde mesmo, mais saudável do ponto de vista do ganho da massa salarial, mais saudável do ponto de vista dos pequenos e médios empreendedores desse país, dos pequenos e médios produtores rurais, mais saudável do ponto de vista da educação e mais saudável do ponto de vista da civilidade. Esse país vai voltar a viver democracia e isso foi mostrado na nossa posse. Eu recebi um telefonema de uma pessoa importante que vocês conhecem, talvez um dos melhores escritores do país, o Fernando de Morais.

O Fernando de Morais me telefonou para dizer o seguinte: ele tinha participado da posse na Argentina, em 1972. E ele dizia que aquela posse da Argentina tinha sido a posse mais bonita que ele tinha visto, e, depois da nossa posse ele falou: “vocês bateram de 10 a zero na posse que eu achava a mais bonita da história da eleição no mundo.” E eu penso que nenhum de nós jamais tinha visto um povo emocionado, um povo motivado como nós vimos na nossa posse.

Há muito tempo a gente não via tanta alegria, tanto sorriso estampado na fisionomia de homens, mulheres, crianças, velhos, ou seja, as pessoas parecem que estavam se encontrando consigo mesmo e nós queremos que isso aconteça todo dia. É preciso acabar com as brigas familiares. Durante esse processo, dos últimos quatro anos teve famílias que pais não conversavam mais com filhos, que sogros não conversava mais com noras, que nora não conversava mais com a sogra, que filho não conversava com pai, irmão não conversava com irmão, primo não conversava com primo, tudo estabelecido pelo ódio que foi colocado em prática nesse país.

E a nossa posse mostrou que é possível a gente fazer esse país voltar a sorrir, é possível fazer essas pessoas voltarem a sonhar, e a nossa obrigação é de transformar esse sonho em realidade. Esse é o compromisso de cada companheiro e de cada companheira que assumiu esse ministério. Nós não somos um governo de um pensamento único, não somos um governo de uma filosofia única, não somos um governo, sabe, de apenas pessoas iguais. Nós somos um governo de pessoas diferentes. E o que é importante é que a gente pensando diferente tem que fazer um esforço para que na construção do nosso processo de reconstrução desse país, a gente pense igual, a gente construa igual.

Eu fico muito feliz quando eu vejo um homem do agronegócio, como o ministro da Agricultura, como o companheiro Fávaro. Ou seja, eu penso que o Fávaro é a perspectiva que nós temos de fazer com que as pessoas sérias, os homens de negócio do agronegócio, os empresários de verdade que sabem a responsabilidade da produção de alimentos nesse país, que sabe a necessidade da produção sem precisar ofender ou adentrar a floresta amazônica ou o pantanal, ou qualquer outro bioma que tem que ser protegido.

Esse empresário que produz de forma responsável será por nós muito respeitado e muito bem tratado. Agora aqueles que quiserem teimar e continuar desrespeitando a lei, invadindo o que não pode ser invadido, usando agrotóxico que não pode ser usado, esse, a força da lei imperará sobre eles e nós vamos exigir que a lei seja cumprida, porque nesse país tudo vale. A única coisa que não vale é o cidadão bandido achar que pode desrespeitar a boa vontade da sociedade brasileira, a nossa Constituição e a nossa legislação.

Todos nós sabemos o compromisso extraordinário que nós assumimos durante a campanha, com a volta do crescimento desse país, com a geração de empregos e com o crescimento da massa salarial. É possível a gente fazer a economia voltar a crescer, é possível a gente voltar a crescer com muita responsabilidade, é possível a gente voltar a crescer com distribuição de renda e de riqueza e é possível a gente gerar emprego em que garanta ao trabalhador um pouco de seguridade social.

Nós queremos efetivamente investir muito no fortalecimento do sistema cooperativo neste país, queremos investir muito no micro e pequeno empreendedor, queremos investir muito no pequeno e médio empresário, mas, nós queremos que o trabalhador tenha o mínimo de seguridade social, que tenha garantia de previdência, que ele tenha garantia de registro, que ele tenha a garantia de que quando por motivo qualquer ele estiver impossibilitado de trabalhar, o Estado garanta a ele o mínimo de segurança porque se não a gente não terá o mundo de trabalho sadio e saudável, a gente terá o mundo de barbárie.

Todo mundo sabe o nosso compromisso com a educação, e na educação eu fiz questão de convidar o companheiro Camilo para ser o ministro da Educação porque dentre todos os estados brasileiros, o Ceará é o estado que ao longo de muitos anos vem tendo a mais importante história de educação fundamental e de ensino básico, ou seja, inclusive, talvez seja o estado com mais quantidade de escolas em tempo integral. Quando eu trouxe o Camilo eu também queria trazer a Izolda que é a secretária nacional de Educação Básica, porque sob as costas delas pesa também a responsabilidade de ter sido uma grande educadora, e, portanto, meu caro Camilo, você sabe que você tem responsabilidade.

Na semana que vem eu já quero ter uma reunião com você para discutir o que a gente vai visitar de reforma em escola, porque nós temos 4 mil obras na área de educação paralisadas. Eu não sei se é creche, não sei se é universidade, não sei se é Instituto Federal, mas o que tiver, a gente vai ter que colocar a mão na massa para que a gente possa produzir e reconstruir melhorando a educação, gerando empregos e pagando salários que o povo brasileiro precisa ganhar, porque na verdade o que dá mais orgulho ao povo é trabalhar, e pelo seu trabalho receber o seu salário e sustentar a sua família. Essa é a forma mais dignificante para um trabalhador e uma trabalhadora conseguir sobreviver.

Nós sabemos, Nísia, a responsabilidade que está nas suas costas na área da saúde. Essa é uma área que passa ano, entra ano, passa ano, entra ano, e a saúde sempre está um pouco ausente daquilo que é o sonho do povo brasileiro.

Nós chegamos a avançar, nós chegamos com Farmácia Popular, com Brasil Sorridente, com o Samu, nós chegamos com o Mais Médicos, tendo um avanço muito importante nesse país, que simplesmente, foi destruído. Em nome de combater qualquer coisa. Em nome de tirar na verdade aquilo que estava dando certo para o povo daquela cidade pequena que não vê médico.

Não sei se vocês sabem, mas todo mundo aqui sabe, por que todo mundo aqui já foi governador, já foi prefeito, já foi deputado. Todo mundo sabe que tem cidades nesse país que passam anos sem ver um médico, e muitas pessoas morrem sem serem atendidas por um tal do especialista porque ele não tem vaga. As vezes ele vai no médico, ele vai numa UPA é consultado, pede uma consulta com especialista, ele vai marcar, marca-se para doze meses, para treze meses, pra nove meses, às vezes a pessoa morre sem ter direito a esse médico.

Se nós não resolvermos esse problema, nós não estaremos fazendo jus ao voto e a expectativa que esse povo depositou em nós. Por isso, meus queridos companheiros e companheiras, nós estamos fazendo essa reunião aqui. Eu sei que nenhum de vocês ainda montou o governo, nenhum de vocês ainda montou o ministério. Só foi dado a vocês o direito de escolher o secretário executivo e o chefe de gabinete. É importante que até, possivelmente, até o dia 24, quem sabe já tenhamos o governo todo montado.

Eu só queria que vocês levassem em conta: primeiro, eu não tenho vergonha de dizer que nós vamos montar um governo com gente da política muito competente, vamos montar um governo com gente técnica muito competente. Eu não faço distinção e não quero criminalizar a política. Todo mundo sabe da nossa responsabilidade, todo mundo sabe que a nossa obrigação é fazer as coisas corretas, é fazer as coisas da melhor forma possível, quem fizer errado sabe que tem só um jeito: a pessoa será simplesmente da forma mais educada possível convidada a deixar o governo e se cometeu algo grave, a pessoa terá que se colocar diante das investigações e da própria justiça.

Eu já carreguei na pele muitas coisas ruins. Eu já presidi este país oito anos e fiz muitas reuniões nessa mesa. A mesa era menor, não era tão grande e tão sofisticada, era mais rústica, essa aqui tá mais bonita. E eu só tenho um compromisso com esse país: primeiro ser honesto com o povo brasileiro e ser leal e honesto com vocês.

Eu, primeiro eu sou grato a todos vocês terem aceito o convite que foi feito pra vocês fazerem parte do governo. Segundo, muitos de vocês são resultados de acordos políticos, porque não adianta a gente ter um governo tecnicamente mais formado em Harvard possível, e não ter um voto na Câmara dos Deputados e não ter o voto no Senado. É preciso que a gente saiba que é o Congresso que nos ajuda.

Nós não mandamos no Congresso, nós dependemos do Congresso, e por isso cada ministro tem que ter a paciência e a grandeza de atender bem cada deputado ou cada deputada, ou cada senador ou cada senadora que a buscar. Porque, senão quando a gente vai pedir um voto, que a gente vai falar com deputado ou com o senador ele diz: “Eu não vou votar porque fui em tal ministério e nem me receberam, me deram um chá de cadeira de quatro horas. O ministro nem serviu um cafezinho e uma água”. Eu não quero isso. Nós temos que saber que nós é que precisamos manter uma boa relação com o Congresso Nacional e cada um de vocês, ministros, tem a obrigação de manter a mais harmônica relação com o Congresso Nacional.

Não tem importância que você divirja de um deputado ou de um senador. Quando a gente vai conversar a gente não está propondo casamento, a gente tá propondo aprovar uma tese ou fazer uma aliança momentânea em torno de algum assunto que interessa ao povo brasileiro. Eu quero dizer pra vocês que vou fazer a mais importante relação com Congresso Nacional que eu já fiz.

Eu já estive oito anos na Presidência e eu quero dizer ao líderes, ao Jaques, ao Guimarães, ao Randolfe, que dessa vez vocês não se preocupem, que vocês vão ter um presidente disposto a fazer tantas, quantas conversas forem necessárias com as lideranças, com os partidos políticos, com o presidente Rodrigo Pacheco e com o presidente Arthur Lira.

Não tem veto ideológico para conversar e não tem assunto proibido em se tratando de coisas boas para o povo brasileiro. Então, quero que vocês saibam que vocês contem comigo, porque eu tenho consciência que não é o Lira que precisa de mim, é o governo que precisa da boa vontade da presidência da Câmara. Não é o Pacheco que precisa de mim, é o governo que precisa de um bom relacionamento com o Senado. E assim nós vamos governar esses quatro anos.

Eu tenho dito pra todo mundo que esse será o mandato da minha vida. Todo mundo sabe que eu tenho obsessão para acabar com a fome nesse país. Eu tenho obsessão para garantir e melhorar a saúde para esse povo. Eu tenho uma obsessão porque eu conheço muita gente que morreu com receita no criado, na beira da cama e não tinha cinquenta reais pra comprar um remédio.

E agora, a questão da educação. Nós precisamos de uma vez por todas, dar um salto de qualidade no ensino fundamental e no ensino básico. É preciso que a gente tome consciência. Se a nossa criança não for bem formada no ensino fundamental, no primeiro, no segundo, no terceiro, no quarto, na quinta série, se ele não for bem formado, ele terá mais dificuldade de amanhã se transformar numa pessoa intelectualmente mais preparada, num profissional mais preparado. E o Brasil precisa dessa gente bem formada, porque o Brasil não pode passar mais um século exportando minério de ferro e só exportando soja ou milho.

Nós temos que exportar conhecimento, exportar inteligência, importar coisa mais sofisticada com valor agregado para que este país dê um salto. Deixe de ser um país em desenvolvimento e passe definitivamente a ser um país desenvolvido, fazendo parte daqueles países que se orgulha de ter o seu povo tomando café, almoçando e jantando todo dia, de ter o seu povo com qualidade educacional, de ter o seu povo com qualidade de moradia, de ter o seu povo com qualidade de vida que é o que todos nós prometemos durante toda nossa vida.

Por isso companheiros e companheiras, nessa primeira nossa reunião, Margareth, se prepare, se prepare porque nós vamos ter que fazer uma revolução cultural neste país. Se prepare, porque esse povo precisa de cultura, porque parte da violência que existe neste país, ela não existe por falta de polícia, Flávio Dino, ela existe pela ausência do Estado no cumprimento de suas obrigações. Está faltando escola, está faltando saúde, está faltando lazer, está faltando esporte, está faltando quase tudo.

Um jovem sem área de lazer, um jovem que mora num barraco de 3 ou 4 metros quadrados, que quando abre a porta não tem um metro quadrado para ele brincar. Que jovem nós estamos criando? Que brasileiro ou brasileira saudável a gente está criando? Então, o Estado, ao invés de culpar o povo pobre da periferia, a gente tem que culpar a ausência do Estado, e nós vamos fazer um esforço companheiros, para estar presente aonde o povo precisa de nós. Este é um compromisso que eu não arredarei o pé, e por isso eu digo todo dia: vocês vão ver um senhor de 77 anos com energia de 30, e que não vai ter um minuto de cansaço enquanto a gente não conseguir resolver os problemas dessa sociedade.

Nós já provamos uma vez que é possível, esse país já foi a sexta economia do mundo, esse país já aumentou o salário mínimo em 74%. Esses dias eu fui conversar com uma pessoa que disse: “olha, mas agora foram bancarizados 16 milhões de pessoas”, e eu disse que no meu governo foram bancarizados 70 milhões de pessoas. Nós colocamos uma Argentina, uma Colômbia, dentro do sistema bancário, com mulheres que catam papel, com pessoal da reciclagem e com o povo de rua abrindo conta na Caixa Econômica Federal. Você tem que ver, José Múcio, o que uma mulher chorou quando ao receber o cartãozinho dela da Caixa Econômica, porque ela abriu uma conta, coisa que para nós não tem nenhum valor, para o povo pobre tem um valor incomensurável.

Por isso companheiros, eu vou passar a palavra para o companheiro Geraldo Alckmin que além de vice-presidente, além de coordenador da transição, virou ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Daqui a pouco ele tem mais poder que o presidente da República, e eu vou passar a palavra para o companheiro Alckmin.

Obrigado companheiros, e estejam certos que eu estarei apoiando cada um de vocês nos momentos bons e nos momentos ruins. Não deixarei nenhum de vocês no meio da estrada, não deixarei nenhum de vocês. Vocês foram chamados porque tem competência, vocês foram chamados porque foram indicados pelas organizações políticas que vocês pertencem e eu respeito muito isso e, portanto, estejam certos que vocês terão em mim, se possível, um irmão mais velho, se possível um pai, tratarei vocês como uma mãe trata os filhos, com muito respeito e muita educação e exigindo muito trabalho de cada um de vocês e cada uma de vocês.

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