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Diretor da Agência Lupa: "Ninguém mais quer um cientista político na campanha eleitoral, mas um engenheiro de dados"

Pleno.News - 08/10/2020 15h01 | atualizado em 08/10/2020 15h13

Gilberto Scofield é executivo da Agência Lupa e explica como é a checagem de fatos Foto: Divulgação

O trabalho de um checador de notícias falsas muito se assemelha ao de um cientista. É o que defende a International Fact-Checking Network (Rede Internacional de Checagem de Fatos), órgão que estipula as regras que devem ser seguidas pelas agências de checagem.

O executivo Gilberto Scofield, diretor de Estratégias e Negócios da Agência Lupa, concedeu uma entrevista ao Pleno.News e explicou em que se baseia o trabalho da agência, sobre o risco da disseminação das fake news e como saber se uma agência de checagem de fatos é confiável.

Como funcionam as agências de fact-checking?
Cada agência adota um modelo de negócio, mas todas elas têm um parâmetro, definido pela IFCN (International Fact-Checking Network), que estabelece princípios do que é uma checagem de fatos. Há uma série de parâmetros de checagem em termos de metodologia científica.

Você considera as redes sociais disseminadoras de fake news?
Na minha opinião muito particular, uma das plataformas mais perigosas é o Twitter. É a rede que vejo que menos faz ações contra notícias falsas, a não ser localizar contas de robôs (também conhecidos como bots), para tentar transformar assuntos que não são tendência em Trending Topics. De alguma forma, acho que o Twitter tinha que automatizar essa percepção de que a conta é de um humano ou um robô.

Cada agência adota um modelo de negócio, mas todas têm um parâmetro a seguir

É possível saber facilmente se uma conta do Twitter é de um robô?
Sim! São contas que ficam replicando o mesmo assunto ou hashtag para que elas subam aos Trending Topics. São contas que ficam respondendo outras postagens com o mesmo conteúdo exato. Você percebe isso muito claramente. Eu acho que as plataformas tinham que se empenhar mais e que os governos deveriam se posicionar e exigir que as plataformas se empenhem mais contra isso. É desonesto. Não falo em coação, censura ou punição, mas em uma postura de exigir das redes sociais maior responsabilidade sobre o conteúdo.

Afirmação de Bolsonaro circulou nas Eleições 2018, mas é falsa Foto: Reprodução

O Twitter é muito usado por personalidades da política. Você acha isso positivo ou negativo para as campanhas?
Os marqueteiros políticos se apropriaram dos saberes das redes sociais e tiraram dos cientistas políticos o trabalho de análise de como o candidato se relaciona com seu público. Eles passaram a pensar: “qual é o conteúdo que eu devo entregar para este público via mídia social para que ele receba exatamente o que quer de mim?”. Isso é possível encontrar via algoritmos de inteligências artificiais de rede neural. Virou um meio de “bolhas”. Como as bolhas interagem, o que se fala nelas e o que se pode entregar para que essas bolhas tenham o que querem ouvir. Olha como o jogo mudou! Ninguém mais quer um cientista político clássico na campanha eleitoral, mas um engenheiro de dados para que o discurso seja modelado baseado em quem vai ouvir.

Ninguém mais quer um cientista político na campanha eleitoral, mas um engenheiro de dados

As redes sociais possuem um sistema de rastreamento de fake news?
Não há rastreamento de notícias falsas. O que tem é a possibilidade de denúncias dos próprios usuários e leitores. Quem checa a plataforma é o leitor. Ele é que diz para nós sobre o que estamos fazendo. A mediação entre o Facebook e a agência de checagem é feita pelo usuário. É ele que diz o que acha que é falso e denuncia.

E quem checa a agência de checagem?
Essa pergunta tem vários níveis de resposta, mas afirmo que quem checa é o leitor. A IFCN (International Fact-Checking Network) mantém as diretrizes que as agências de checagem de fatos seguem e os membros da IFCN também checam o trabalho dos checadores. O leitor precisa acompanhar tudo o que o checador faz, refazer os dados e chegar na mesma resposta. Ele precisa ser capaz de entrar nos mesmos bancos de dados e ter acesso às mesmas fontes usadas pela agência de checagem. Se isso não for possível acontecer, a agência não fez um trabalho legal. Existe uma metodologia científica por traz da checagem de fatos.

Não falo em coação, censura ou punição, mas em uma postura de exigir das redes sociais maior responsabilidade sobre o conteúdo

Como você avalia o crescimento das mensagens falsas nos aplicativos de mensagem e redes sociais? Acha que será combatido?
É preciso separar o que é a verdade dos fatos do que é uma tese conspiratória sobre determinado ponto de vista, seja ele de esquerda ou de direita. Eu estou dizendo que qualquer viés de governo é conspiratório. Todo mundo mente! Todo mundo tenta, de alguma maneira, puxar a brasa para a sua sardinha. E o fato é que a verdade está aí (em algum lugar). Os ataques de reputação pioraram muito com os anos e se tornaram uma estratégia política e não um acidente de percurso. E acho que isso vai piorar.

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