Para alemães, Bolsonaro tenta falsificar história do nazismo
Deputado disse ver traços da ideologia de Hitler no governo brasileiro
Rafael Ramos - 05/04/2019 12h03
As declarações do presidente Jair Bolsonaro e do chanceler Ernesto Araújo associando o nazismo à esquerda revoltaram membros do Parlamento alemão. Deputados classificaram a comparação feita pelo governo brasileiro como inaceitável.
– Os nazistas já usavam conscientemente a distorção política como instrumento da sua propaganda fascista. O fato de Jair Bolsonaro se apoiar nesta mentira é um ultraje nojento às vítimas do nazismo. Essas declarações difamam a memória das vítimas da violência nazista. Um movimento de esquerda luta pela liberdade e igualdade das pessoas, ou seja, justamente o contrário – disse a presidente do Grupo Parlamentar Teuto-Brasileiro no Parlamento Alemão, a deputada Yasmin Fahimi.
Porta-voz de política externa do Partido Verde, Omid Nouripour também condenou as declarações de Bolsonaro e do ministro das Relações Exteriores.
– Isso é uma distorção e falsificação massiva da verdade histórica. A tentativa de desacreditar a esquerda com esse absurdo é uma manobra concertada internacionalmente pela extrema-direita para desviar a atenção de sua política vazia, porém, desumana.
Nem mesmo Olavo de Carvalho foi poupado das críticas. O deputado Martin Hess, que integra a legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), destacou que o presidente brasileiro se baseou em argumentos do escritor.
– Nosso partido se concentra em encontrar soluções para problemas atuais e ameaças à nossa segurança e ao nosso bem-estar. Assim, devemos deixar debates históricos para historiadores e filósofos.
Já o deputado Alexander Ulrich, do partido A Esquerda, falou que Bolsonaro e Ernesto Araújo são uma negação deliberada da história e política.
– Isso é para um presidente, especialmente de um país grande como o Brasil, extremamente dramático e perigoso. Com essas declarações, Bolsonaro quer desacreditar a esquerda, no entanto, ele acaba apenas se ridicularizando. Pelo contrário, vejo uma série de traços do nazismo na própria política de Bolsonaro. Ficaria surpreendido se ele descrevesse a si próprio como de esquerda – finalizou.
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