Justiça condena os quatro réus pelo incêndio na Boate Kiss
Há quase nove anos, incêndio deixou 242 mortos
Monique Mello - 10/12/2021 18h14 | atualizado em 10/12/2021 18h37
A Justiça condenou nesta sexta-feira (10), por homicídio doloso, os quatro réus apontados como responsáveis pela tragédia na boate Kiss, em Santa Maria (RS). Foram quase 10 dias de sessões no Foro Central de Porto Alegre de um dos maiores julgamentos do país e o maior da história do Rio Grande do Sul.
O tribunal do júri ouviu 32 pessoas, sendo 28 testemunhas e quatro réus acusados por homicídio simples com dolo eventual. Em reunião na sala secreta, os jurados responderam a perguntas do juiz Orlando Faccini Neto, como se absolvem ou condenam cada acusado, bem como se a conduta de cada um foi intencional ou não.
Foram condenados o sócio da boate Elissandro Callegaro Spohr (22 anos e 6 meses de reclusão); o outro sócio Mauro Lodeiro Hoffmann (19 anos e 6 meses de reclusão); vocalista da banda Gurizada Fandangueira Marcelo de Jesus dos Santos e o produtor de eventos Luciano Augusto Bonilha Leão (18 anos de reclusão cada um).
Entre os elementos destacados pela acusação no julgamento estão a superlotação da Kiss na noite da tragédia, o uso de uma espuma no teto para isolamento acústico que no incêndio liberou gases tóxicos, o que provocou a maioria das mortes, e o uso e manejo irregulares pela banda Gurizada Fandangueira de artefatos pirotécnicos em ambiente fechado, entre outros pontos.
O incêndio na madrugada de 27 de janeiro de 2013 em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, deixou 242 pessoas mortas e outras 636 feridas. As vítimas, em sua maioria, eram jovens estudantes com idades entre 17 e 30 anos, moradores da cidade universitária.
O advogado e assistente de acusação David Medina disse que o julgamento é um marco na história dos tribunais.
– Um dos pilares da democracia é a soberania popular, os cidadãos e cidadãs intervindo e fazendo coisas, balizando esse tipo de situação. Conseguimos conscientizar da importância da decisão que eles vão tomar”, afirmou ele durante a etapa de réplica.
A promotora de justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul, Lúcia Helena Callegari, disse que o resultado impacta na forma como todos os proprietários administram as casas noturnas no país.
– Esse júri vai trazer a responsabilidade para todos nós. Tenho certeza de que todas as casas depois do dia de hoje vão repensar suas responsabilidades. A gente tem que mudar os nossos conceitos de vida, aprender a olhar luzes, saídas, cartazes – afirmou.
No Brasil, a tragédia está atrás apenas do incêndio do Gran Circo Norte Americano, em Niterói (RJ), que deixou 503 mortos em 1961.
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