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Menina de 10 anos entrou em hospital em mala de carro

Médico ficou distraindo grupo que protestava do lado de fora

Pleno.News - 18/08/2020 15h48 | atualizado em 18/08/2020 16h01

Grupo protestou contra aborto em menina estuprada Foto: Reprodução

A menina capixaba de 10 anos vítima de seguidos estupros não precisou só viajar a outro estado para abortar. Ela também teve que se esconder no porta-malas de um carro para entrar no hospital no Recife (PE) enquanto o médico e diretor da unidade, Olimpio Moraes, atraía para o portão principal os grupos de religiosos e políticos que estavam do lado de fora da unidade de saúde.

A perseguição veio desde o aeroporto, onde anotaram a placa do veículo, conta Olimpio, o obstetra pernambucano que desde 1996 faz abortos pelo SUS e dirige o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), o primeiro a realizar abortos legais no Norte-Nordeste. São cerca de 50 desses procedimentos por ano, entre 30 e 40 relacionados a estupros.

– Esse era um caso diferente. Quando eu soube do vazamento dos dados, fui pro hospital e quando cheguei estava aquela confusão. Ficamos com medo de ela não conseguir entrar. Criamos uma distração para tirar a atenção e o carro passar escondido. Ninguém viu – conta o médico, que ouviu gritos de “assassino”, “aborteiro”, “demônio”, “por que o senhor não mata seus filhos?”.

A polícia chegou depois que a garota já tinha conseguido entrar na unidade, mas conseguiu impedir que as cerca de 200 pessoas invadissem o hospital no domingo (16).

Quem divulgou o nome da menina e qual unidade faria o procedimento foi a ativista Sara Giromini, conhecida como Sara Winter, que pode ser investigada por violações à Constituição Federal, ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e ao Código Penal, assim como o funcionário público que vazou a informação.

Olimpio já foi alvo de ataques do tipo em 2009, quando religiosos fizeram vigília em frente ao Cisam para impedir um aborto de gêmeos de uma menina de nove anos estuprada pelo padrasto. Ele, a equipe médica e a família da garota foram excomungados pela Diocese de Pernambuco.

O pernambucano, criado em lar cristão, já tinha sido excomungado três anos antes por apoiar a iniciativa de disponibilizar pílulas do dia seguinte em postos de saúde no Carnaval recifense.

Desta vez, o arcebispo de Olinda e Recife, dom Antonio Fernando Saburido, disse lamentar “a morte da menina de cinco meses. O mandamento destacado por Jesus no texto que citamos inicialmente foi mais uma vez desrespeitado.”

Mas Olimpio afirma que “nunca tinha visto algo parecido nesses anos todos” e acha que as cenas de domingo refletem a polarização política.

– Fiquei assustado. O ódio e a intolerância conseguiram se organizar publicamente. É reflexo da força político-partidária que os movimentos religiosos têm tido ultimamente. Essas forças já existiam, mas não tinha projeção dentro do Estado, não faziam política pública – diz.

*Folhapress

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