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“Chamar Bolsonaro de genocida é errado”, diz Glenn Greenwald

Para o jornalista, esta é uma retórica "extremista" e "estúpida"

Thamirys Andrade - 27/04/2021 12h18 | atualizado em 27/04/2021 13h33

Glenn acredita que abordagens do tipo ofendem povos que foram de fato vítimas de genocídio Foto: Agência Senado/Marcos Oliveira

O jornalista Glenn Greenwald criticou o rótulo de “genocida” utilizado por parte da oposição contra o presidente Jair Bolsonaro. Para ele, esta é uma “abordagem desonesta”, “estúpida” e “extremista”, que ofende povos que realmente sofreram extermínio em massa.

– Se você é de esquerda, não basta dizer que acha que Bolsonaro gerencia muito mal a pandemia e que, por isso, pessoas morrem. É nisso que acredito. Não basta dizer que ele preferiu crescimento econômico e defender sua popularidade política a proteger a vida das pessoas. Acho que essa também é uma crítica válida. Mas chamá-lo de “genocida”, como se houvesse um ato intencional de pôr fim à vida de um grupo por causa de sua raça, etnicidade ou religião, o que seria um genocídio de verdade, é errado. Não serei coagido a dizer algo que não é verdade – disse Glenn, em entrevista ao Estadão.

Greenwald lembrou que retóricas semelhantes foram adotadas nos Estados Unidos contra o ex-presidente Donald Trump.

– É algo muito semelhante ao que aconteceu nos EUA, com Trump. As pessoas não se satisfaziam em criticar Trump pelo que ele merecia ser criticado. Trump defendia políticas que eu não só desaprovava como considerava perigosas. Mas não bastava dizer isso. Era preciso compará-lo a Hitler. Você tinha de dizer que ele era ditador, supremacista branco, que ele foi chantageado pela Rússia, que era um agente russo infiltrado. Rótulos malucos e extremistas tinham de ser colocados nele e, se você não fizesse isso, acabava acusado de ser um apoiador de Trump.

Glenn considera este tipo de retórica historicamente ofensiva.

– Um dos motivos para eu ser contrário a essa abordagem é que ela é desonesta. Trump não é um Hitler. E acho que é ofensivo usar o Holocausto e Hitler para se referir a alguém que não é, de forma alguma, capaz de tentar fazer o que fez de Hitler um ser tão unicamente mau, como matar milhões de pessoas por causa da sua raça e religião. Intelectualmente eu considero isso ofensivo, historicamente eu considero isso ofensivo.

O jornalista disse ainda que a abordagem extremista esvazia o significado das palavras e fere a credibilidade do que está sendo dito.

– Também acho que é estúpido porque, quando você usa retórica extremista, as pessoas perdem a confiança no que você está dizendo. Assim, quando chega a hora de realmente fazer soar o alarme para coisas realmente horríveis, as pessoas ignoram, porque essas palavras são ditas tão a esmo que perdem a força. Acho que isso acontece muito com palavras como “racismo”, “misoginia”. Se você as usa exageradamente, elas perdem a força.

Glenn estendeu a sua crítica também a opositores da esquerda.

– Não é só a esquerda que faz isso. Se você perguntar a um bolsonarista o que ele pensa do Lula, ele dirá que é um comunista. Mas Lula governou o Brasil por oito anos, e o capitalismo prosperou; os grandes empresários amam o Lula, o mercado quer Lula presidente de novo porque o Brasil cresceu em termos econômicos. Ele não era comunista, não governou como comunista e nunca vai – disse.

Para o jornalista, muitos internautas utilizam tais retóricas a fim de conquistar visibilidade nas redes sociais.

– Se você for ao Twitter e disser “eis quatro coisas que acho que Bolsonaro fez de errado na pandemia”, você terá uns poucos retuítes; talvez 30 likes. Mas se você postar algo o chamando de assassino, fascista, genocida, um louco como Hitler, você terá 10 mil retuítes, e sua popularidade vai aumentar. Então as redes sociais estimulam esse tipo de discurso.

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