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Mangueira terá Jesus como enredo do próximo carnaval

Escola já havia polemizado em 2017 ao representar Cristo ao lado de um orixá

Rafael Ramos - 17/07/2019 17h15 | atualizado em 17/02/2020 11h50

Mangueira foi a campeã carioca do Carnaval 2019 Foto: Reprodução

A Estação Primeira de Mangueira, campeã do carnaval 2019, definiu o tema para o ano que vem. Com o enredo “A verdade Vos Fará Livre”, o carnavalesco Leandro Veira, pretende falar de Jesus em seu desfile na Sapucaí. Em entrevista ao jornal O Globo, Vieira explicou que não pretende mostrar um Jesus bíblico ou reproduzir a Via Crúcis. A intenção é lançar um questionamento sobre o que aconteceria se Cristo voltasse à Terra no que ele chama de “um ambiente de intolerância generalizada”.

– Vamos falar sobre a figura política de Cristo e o que ela pregava: o amor irrestrito, que nos torna livres da intolerância e do preconceito. Essa é a verdade que liberta. Porque não é amor o que faz alguém quebrar um terreiro de candomblé. Quando Cristo esteve aqui, ficou do lado dos oprimidos e não fez distinção de pessoas. Será que Jesus não está no morador da favela? No menor abandonado? No gay? Na mãe de santo? – disse o carnavalesco.

Leandro Vieira abordará sobre Jesus no enredo do próximo desfile Foto: Reprodução

Embora elogiada por alguns, houve quem criticou a escolha do enredo da agremiação. Alguns usuários reclamaram nas redes sociais da própria escola a acusando de desrespeito à fé cristã. Já houve quem criticou a decisão de trazer um enredo com viés politizado.

O teólogo e escritor Maurício Zágari acredita que essa junção do sagrado com o profano é retrato da forma como o mundo enxerga Cristo. Ele afirma que, mesmo que sigam zombando do Filho de Deus, isso não muda quem Ele é.

– A despeito da zombaria, Ele morreu, ressuscitou e seguiu sendo Deus. Tem gente que se revolta, mas é perda de tempo. Temos de estar acima dessas provocações e ignorá-las solenemente. O que é um desfile de escola de samba? Nada. Algo totalmente irrelevante. Já Cristo vive e reinará eternamente. É como o elefante se irritar porque uma formiga o chamou de feio. É coisa para ignorar e se deixar para lá – disse Zágari ao Pleno.News.

Pastor Pedrão, da Comunidade Batista do Rio, avalia que tudo depende da forma como a escola pretende trazer essa imagem de Cristo no enredo. Ele acredita que, através do conhecimento da história de Jesus, esse pode até ser um artifício para que os integrantes da Mangueira saibam mais sobre o Evangelho.

– Apesar de o carnaval ser a festa da carne, tudo depende como eles vão passar a imagem de Jesus Cristo. Faço das minhas palavras as de Paulo em Filipenses 1:18 [Mas, que importa? O importante é que de qualquer forma, seja por motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está sendo pregado, e por isso me alegro. De fato, continuarei a alegrar-me]. Mas sou absolutamente contra se forem colocar o nome de Jesus Cristo de forma pejorativa.

Pastor Pedrão Foto: Reprodução

HIPOCRISIA DO CARNAVAL
O pastor André Câmara, da Assembleia de Deus do Rio de Janeiro e apresentador da Rede Boas Novas, declarou-se contra a associação de símbolos cristãos ao mundo do samba. Ele entende que o carnaval tem sua participação cultural, mas afirma que os mesmos não entendem quem é Cristo de verdade.

– Jesus é uma figura cultural, mas acima de tudo é o Filho de Deus que teve uma missão totalmente incompatível com a mensagem e o ambiente promovidos pelo Carnaval com a prostituição, bebida, nudez e sensualidade. Colocar a imagem de Jesus e o que Ele representa em um ambiente profano é muito complicado. Esse tipo de escolha da escola de samba reforça a hipocrisia que existe por trás do Carnaval que diz se pregar harmonia, diversidade e intolerância. Mas como eles pregam isso distorcendo referências da maior religião do Brasil? A cultura não pode machucar os valores mais sagrados de uma sociedade – declarou André.

André Câmara

OUTRAS POLÊMICAS NA AVENIDA
O carnaval traz em sua história uma série de polêmicas envolvendo a fé cristã. Esse ano, a Gaviões da Fiel foi criticada por seu desfile sobre o tabaco. A escola de São Paulo trouxe uma representação da vitória de Satanás sobre Jesus.

Desfile da Gaviões da Fiel mostrou Jesus sendo vencido por Satanás Foto: Reprodução

Com o enredo “A Saliva do Santo e o Veneno da Serpente”, a escola mostrou Jesus sendo surpreendido pelo Diabo e caindo de braços abertos, em referência à crucificação. Depois disso, Satanás cravou um tridente no peito de Cristo e o arrastou pela avenida.

A encenação revoltou vários evangélicos, incluindo integrantes da Frente Parlamentar Evangélica. O advogado Carlos Alexandre Klomfahs abriu um processo alegando que a escola “desrespeitou o símbolo e a religião cristã”.

Em 2017, a verde-e-rosa levou Jesus para a avenida ao lado de um orixá do candomblé Foto: Reprodução

Em 2017, no Rio de Janeiro, a própria Mangueira foi alvo de burburinhos com o enredo “Só Com a Ajuda do Santo”. A escola de Cartola e Jamelão colocou as imagens de Jesus e Oxalá, seu referente no candomblé, lado a lado no mesmo carro alegórico.

O desfile de 1989 da Beija-Flor foi alvo da Arquidiocese do Rio de Janeiro Foto: Reprodução

A maior polêmica foi protagonizada por Joãosinho Trinta, no desfile de 1989 da Beija-Flor de Nilópolis. O enredo “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia” traria a reprodução do Cristo Redentor vestido como mendigo no carro abre-alas. Porém, na véspera do desfile, a Arquidiocese do Rio de Janeiro proibiu a apresentação através de uma ordem judicial. Joãosinho cobriu a alegoria com um plástico preto e acrescentou uma faixa com a frase “Mesmo proibido, olhai por nós”.

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