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Bolsonaro e Moro se reúnem após vazamento de conversas

Após encontro, eles compareceram a um evento no Grupamento de Fuzileiros Navais

Jade Nunes - 11/06/2019 11h22 | atualizado em 11/06/2019 15h01

Presidente Jair Bolsonaro e o ministro Sergio Moro se encontraram nesta terça-feira Foto: Agência Brasil/Antonio Cruz

Após o vazamento de mensagens do ministro da Justiça, Sergio Moro, com procuradores da Lava Jato, o presidente Jair Bolsonaro mudou sua agenda de compromissos nesta terça-feira (11) para uma conversa com o ex-juiz.

O encontro, que ocorreu por volta das 9h no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, não estava previsto na agenda pública de Bolsonaro. Até agora, o presidente não se pronunciou sobre o caso. Seus filhos e alguns de seus ministros, contudo, saíram em defesa pública do ministro.

No horário que recebeu Moro, Bolsonaro havia programado uma reunião com representantes de criadores de cavalo mangalarga. Este foi o primeiro encontro dos dois desde que o conteúdo da troca de mensagens entre Moro e o procurador Deltan Dallagnol veio a público, no domingo, por meio do site Intercept Brasil.

Após conversa reservada entre o presidente e o ministro, os dois foram juntos a um evento no Grupamento de Fuzileiros Navais em Brasília, em um barco que navegou pelo Lago Paranoá.

Nesta segunda, o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, descartou a possibilidade de demissão de Moro do Ministério da Justiça.

– Jamais foi tocado nesse assunto – afirmou, ao ser questionado sobre a possibilidade de Moro deixar o cargo.

Rêgo Barros disse que o presidente não comentaria o vazamento de mensagens e que ele aguardava a apresentação de explicações do ministro sobre o episódio.

Moro passou a segunda-feira em Manaus, no Amazonas, em viagem a trabalho. No Norte do país, o ex-juiz da Lava Jato disse “não ter visto nada de mais” no conteúdo de sua conversa com o procurador.

Segundo o porta-voz, Bolsonaro conversou por telefone com Moro na segunda. Rêgo Barros afirmou “desconhecer” se Bolsonaro leu as matérias que relatam a troca de conversas entre Moro e Dallagnoll.

Mensagens divulgadas no domingo pelo site The Intercept Brasil mostram que Moro e Deltan trocavam colaborações quando integravam a força-tarefa da Lava Jato. Os dois discutiam processos em andamento e comentavam pedidos feitos à Justiça pelo Ministério Público Federal.

Após a publicação das reportagens, a equipe de procuradores da operação divulgou nota chamando a revelação de mensagens de “ataque criminoso à Lava Jato”. Também em nota, Moro negou que haja no material revelado “qualquer anormalidade ou direcionamento” da sua atuação como juiz.

A Polícia Federal tem ao menos quatro investigações abertas para apurar ataques de hackers em celulares de pessoas ligadas à Operação Lava Jato, em Brasília, São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro. Uma das suspeitas é a de que os invasores tenham conseguido acesso direto a aplicativos de mensagens dos alvos, sem precisar instalar programas para espionagem.

O pacote de diálogos que veio à tona inclui mensagens privadas e de grupos da força-tarefa no aplicativo Telegram de 2015 a 2018.

Segundo as mensagens, Moro sugeriu ao Ministério Público Federal trocar a ordem de fases da Lava Jato, cobrou a realização de novas operações, deu conselhos e pistas e antecipou ao menos uma decisão judicial.

O governo Bolsonaro adotou cautela em relação ao vazamento de conversas entre o ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol. A equipe do presidente quer evitar movimentos prematuros, antes que fique clara a dimensão completa do caso.

Nas conversas privadas, membros da força-tarefa fazem referências a casos como o processo que culminou com a condenação de Lula por causa do tríplex de Guarujá no qual o petista é acusado de receber R$ 3,7 milhões de propina da empreiteira OAS em decorrência de contratos da empresa com a Petrobras.

O valor, apontou a acusação, se referia à cessão pela OAS do apartamento tríplex ao ex-presidente, a reformas feitas pela construtora nesse imóvel e ao transporte e armazenamento de seu acervo presidencial. Ele foi condenado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

Preso em decorrência da sentença de Moro, Lula foi impedido de concorrer à Presidência na eleição do ano passado. A sentença de Moro foi confirmada em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região e depois chancelada também pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

CONFIRA UM RESUMO DOS DIÁLOGOS EM 3 PONTOS:
1. Troca de colaborações entre o então juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato.
2. Dúvidas de Deltan a respeito da solidez das provas que sustentaram a primeira denúncia apresentada contra o ex-presidente Lula.
3. Conversas em um grupo em que procuradores comentam a solicitação feita pela Folha de S.Paulo para entrevistar Lula na cadeia.

*Folhapress

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