Carlos Bolsonaro justifica frase sobre democracia
Vereador chamou jornalistas de canalhas por interpretação errada
Mayara Macedo - 11/09/2019 10h15
O vereador Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente Jair Bolsonaro, justificou nesta terça-feira (10), sua afirmação da véspera segundo a qual, por vias democráticas, não haverá as mudanças rápidas desejadas no país.
Carlos chamou jornalistas de “canalhas” por terem, segundo ele, interpretado de forma equivocada a frase publicada em sua rede social na segunda-feira (9). De acordo com o vereador, a declaração sobre democracia foi uma justificativa aos que pedem mudanças urgentes, e não uma defesa dele da ditadura militar (1964-85).
– O que falei: por vias democráticas as coisas não mudam rapidamente. É um fato. Uma justificativa aos que cobram . O que jornalistas espalham: Carlos Bolsonaro defende ditadura. CANALHAS! – tuitou.
Na segunda-feira, em postagem alvo de críticas de políticos e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Carlos escreveu: “Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos… e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!”
A postagem inicial de Carlos Bolsonaro recebeu uma série de críticas. Falaram a respeito o presidente interino, Hamilton Mourão (PRTB), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o governador paulista, João Doria (PSDB).
Nesta terça, Mourão defendeu a importância do regime democrático e disse que é possível aprovar medidas com mais celeridade negociando com o Poder Legislativo. O general da reserva salientou que, se não fosse o regime democrático, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) não teria chegado ao comando do Poder Executivo e afirmou que o atual sistema político representa um dos “pilares da civilização ocidental”.
Questionado, o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, disse que Bolsonaro não se manifestou sobre o tema.
– Acredito até que o vereador tenha conversado sobre isso com o presidente da República. Mas esse não é um tema que no momento nós queremos vocalizar, porque o nosso foco é a recuperação do senhor presidente da República. O que é tuitado nas contas pessoais é de responsabilidade de cada uma dessas pessoas que são aquelas que dirigem e que orientam o seu relacionamento via mídia social – disse Rêgo Barros.
Irmão de Carlos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse que a declaração não tem “nada de mais”.
– O que o Carlos Bolsonaro falou não tem nada de mais, ele falou que as coisas na democracia demoram porque tem debate, só isso. A gente debate, a gente fala, por nós teria outra velocidade. Mas o tempo do Congresso não é o tempo da sociedade, ponto – afirmou o deputado, durante sessão da Casa nesta terça-feira.
CRÍTICAS
Para o presidente do Senado, declarações como a de Carlos Bolsonaro merecem desprezo porque a democracia está fortalecida.
– O Senado Federal, o Parlamento brasileiro, a democracia estão fortalecidos. As instituições todas estão pujantes, trabalhamos a favor do Brasil. Então, uma manifestação ou outra em relação a este enfraquecimento tem, da minha parte, o meu desprezo – disse Davi Alcolumbre.
Já Ciro Gomes cobrou uma declaração pública do presidente Jair Bolsonaro em relação à frase de seu filho, enquanto Doria disse pensar o oposto de Carlos.
– Sem entrar na polêmica, eu penso o oposto. Só com a democracia é que nós podemos ter um país soberano, livre e capaz de produzir políticas sociais e políticas econômicas. É só com a democracia, não há nenhum outro caminho possível para o país. E eu estarei ao lado dos democratas – afirmou Doria.
As postagens de Carlos foram feitas enquanto seu pai está internado em São Paulo após passar por cirurgia no domingo (8), a quarta decorrente da facada que levou há um ano durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG).
Rodrigo Maia afirmou a declaração de Carlos “não cabe num país democrático” e que “frases como essa devem colaborar muito com a insegurança de empresários brasileiros e estrangeiros”.
– A gente tem que tomar cuidado com as nossas narrativas porque muitas vezes são além de frases mal colocadas, causam danos ao povo mais carente brasileiro. A gente viu o que aconteceu com a Venezuela, são mais de mil venezuelanos todos os dias passando a fronteira para o Brasil, pessoas passando fome, necessidade. É isso que deu a pressa da Venezuela sem um sistema democrático – firmou o presidente da Câmara.
Carlos Bolsonaro pediu licença não remunerada da Câmara Municipal do Rio de Janeiro no último dia 6 de setembro. A comunicação foi publicada nesta terça-feira no Diário Oficial da Casa. Desde sábado (7), acompanhando o pai, ele tem dormido no Hospital Vila Nova Star, na zona sul de São Paulo.
A licença não remunerada para tratar de assuntos particulares, caso de Carlos, tem um período máximo de 120 dias por sessão legislativa. Dizendo-se desgostoso com a política, Carlos tem dito a aliados que desistiu de concorrer à reeleição à Câmara do Rio, está em seu quinto mandato seguido, e lançou a própria mãe, Rogéria, para a disputa.
*Folhapress
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