Paulo Moura - 02/03/2020 15h29 | atualizado em 02/03/2020 15h55

Sempre que chuvas fortes caem, principalmente sobre as grandes cidades, um problema logo surge, causando grandes prejuízos: as inundações. Por conta dos danos em decorrência do alto nível das águas, destruindo ruas e casas, questionamentos são feitos sobre qual seria, de fato, a principal origem destas calamidades. Drenagem insuficiente e falha no represamento dos rios têm sido apontados como protagonistas no problema de alagamentos. Mas há outro fator que determina a existência da crise das enchentes.

Aliado à falta de educação ambiental e problemas estruturais como saneamento básico inexistente, o lixo descartado de forma errada está no topo das razões para tantos prejuízos após os temporais. Quem mora em áreas que alagam com frequência é direto em apontar o acúmulo de lixo como um dos maiores culpados pelos transtornos.

O designer Rafael Rangel, morador do bairro da Taquara, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, um dos mais atingidos pela chuva que caiu na capital fluminense no último final de semana, diz que, se não fossem os resíduos arrastados pela força da água, o impacto certamente seria menor do que foi.

– Se não fosse essa questão do lixo, entupindo os bueiros, acho que o impacto seria bem diferente, daria fluidez na água, não iria fazer pontos de alagamentos isolados. Acaba que soma tudo (os bueiros entupidos), alaga e entra água na casa das pessoas – afirma.

Rafael conta que as chuvas, iniciadas no último sábado (29), foram trágicas para os vizinhos. Ele explica que a água subiu a uma altura de aproximadamente dois metros, o que fez com que boa parte das casas ficasse alagada.

– Teve muita gente que perdeu praticamente tudo. Perderam carro, móveis. As pessoas que moram na parte de maior desnível da rua foram as mais prejudicadas Quem dormiu à noite, acordou com água e já saiu correndo desesperado – relata.

Após as chuvas que caíram sobre o Rio de Janeiro no último final de semana, muito lixo se acumulou na frente das casas. Os resíduos foram um dos responsáveis pelos grandes alagamentos na cidade. #chuvas #Taquara #RJ pic.twitter.com/fw4gtuTRwi

— Pleno.News (@PlenoNews) March 2, 2020

Em entrevista ao Pleno.News, o professor Júlio César da Silva, que é engenheiro civil e chefe do Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente da UERJ, afirmou que o lixo agrava consideravelmente os transtornos causados com as chuvas. Na opinião dele, uma das soluções seria diminuir a quantidade de resíduos descartados nas ruas.

– Vários rios transbordaram porque estão assoreados. É lógico que a presença de lixo piora muito a situação. Se conseguíssemos reduzir a quantidade de lixo que é jogada nas ruas, nas vielas, já melhoraria muito a condição – declara.

Silva, que também é professor do Centro Universitário IBMR, destaca que, sem os resíduos, a situação seria completamente diferente e o nível de perdas estaria em um patamar bem menor na comparação com o cenário atual, principalmente nos grandes centros urbanos.

– Se nós conseguirmos ter um ambiente mais adequado, de limpeza, sem lixo nas ruas, obviamente já vamos melhorar muito as condições de acesso das pessoas nesses locais, sem esses problemas de alagamentos e escorregamentos de encostas. A questão de ocupação de áreas urbanas deveriam ser melhor planejadas – destaca.

Como solução para a questão, Silva levanta alguns pontos que incluem medidas de curto prazo, como a frequente manutenção de bueiros e galerias e retirada do lixo presente nesses locais, mas ressalta que o principal foco deve estar na educação ambiental.

– Temos que investir nas crianças e nos adolescentes. Temos que criar uma cultura de preservação, de sustentabilidade, de resiliência, de risco, para que a nossa sociedade futura seja mais consciente do papel dela na natureza – completa.

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