Hacker que extorquiu padre Robson tinha caso com ele
Religioso usou dinheiro da igreja para pagar por silêncio
Gabriela Doria - 25/08/2020 19h10 | atualizado em 25/08/2020 19h36

Os hackers que extorquiram quantias milionárias do padre Robson Oliveira Pereira, de 46 anos, ameaçavam expor os relacionamentos amorosos do sacerdote. Pelo menos um dos criminosos se dizia amante do líder da Basílica do Divino Pai Eterno em Trindade, em Goiânia.
O Ministério Público de Goiás e a Polícia Civil calculam que Robson tenha desviado R$ 2,9 milhões da Associação dos Filhos do Divino Pai Eterno (Afipe) para evitar que os casos amorosos viessem à tona. As investigações apontam que o pároco era ameaçado de ter pelo menos dois relacionamentos expostos.
As quantias movimentadas ilegalmente por Robson geraram a Operação Vendilhões, que foi deflagrada recentemente e investiga desvios que chegam a R$ 120 milhões na Afipe.
A defesa do líder religioso nega que havia algum conteúdo que comprometesse a reputação de Robson.
– Padre Robson foi vítima de extorsão, tendo buscado suporte da Polícia Civil, que monitorou as transações, e culminou na prisão dos extorsionários. Já houve sentença, e os criminosos foram punidos pelo Judiciário com severidade. Não havia qualquer conteúdo verídico como objeto das ameaças – afirmou.
Na ocasião das ameaças, em 2019, cinco pessoas foram condenadas pelo esquema de chantagem, com penas que variam entre 9 e 16 anos de prisão. Um dos sentenciados é o hacker Welton Ferreira Júnior, que admitiu ter se relacionado com o padre.
Dos R$ 2,9 milhões movimentados, a Afipe ficou no prejuízo de R$ 1,2 milhão. A defesa do padre afirma que parte do dinheiro extorquido foi recuperado e está depositado em uma conta judicial, aguardando liberação.
CASOS AMOROSOS
O juiz Ricardo Prata, que está à frente do caso, afirmou em sua decisão que o próprio hacker que invadiu os celulares e e-mails do padre seria um dos amantes do católico. Ele destaca o que foi dito à época pelos criminosos.
– Observa-se que os acusados foram responsáveis por transmitir as ameaças à pessoa da vítima [Robson], por meio de mensagens em aplicativos e e-mails. Nessas, disseram os acusados que a vítima possuiria relacionamento amoroso com diversas pessoas, inclusive com o próprio Welton – apontou o magistrado.
Outro documento usado para chantagear o padre aponta o suposto envolvimento com uma mulher do círculo de amizades do religioso. Segundo os registros, um policial civil que estava na investigação e uma pessoa do convívio do pároco confirmaram que existia uma foto de Robson próximo da mulher, além de uma conversa íntima entre eles.
– Ele [Robson] me mostrava [mensagens]. Um dos vídeos, vamos lá, um deles né, parece que era um vídeo gravando a tela de outro celular, onde tinha uma foto do padre com a [mulher] próximos um ao outro, e suposta troca de mensagens amorosas, né? – disse a testemunha ao MP.
O próprio hacker também confirmou a existência da foto.
– Tinha foto dele com uma moça. Ela falando da data do primeiro encontro dele, essas coisas – disse Welton.
ENTENDA O CASO
O Ministério Público de Goiás abriu investigação contra o padre Robson de Oliveira Pereira. Ele é suspeito de ter desviado R$ 120 milhões de doações de fiéis em Trindade, na Região Metropolitana de Goiás.
Aos 46 anos, Robson é fundador da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) e era reitor do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno. Com um programa de TV, ele é uma figura bastante presente na cena católica.
Nesta sexta-feira (21), a operação chamada de Vendilhões cumpriu 16 mandados de busca e apreensão em imóveis ligados ao padre. O MP investiga se o dinheiro das doações foi usado em compras de bens luxuosos, que incluem uma fazenda de R$ 6 milhões em Abadiânia, no leste de Goiás, e uma casa de praia, no valor de R$ 3 milhões, em Guarajuba, na Bahia.
De acordo com a denúncia, a rede de desvio de dinheiro da Afipe envolve empresas de comunicação, postos de combustíveis e o vice-prefeito de Trindade, Gleysson Cabriny de Almeida. Segundo o Ministério Público, Robson teria criado várias associações com nome de fantasia Afipe ou similar, com a mesma finalidade, endereço e nome.
Entre anos de 2016 e 2018, os donativos somavam mais de R$ 746 milhões. A operação apura se parte do valor, aproximadamente R$ 120 milhões, foram desviados para empresas e pessoas investigadas no processo.
Diante das investigações, Robson de Oliveira pediu afastamento de suas funções do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno e da Afipe. A informação foi divulgada por meio de um documento assinado pelo arcebispo da Arquidiocese de Goiânia, dom Washington Cruz.