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Campos Neto diz que Lula “tem direito a fazer críticas” ao BC

Presidente do Banco Central se diz "mais ou menos preparado" para a situação

Pleno.News - 25/08/2023 17h33 | atualizado em 25/08/2023 18h27

Roberto Campos Neto Foto: EFE/André Borges

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que as críticas do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), à condução da política monetária não o machucaram e que estava “mais ou menos preparado” para essa situação. Ele fez a negativa quando questionado sobre o assunto em entrevista em vídeo gravada ao Amarelas on Air, da revista Veja.

Segundo o economista, Lula “tem direito de fazer suas críticas”.

– O presidente ganhou de forma democrática e tem direito de fazer suas críticas – disse.

Campos Neto diz que esse quadro faz parte do processo de autonomia da instituição, que está sendo testado.

– É a primeira vez que [o presidente de um BC] cruza um governo. Precisamos mostrar que trabalhamos com autonomia – disse, repetindo que é apenas um voto de nove e que o colegiado toma decisões de forma “muito técnica”.

– O tempo vai mostrar seriedade, autonomia e tecnicidade do trabalho do BC – garantiu.

Campos Neto citou também que não é apenas no Brasil que ocorrem situações como esta, e mencionou críticas do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump a representantes do Federal Reserve (Fed, o BC norte-americano).

Uma das críticas que vieram de Lula e também de alguns agentes de mercado era a de que a inflação doméstica subia por causa da oferta e que, portanto, não seria algo a ser combatido com elevação ou manutenção da taxa de juro em patamar mais alto.

Campos Neto, porém, refutou o argumento, dizendo que houve apenas pontos passageiros que indicavam componentes de inflação de oferta. Segundo ele, medidas de núcleos, de serviços e a própria dinâmica dos preços revelam que fica bastante aparente que a alta foi mais baseada em demanda do que em oferta.

– Mesmo que fosse mais de oferta, o BC tem obrigação de combater o que chamamos de choque de segunda ordem – afirmou, dizendo que BCs da África do Sul e da Inglaterra fizeram discursos recentes que também vão nesse sentido.

Por isso, conforme o presidente do BC, é possível avaliar que a instituição conseguiu fazer um trabalho de pouso suave, com a redução da inflação com o mínimo de dor em termos de crescimento, emprego e crédito para as empresas.

– Quando pegamos a definição de pouso suave, acho que podemos dizer que trabalho foi bem-feito. Na verdade, o trabalho ainda não terminou, mas podemos dizer que ainda está sendo feito.

E acrescentou:

– Ainda temos uma luta remanescente sobre a inflação.

Campos Neto voltou a dizer que o quadro do BC é muito técnico e que o governo Lula está aprendendo a lidar com um presidente da instituição que não foi de sua escolha. Há o aprendizado, segundo ele, dos dois lados.

De qualquer forma, Campos Neto comentou que não acredita em um desvio da atuação da autoridade monetária com a chegada de novos membros ao BC e que, se houver um pensamento muito diferente, o sistema de metas de inflação vai mostrar o caminho de quadro mais técnico.

– Mas sempre haverá debate – apontou.

*AE

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