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Quarentena: Histórias de quem cumpre o isolamento até hoje

Após 8 meses do decreto oficial da quarentena, muitos brasileiros continuam dentro de casa cumprindo o isolamento total

Pierre Borges - 23/11/2020 18h02 | atualizado em 23/11/2020 19h43

Idosa sorridente olhando olhando por uma janela antiga de madeira
Senhora olhando pela janela Foto: Pixabay

Desde o início do isolamento social em março, o desrespeito às medidas de prevenção ao coronavírus tem aumentado progressivamente. Com o passar do tempo e a diminuição da “curva” de contágio, governadores e prefeitos também flexibilizaram as normas de combate à Covid-19, encerrando oficialmente a quarentena e mantendo apenas algumas normas sanitárias de controle à pandemia.

No entanto, há pessoas que optaram por dar continuidade ao isolamento e que permanecem dentro de casa. Em algumas situações, é possível contar nos dedos quantas vezes saíram desde que começaram a quarentena, oito meses atrás. É o caso de Maurício Zágari, editor de livros, que só furou a quarentena uma vez.

– Minha filha de 9 anos estava com pressão alta por conta do estresse do isolamento, então, fui dar uma volta no Aterro do Flamengo em um dia de muito vento e com máscaras, sem remover nenhuma vez e descendo e subindo pelas escadas, sem pegar o elevador. Fiquei assombrado – revelou ao Pleno.News.

Morador do Rio de Janeiro, Maurício disse que ao ver as aglomerações nas praias, pessoas fazendo churrasco e pouquíssimas usando máscara, percebeu que os casos aumentariam. Ele relatou até mesmo o descaso de policiais.

A praia estava lotada e se vi no máximo dez pessoas de máscara, foi muito. Parecia uma vida sem Covid. Nem mesmo os policiais que patrulham o Aterro estavam de máscara.

Sheila Ballard, moradora de Niterói, RJ, também furou a quarentena apenas uma vez, entretanto, mesmo saindo de casa, não saiu do carro, limitando-se apenas a levar e buscar o marido que foi fazer a revisão no outro carro da família.

Sheila possui um ateliê montado na própria casa, e, graças a isso, conseguiu manter o isolamento sem alterações bruscas na renda. O trabalho em casa serviu até como forma de integração familiar.

– Como é em casa, é um ateliê familiar. Todos trabalham, né? (risos). Minha filha mais nova é designer, a mais velha também ajuda, faz algumas coisas também de design e meu marido a gente perturba, né? Pede ajuda, às vezes, com alguma coisa (risos). Mas ele tem o trabalho fixo dele e está trabalhando em casa por conta da firma mesmo, por ser grupo de risco – disse.

Espaço na casa de Sheila que se transformou no ambiente de trabalho do ateliê O Pólen Foto: Arquivo Pessoal

Maurício, que também está em sistema de homeoffice, começou a quarentena dias antes do decreto oficial. Ele possui um irmão que mora na Espanha e decidiu seguir as orientações de segurança adotadas no pais europeu.

– Aqui no Brasil, a Covid está sendo politizada, mas na Espanha não. Lá a oposição suspendeu ataques ao governo por entender que a saúde da população está acima de diferenças políticas. No Brasil, acontece o contrário. Então, eu não me guio pelas recomendações brasileiras, cheias de influências e interesses políticos, mas pelas espanholas. Lá a coisa é séria – disse Maurício, que considera o distanciamento social a forma de proteção mais eficaz até a chegada da vacina.

Dona Irene, mãe de Maurício também tem tido uma quarentena um pouco mais rígida. Devido a idade, Maurício disse que faz tudo o que é necessário para que a mãe não precise se expor.

– Eu a proibi de chegar perto da porta. Eu recebo as compras e as correspondências. Minha mãe não pisou nem no corredor desde março – comentou.

Segundo Maurício, porém, sua mãe lida bem com a situação e a opção adotada está sendo mais difícil para ele e para a filha. Ele afirma que sente falta do contato humano e lamenta que uma criança de 9 anos não possa estar brincando e correndo com os amigos, mas faz “o que tem que ser feito”.

– A prioridade é manter a vida, porque é melhor passar dois anos isolado e depois retomar a vida do que morrer e não ter mais vida – reforçou.

Maurício Zágari e a Mãe, Irene Foto: Arquivo Pessoal

A mineira Fabiana preferiu não ter seu sobrenome identificado, mas contou ao Pleno.News que também começou a se isolar antes do decreto oficial de quarentena no seu Estado. Ela afirmou que antes que o primeiro caso de contágio fosse anunciado, ela já sabia da possibilidade de existirem pessoas contaminadas não diagnosticadas. Fabiana disse ainda que estava procurando emprego quando a pandemia começou e que parou para cumprir o isolamento.

– No começo da pandemia havia um clima de união entre as pessoas para contribuir com o combate ao vírus, e isso me estimulou ainda mais. Eu não queria pegar e nem passar isso para outras pessoas. Meus pais são quase idosos e, apesar de não terem doenças diagnosticadas, não queria correr o risco de passar pra eles, nem pra ninguém – afirmou.

Eu só queria essa doença controlada pra não lotarem os hospitais e não ver gente morrendo por falta de vagas e respiradores

Apesar da preocupação, a jovem revelou que sua família não está tão receosa quanto ela em relação ao vírus e que, devido à isso, por muitas vezes ela se limita a apenas um cômodo dentro da própria casa para tentar se preservar.

– Agora estou tendo problemas para regular meu sono. Tenho muita dificuldade de dormir de madrugada. Acho que é pelo fato de que eu quase sempre espero meus pais e irmã saírem da cozinha para preparar minha comida ou fazer outras tarefas. Minha cabeça deve entender que, “se eles estão todos deitados dormindo, agora é a hora de fazer as coisas” – disse.

Fabiana atribui a quarentena dentro do quarto à falta de cuidado dos familiares.

– Me sinto mais segura quando estou sozinha. Descobri recentemente que meu pai só usa máscara para entrar nas lojas e ele não liga muito para lavar as mãos após espirrar ou tossir nelas. O pessoal daqui também não liga para higienizar as compras do mercado – comentou.

A mineira também comentou que havia começado um tratamento no SUS para tratar sintomas de depressão e ansiedade, mas optou por parar com as consultas, devido ao alto risco de contágio dentro de postos de saúde. Ela afirma que os sintomas têm se agravado durante a quarentena. Relata que no período de quarentena chegou até mesmo a sonhar com situações diversas em que, mesmo em sonho, se preocupava com o uso de máscaras e álcool.

SEGUNDA ONDA
Apesar da flexibilização e do retorno de muitas pessoas às suas atividades de trabalho externo, uma segunda onda da pandemia já afeta diversos países europeus e ameaça o Brasil. Na Europa, França, Reino Unido e Bélgica são exemplos de países que estão sob um segundo lockdown, enquanto no Brasil há apenas rumores de que isso venha a acontecer.

Nesta segunda (23), internautas brasileiros se manifestaram contra a medida no Twitter. O presidente Jair Bolsonaro e o candidato à reeleição da Prefeitura de São Paulo, Bruno Covas, também criticaram a possível adoção da medida.

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