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No Rio, traficantes expulsam famílias e vendem imóveis

Moradores sequer podem retirar seus pertences

Gabriela Doria - 27/08/2020 15h03 | atualizado em 27/08/2020 17h06

Traficantes estão expulsando moradores de suas casas em favelas do Rio de Janeiro Foto: Divulgação/ONG Viva Rio

Além de viverem diariamente com a violência, famílias de comunidades do Rio de Janeiro agora estão sendo expulsas de suas próprias casas por traficantes. Os imóveis são revendidos para outras pessoas. Na maioria dos casos, as vítimas sequer conseguem tirar seus pertences de casa.

É o que tem acontecido na favela Cinco Bocas, em Brás de Pina, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Desde que uma nova facção tomou conta do tráfico de drogas na região, barreiras foram levantadas para impedir que a polícia e pessoas indesejadas entrem no local.

– Somos pessoas que trabalham muito pra ganhar o que é nosso. E deixar a nossa casa vazia pra eles invadirem, né? E agora querem vender a casa dos outros. Como é que vende uma coisa que não é dono? Daquilo que eles não têm? Eu tenho registro da minha casa – lamentou uma vítima.

Uma única família chegou a ter 20 pessoas expulsas da comunidade. Ninguém conseguiu salvar seus pertences. Segundo as vítimas, os criminosos não querem moradores antigos na favela.

– Desde os 15 anos de idade minha mãe me ensinou a trabalhar muito pra mim ter o que eu tenho hoje, sabe? Por causa de uma pessoa com a vida errada querer tirar o que é da gente. Isso dói muito, dói muito. Hoje eu estou de pés e mãos atadas. Olha, da minha casa, eu consegui levar foi nada. Ficou tudo lá. (…) Saímos com a roupa do corpo. Só com a roupa do corpo. Esses homens não têm pena de criança e de ninguém – disse uma moradora expulsa da região.

Segundo a Polícia Civil, o traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Peixão, é o chefe do tráfico nas Cinco Bocas. Ele está foragido há 5 anos.

MONITORAMENTO
As vítimas contaram também que todo o movimento de moradores é monitorado por drones, câmeras e olheiros.

– Eles vê (sic) tudo, né? Quem entra quem sai. Antes de botar a câmera tinha o drone. O drone primeiro vinha, olhava, depois eles vinha (sic). Agora é câmera. E diz que a câmera é muito boa – revelou.

COMPLEXO DE ISRAEL
Peixão e outros comparsas conquistaram a comunidade Cinco Bocas em uma guerra que já durava um ano. Mas o domínio dos territórios vem se estendendo por outras comunidades da região, formadas pelas favelas Cidade Alta, Vigário Geral, Parada de Lucas, Pica-pau e Cinco Bocas.

Os criminosos estão batizando a região tomada como Complexo de Israel. Além do terror imposto, há relatos de intolerância religiosa, sobretudo contra religiões de matriz africana.

– O povo tá precisando de ajuda. Olhar um pouco pra gente lá, pessoal lá, da Cinco Bocas. Porque é muita gente do bem, ali. É muito trabalhador, ali, passando por desespero, angústia, tristeza. Desejo paz. Viver em paz, sabe? Desejo viver em paz, desejo poder acabar de criar minhas filhas. E desejo paz pro povo que ficou na Cinco Bocas. São pessoas do bem – pediu a moradora.

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