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Crueldade: Sofrimento dos animais na indústria da beleza

Úlceras, cegueira, hemorragias e transtorno pós-traumático são alguns dos problemas provocados por testes cruéis

Rafael Ramos - 26/07/2019 18h19 | atualizado em 29/07/2019 11h31

Quanto vale o tratamento de beleza de uma pessoa? E se ela soubesse que o cosmético de sua marca favorita foi testado em um coelho indefeso e assustado? É verdade. Animais estão passando por sofrimentos de vários níveis para que mais e mais cosméticos possam ser comprados e usados. Um coelho, por exemplo, recebe aplicações de ácido nos olhos, seu pelo é raspado e algumas mudanças genéticas são realizadas antes mesmo que esses bichos nasçam.

Essa é a realidade por trás da indústria de cosméticos com testes realizados em animais. No site do People for the Ethical Treatment of Animals (Peta) é possível acessar uma lista contendo o nome das empresas que realizam esses tipos de testes. Marcas conhecidas como Avon, Dolce & Gabanna, Garnier, Johnson & Johnson, L’Oreal, MAC, Mary Kay e Victoria’s Secret estão incluídas na chamada “lista negra” do portal.

CHINA É O NÚMERO 1 EM TESTES
Em entrevista ao Pleno.News, Louise Patrício, CEO da empresa Beleza Pura Store, que comercializa produtos livres de testes em animais, revelou o que há por trás desses testes e o quão cruéis eles são para os animais.

– As pessoas têm uma ilusão de que basta pegar o cosmético e aplicar e pronto. Na verdade, até que isso aconteça, animais ficam presos em laboratórios por uma vida inteira. Dependendo do teste, eles prendem o animal, raspam seu pelo e aplicam componentes para ver como vão reagir e o quanto o animal vai suportar. Os coelhos são muito usados em testes de verificação dos olhos porque a pupila deles é muito parecida com a nossa. Eles vão pingando o produto até que o animal fique cego. Esses animais passam a vida inteira sendo torturados e não sabem o que é viver em liberdade ou receber carinho – relatou.

Apesar de estudos comprovarem que os testes em animais não garantem a eficácia do produto na pele humana, as empresas continuam adotando o método porque o custo é infinitamente inferior. Louise explica que muitas das grandes marcas testam e produzem seus produtos na China, que está em primeiro lugar na realização desses exames que são obrigatórios. Em alguns laboratórios, os animais chegam a ser modificados geneticamente para que já nasçam sem pelos.

ANIMAIS SOB STRESS ABSOLUTO
Como forma de propagar informação sobre esses casos, a jornalista e ativista Silvana Andrade fundou a Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA). Silvana detalhou à redação do Pleno.News que os testes são absolutamente desnecessários, visto que existem métodos 100% substitutivos.

– Você tem testes de pele e de olho computadorizados e até mais efetivos do que os que são feitos nos animais que estão em um ambiente artificializado e com absoluto stress. Eles colocam um termômetro de 7 a 8 centímetros no reto dos animais. E eles ficam contidos em caixas com um espaço onde basicamente mexem os olhos e a cabeça. Atualmente, o botox também é testado nos bichos. Existe o teste de dose letal mediana (DL50), onde é dado 1g de um determinado ativo químico a um determinado número de animais para saber quantos morrem no aumento gradual dessas substâncias químicas. Além de coelhos, também são usados porquinhos-da-índia, camundongos, cachorros, porcos e macacos. Os produtos causam dor, irritação, ardência, cegueira. Alguns animais são obrigados a ficar com clipes nos olhos para mantê-los abertos o tempo inteiro aberto. São estudos, geralmente, feitos sem anestesia, provocando úlceras e hemorragias. Após testados, estes animais são descartados como se descarta um papel velho.

Além dos danos físicos, estes seres vivos passam a carregar problemas emocionais gravíssimos e permanentes. Mesmo que sejam resgatados, ainda sofrerão de stress pós-traumático, algo difícil de curar. Os animais desenvolvem neuroses em grau violento e apresentam um comportamento bastante agressivo.

INEFICIÊNCIA DOS TESTES
Na área de cosméticos, a estimativa é de que mais de 500 mil testes são realizados por ano. Entretanto, Silvana Andrade conta que os testes não garantem a segurança paras pessoas, que ainda assim podem ter reações fortes que podem, inclusive, levar à morte.

– Na década de 90, você tinha uma família de anti-inflamatórios que causou efeitos colaterais e mortes em 140 mil famílias só nos Estados Unidos. A empresa pagou quase US$ 5 bilhões em multa, mas lucrou US$ 15 bilhões em poucos anos. Os efeitos colaterais são a quarta causa de mortes no mundo. As indústrias de cosméticos lucram com a doença da pessoa e não é à toa que eles têm tanto dinheiro, assim como a indústria farmacêutica.

A empresária Louise Patrício acredita que a falta de informação sobre esses casos acaba colaborando para que o sofrimento dos animais continue. Com isso, as indústrias ficam mais ricas. Responsável por desenvolver, elaborar, produzir e acompanhar os efeitos e resultados de produtos cosméticos vendidos pela Beleza Pura Store, Louise sempre avalia se tais marcas realmente são testadas em animais.

– A gente é meio ignorante em relação a vários assuntos e as pessoas ficam chocadas quando sabem sobre a realidade dos testes. É importante que o consumidor, que é quem tem o poder da escolha, saiba se uma empresa está preocupada com a saúde do consumidor e também com o bem-estar dos animais. A maioria que faz os testes não está se importando com a nossa saúde. Eles enchem os cosméticos com elementos altamente cancerígenos que se acumulam no organismo.

LEIS DE PROTEÇÃO
A Unilever tem sido alvo de várias acusações por ser favorável aos testes. Detentora de várias outras empresas, como Dove, Lux, Axe e Rexona, o conglomerado emitiu um comunicado onde afirma não realizar testes e que cumpre o banimento na Europa desde 2004 e apoia iniciativas globais similares.

Entretanto, no mesmo texto, a Unilever afirma que “em alguns mercados, parte dos ingredientes que usamos no nosso portfólio devem, ocasionalmente, ser testados por nossos fornecedores para atender às exigências legais e regulatórias; e alguns governos testam certos produtos em animais como parte de seus regulamentos”.

Reprodução da publicação do site da Unilever Foto: Reprodução

 

Em 2009, os países da União Europeia proibiram os testes em animais para fins cosméticos. Quatro anos depois, foi vigorada uma ação que bania a importação de produtos e ingredientes de forma a preservar a saúde e a integridade dos animais.

No Brasil, cabe ao Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA) elaborar normas de utilização animal de forma humanitária para fins de pesquisa e ensino. Em 23 de janeiro de 2014, o então governador de São Paulo Geraldo Alckmin sancionou um projeto de lei que proíbe o uso de animais para testes de produtos cosméticos, higiene pessoal e perfumes.

Em dezembro do mesmo ano, uma lei entrou em vigor em Santos (SP) proibindo a concessão ou renovação de alvarás de funcionamento para instituições que pratiquem testes com animais para quaisquer finalidades. Três anos depois, no Rio de Janeiro, deputados estaduais derrubaram o veto do então governador Luiz Fernando Pezão ao projeto de lei que proíbe a utilização de animais para teste de produtos cosméticos e de higiene pessoal. Entretanto, isso não proibiu a comercialização desses produtos.

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