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Willian Augusto da Silva também sonhava em ser bombeiro

Ana Luiza Menezes - 21/08/2019 19h13 | atualizado em 21/08/2019 19h14

Willian Augusto da Silva Foto: Reprodução

Quando assistia a reportagens sobre crimes, Willian Augusto da Silva, de 20 anos, ficava revoltado. É o que conta uma ex-professora do jovem, morto na terça-feira (20) pela polícia após manter 39 pessoas reféns em um ônibus na ponte Rio-Niterói.

– Tá vendo, que absurdo. Como o cara tem coragem de fazer uma coisa dessas? – dizia ele à mãe.

– Você percebe que ele não era uma pessoa ruim. Essas coisas o chocavam – afirmou à Folha Maria do Nascimento, que deu aulas para Willian quando ele tinha cerca de 13 anos.

Maria conversou com a reportagem por telefone, nesta quarta-feira, durante o velório de Willian. Respondeu a algumas das perguntas com ajuda de uma tia do jovem, que estava a seu lado.

A professora afirmou que Willian era muito calado, mas responsável e respeitoso. Era apaixonado por ler e, segundo a família, queria ser bombeiro para salvar vidas. A professora também disse que ele não tinha maturidade emocional, e que ficava muito nervoso quando incomodado.

– Ensinei para ele que, quando alguém estivesse incomodando, deveria fazer um sinal para mim. Não ir lá e brigar, atacar, bater.

Maria contou que o jovem interagia muito pouco com os colegas e que raramente descia para o recreio.

– Esse tempo que não queria ir para o recreio ele lia alguma coisa. Geralmente ia com um casaco de capuz, colocava o capuz na cabeça e ficava ali [na sala] – afirmou.

A professora disse que algumas alunas ligaram para ela após a morte de Willian e falaram que ele não interagia.

– Eu gostava dele, mas ele era tão tímido que nem olhava para mim, quando tentava conversar ele nem falava nada – disseram as meninas.

O isolamento piorou quando Willian tinha cerca de 14 anos e foi assaltado no entorno da escola. Os criminosos roubaram tudo que ele levava e o deixaram na rua apenas de cueca. Depois disso, o jovem passou a carregar a mochila para todos os cantos.

Por conta da mochila inseparável, uma professora teria perguntado se ele estava traficando dentro da escola. Willian se sentiu humilhado, se trancou dentro de casa e deixou o colégio.Voltou a estudar com a ajuda da tia, com quem morou por dois anos. Antes de ser morto, estava cursando o 2º ano do Ensino Médio, na Educação de Jovens e Adultos.

Recentemente, segundo relatos, o jovem navegava na internet na maior parte do tempo e estava cada vez mais isolado.

– As pessoas não sabiam exatamente o que estava acontecendo na cabeça dele. Ficava na internet o tempo todo, não incomodava, não gritava, não brigava, não xingava, ficava despercebido mesmo – disse a professora.

Willian tinha pouquíssimos amigos, mas era muito próximo dos primos, dois meninos da mesma faixa etária. Um deles abordou Maria no velório e disse que ela o conhecia e sabia que ele não era ruim.

Segundo a professora, toda a família está muito abalada e o cenário é de desespero total. Os parentes conversaram sobre não acessar as redes sociais neste período, para evitar comentários negativos.

Maria afirmou que se sente um pouco fracassada por não ter conseguido ajudar Willian.

– Você detecta que tem algo errado, fala com Deus e o mundo na escola, e nada acontece. E, como o Willian, tem tantas outras crianças que passam por isso sozinhas. Isso me angustia muito.

*Folhapress

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