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Noiva Alinne: O ódio virtual como gatilho para o suicídio

Psicólogas explicam o impacto das ofensas na mente de uma pessoa com depressão

Rafael Ramos - 16/07/2019 13h43 | atualizado em 17/07/2019 16h22

Alinne Araújo cometeu suicídio após ataque de haters Foto: Reprodução

O suicídio da youtuber Alinne Araújo, que casou sozinha depois da desistência do noivo Orlando Costa, repercutiu nas redes sociais. Após uma série de ataques virtuais, a jovem de 24 anos saltou do nono andar do prédio em que morava no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro.

Alinne sofria de ansiedade e depressão e já havia tentado o suicídio em outra ocasião. A fatalidade chamou a atenção da cantora Daniela Araújo. A artista, que sofreu ataques virtuais quando que seu vício em drogas veio à tona, postou um texto sobre o caso. Daniela criticou as pessoas que acusaram a youtuber de estar fazendo tudo por marketing.

– A única coisa que eu consigo pensar nesse momento é que muitas pessoas não tem noção do que podem causar quando destilam ódio gratuito por aí. Muitos só falam de amor, mas não vivem. Muitos nem querem viver esse amor porque estão tão machucados que só machucam. A humanidade está doente e precisa de tratamento urgente. Por favor, parem de espalhar maldade! Ninguém sabe o que se passa dentro de um ser humano. A gente não sabe de nada do que realmente acontece nos bastidores da vida das pessoas. Depressão é uma doença e ela é seria. Não vamos rir de quem está enfrentando isso, não desfaça dos sentimentos das pessoa – pediu Daniela.

Daniela Araújo comentou o caso da jovem Foto: Reprodução

A psicanalista Jucimária Mendes, que atende muitos adolescentes em seu consultório, explicou ao Pleno.News que a ação dos chamados haters – pessoas que odeiam e destilam veneno de graça – podem servir de gatilho para atitudes intempestivas de pacientes depressivos.

– As redes sociais potencializam a perversão e o perverso tem prazer em ferir. Para as ciências da psiquê, a perversão vive no limite com a psicopatia e ambos encontram terreno nas redes sociais. Elas se tornaram a porta de banheiro ou o muro de pichação das décadas de 70, 80 e 90 – comentou.

Jucimária destaca que, além dos haters, outra via que acentua a depressão na internet, principalmente com adolescentes, é a questão da comparação. O depressivo já está se sentindo menosprezado, ele começa a olhar o que os outros têm e essa comparação o adoece ainda mais.

Da mesma forma, a psicóloga clínica Aline Saramago afirma que tais gatilhos são destrutivos para alguém emocionalmente fragilizado. Ainda mais que os haters não fazem ideia do impacto de suas ações.

– Os haters são pessoas com dores não resolvidas ou com uma maldade caracterizando psicopatia. Quando a gente não gosta de uma coisa, simplesmente para de ver, não precisa denegrir. No caso da Alline foram milhares de pessoas caindo em cima e isso pode ser devastador. Muitas pessoas criticam para se sentirem bem diante de uma vida insatisfatória. Tudo na internet é muito rápido e ela deve ter entrado em pânico. Quando a pessoa sentir que algo a desestabilizou, é preciso buscar ajuda.

SEMPRE HÁ ALGO NO SER HUMANO QUE PRECISA SER PREENCHIDO

A psicopedagoga Débora Luz faz uma analogia entre Alinne Araújo e o Whindersson Nunes. Em uma entrevista, o influencer, que revelou um quadro de depressão, disse que se questionou se havia ficado famoso para morrer aos 20 anos. Whindersson recorda que, durante um momento ruim, ele temeu que pudesse acontecer algo trágico.

– Whindersson conseguiu ter muito dinheiro e fama, até que chegou a um ponto que não era aquilo que preenchia a vida dele. Sempre há um vazio, algo interior que não preenche e daí vem a depressão e o pensamento do suicídio. Sempre há algo no ser humano que precisa ser preenchido. O ser humano nasceu com essa falta e as pessoas acham que a fama irá preencher – explicou a profissional.

Whindersson Nunes desabafou sobre depressão Foto: Reprodução

Débora atende adolescentes entre 12 e 13 anos e alerta que o problema tem que ser resolvido desde cedo. Para ela, muitas vezes, a pessoa se torna alvo dos haters por falta de uma família estruturada.

– A base de tudo é a família. Se a família não está estruturada, esse caminho de comunicação está cortado. Assim, o adolescente, jovem ou adulto vai procurar alguém e geralmente essa pessoa não vai poder ajudar tanto quanto a família. As famílias andam se perdendo muito por conta da tecnologia. A gente vê muitos casos de famílias que estão à mesa para jantar, mas não estão ali. São estranhos morando na mesma casa, mas tendo mais intimidade com o mundo virtual do que com a própria família.

TIRANDO UM TEMPO DAS REDES SOCIAIS
Pós-graduanda em neurociência, a psicanalista Jucimária Mendes revela que essa ciência considera as redes sociais como um vício. O prazer momentâneo proporcionado por likes e comentários em uma foto, por exemplo, aciona os mesmos campos que substâncias liberadas por drogas e bebidas.

– Quem está depressivo acaba encontrando um ambiente que traz certa paz e euforia na internet. Tirar essa pessoa do virtual é difícil, mas é importante incentivá-la a bloquear e diminuir o uso das redes sociais. A principal coisa que quem está perto precisa observar é o que ela está postando. O depressivo rasga a alma nas redes sociais e acaba dizendo como está se sentindo.

Jucimária afirma ainda que a depressão tem gatilhos psíquicos e emocionais, mas especialmente químicos. A profissional explica que durante o tratamento, pacientes chegam a uma melhora de 20 a 45% em curto prazo. Além disso, a vítima pode conseguir proteção por um documento chamado Ata Notarial. Basta a pessoa abrir seu laptop ou smartphone diante do cartorário, printar a tela onde a ofensa foi feita, imprimir e registrar como um documento oficial, que pode servir como prova num processo contra o hater.

INSTAGRAM ATENTO

Usuários com depressão e ansiedade podem conseguir ajuda pelo Instagram Foto: Reprodução

De olho no conteúdo postado por seus usuários, o próprio Instagram disponibilizou ajuda a usuários que sofrem de depressão ou ansiedade. Ao procurar alguns desses termos na busca, o aplicativo redirecionada a pessoa para uma página onde ela tem três formas de encontrar ajuda.

O usuário pode enviar uma mensagem aos amigos ou optar por conversar com algum voluntário da linha de apoio do Centro de Valorização da Vida (CVV), que é uma das instituições que dão apoio emocional e trabalham para prevenir o suicídio. Para pedir ajuda, ligue para o número 188 ou acesse o site do CVV.

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