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Coachs falam sobre possível criminalização da profissão

Profissionais defendem a regulamentação da prática e punição aos charlatões

Rafael Ramos - 03/06/2019 15h04 | atualizado em 03/06/2019 16h08

Luciano Vilaça comenta as polêmicas envolvendo a prática do coaching no Brasil Foto: Reprodução

Da mesma forma que a prática do coach está em alta, ela também tem sido alvo de polêmicas e críticas. Um exemplo aconteceu no ano passado, quando a novela O Outro Lado do Paraíso (TV Globo) sugeriu que é possível curar traumas causados por abusos na infância por meio de técnicas de coaching e hipnose. Algo desaprovado pelo Conselho Federal de Psicologia.

O psicoterapeuta e PhD em coaching Luciano Vilaça explica que a atividade profissional ainda não é regulamentada no Brasil. Dezenas de empresas oferecem formações em suas diversas modalidades com características específicas. Ele alerta que a atuação só deve ser feita por pessoas qualificadas e competentes.

– Há muitas pessoas sérias fazendo um excelente trabalho por aí, mas há também muitos oportunismos mercadológicos, arrogância, idiotização, fantasias e ilusões. Isso acaba produzindo o inevitável: modismos superficiais, utilitarismos, banalização e descrédito dos mais lúcidos e antenados. Essa atividade demanda uma ética específica, maturidade existencial, saúde psicológica e muita supervisão de um coach mais experiente; além disso, requer também bases epistemológicas e científicas sólidas – declarou ao Pleno.News.

Tais oportunismos e ilusões motivaram o sergipano William Menezes a sugerir uma lei que criminalize a prática do coaching. A ideia legislativa conseguiu mais de 24 mil apoiadores no Portal e-Cidadania, do Senado Federal. Caso seja aprovada e entre em vigor, a lei “não permitirá o charlatanismo de muitos autointitulados formados sem diploma válido. Não permitindo propagandas enganosas como: ‘Reprogramação do DNA’ e ‘Cura Quântica’. Desrespeitando o trabalho científico e metódico de terapeutas e outros profissionais das mais variadas áreas”.

– Tanto quem busca um coach para uma aplicação pessoal, como quem procura uma escola de formação, deve ter muita cautela para não ser vítima de falsos profetismos e otimismos ufanistas. Devemos reconhecer que, nesse cenário de efervescência e ascensão do coaching no Brasil, há um pouco de tudo: coragem, ingenuidade, presunção e oportunismos mercadológicos. Apesar de todas as possibilidades existentes de transformações e mudanças que o processo de coaching pode proporcionar, não podemos perder de vista que, ao visitarmos os porões do inconsciente e do psiquismo humano, haverá sempre zonas obscuras impenetráveis pelo processo. Embora tenha efeitos psicoterápicos, não pode ser confundido com a psicoterapia – esclarece Vilaça.

Bárbara Nogueira defende a regulamentação do coach no Brasil Foto: Carmine Furletti

A psicóloga e consultora de carreiras Bárbara Nogueira reforça que a especialidade de um coach é apoiar o indivíduo em seu desenvolvimento pessoal e profissional. Ele estimula e desafia o interessado a criar novas opções e escolhas e assim chegar ao seu objetivo de forma assertiva e metodológica com procedimentos específicos.

– A metodologia é indicada para qualquer pessoa que tem uma meta a ser alcançada, focada no futuro, seja a curto, médio ou longo prazo. Por meio do coaching pode-se obter o apoio necessário para desenvolver as competências técnicas ou emocionais, criar novas alternativas e caminhos, além de novas ações para acelerar o atingimento dos resultados almejados – enumera Bárbara.

Sobre a questão da criminalização, a consultora defende que a prática seja regulamentada no país e que haja punição para os chamados charlatões.

– A discussão sobre a regulamentação da prática do coaching é muito válida, visto que é uma metodologia muito eficaz para o desenvolvimento de pessoas no âmbito pessoal e profissional. O processo também auxilia a elevação do nível de consciência para aumento de performance e para o atingimento de resultados e objetivos, em menor espaço de tempo. Nesse cenário de crise e desemprego de nosso país, pessoas mal-intencionadas estão se aproveitando do apelo comercial da palavra coaching e o termo acabou sendo usado erroneamente, sendo vinculado, inclusive, a práticas que não são relacionadas à metodologia estruturada de coaching.

Mel Gonzalez destaca que há profissionais que contribuem no desenvolvimento humano Foto: Reprodução

A mentora de carreira e business Mel Gonzalez faz questão de ressaltar que, enquanto o coach foca no estado atual do cliente e oferece ferramentas para realizar suas metas e objetivos, o psicólogo atua de forma mais profunda levando o indivíduo a um estado de equilíbrio emocional. Ela considera inapropriada a tentativa de criminalizar a prática no Brasil.

– Há profissionais sérios no mercado e que contribuem significativamente no desenvolvimento humano. A regulamentação da profissão, assim como qualquer área relacionada ao cuidado do ser humano, é importante para se ter uma definição de padrões e garantir a qualidade e certificação dos profissionais que atuam.

Com esses modismos, como a reprogramação de DNA, Mel vê como arriscada a forma como muitos tentam misturar diferentes estudos com o processo de coach. Algo assim pode abrir margem a um diagnóstico que não servirá para a atuação do profissional.

– Um coach sério entende seus limites de atuação, trabalha com temas pertinentes à sua área e foca na ação. O picareta utiliza de forma leviana sua formação para propagar promessas de transformação e curas instantâneas. Esbarra-se em temas de patologias e doenças emocionais. Nenhuma linha de cuidado humano tem esse poder de oferecer esta transformação imediatista. É muito importante refletirmos que não é necessário uma disputa de espaço de atuação entre o psicólogo e o coach. Juntos, eles podem trabalhar de forma complementar, com o objetivo incomum de proporcionar ao paciente/cliente uma melhora e avanço em seu desenvolvimento pessoal e profissional – finaliza a mentora.

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