João Doria prevê uma “retomada rápida” do turismo em São Paulo
Governador e secretário do turismo participaram de evento para tratar do tema
Thamirys Andrade - 26/10/2021 14h53 | atualizado em 28/10/2021 17h28






















No segundo trimestre de 2020, as movimentadas ruas de São Paulo, acostumadas com o vaivém de moradores, turistas, empresários e estudantes, esvaziaram-se devido aos cuidados com um vírus desconhecido que ameaçava a todos.
Esta cena contrasta com a realidade atual, em que a agitada vida urbana toma conta das ruas da cidade novamente – ainda que com protocolos sanitários –, impulsionada pelo avanço do índice de vacinação no estado, que ultrapassou os 65% da população imunizada com a segunda dose.
Para o governador João Doria (PSDB), as perspectivas para o setor de turismo, um dos mais castigados pela pandemia, são positivas. Em coletiva de imprensa na última quinta-feira (21), realizada pela Fundação 25 de Janeiro para tratar do assunto, ele previu um “aumento pleno” na procura pelo setor e uma “retomada rápida”.
– A retomada do turismo traz agora um anseio e um desejo como nunca houve. E é por isso que nós vamos ter uma explosão do turismo neste final de ano. A ânsia, a vontade das pessoas é quase um grito de liberdade para poderem voltar a viajar, ainda que com algumas restrições de ordem sanitária. Isso vai provocar um aumento pleno na ocupação de aeronaves, em hotéis dos principais destinos do Brasil – estimou Doria durante o evento realizado em parceria com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), a Visite SP e a Secretaria de Turismo e Viagens de SP (Setur).
Na avaliação do governador paulista, “a indústria vai viver um período que não tem conhecimento, à contraposição, à paralisação determinada pela pandemia”.
– Vai viver uma plenitude de resultado, mas, pelo menos, até o início de março. Depois, ainda é cedo para fazer previsões. Será um verão bastante aquecido para a indústria aqui, no Brasil.
Ao considerar os acontecimentos do ano anterior, João Doria ressaltou que a pandemia da Covid-19 representou “o maior impacto no turismo da história” e a “pior crise do mundo nesta indústria”.
– Em 1918, quando tivemos aqui a gripe espanhola, não havia aqui turismo, não se falava em turismo. E, no período da segunda grande guerra, o efeito disso ainda foi relativo. Nos tempos recentes, foi a pior crise do mundo dado o impacto da Covid-19 nesta indústria.
Para Doria, algumas das mudanças geradas por uma crise desse porte serão permanentes ou seguirão por um longo período de tempo. A exemplo, ele afirmou que os novos protocolos de limpeza de aeronaves e hotéis permanecerão, assim como a vacinação anual, o uso de máscaras em casos de aglomerações e o chamado “passaporte da vacina”, ao qual o presidente Jair Bolsonaro se opõe por crer que fere a “liberdade”.
– Teremos que conviver com vacinas pelo menos nos próximos três anos, é o que dizem os cientistas. […] Protocolos de higiene e critérios como a utilização de máscara certamente poderão ser adotados onde houver aglomerações, independentemente do controle pandêmico. Controle também vacinal, apresentação de documentos para o ingresso em espetáculos, em eventos, em ônibus, em trens, em navios e aviões poderão ser obrigatórios em alguns países e regiões – assinalou.

Para ajudar o setor a se recuperar, Doria e o secretário de Turismo de SP, Vinicius Lummertz, destacaram realizações como a criação e a promoção de rotas cênicas, distritos turísticos, eco resorts, dois novos parques, ciclovia musical e estruturas voltadas para o turismo ambiental. Eles também ressaltaram a privatização e concessão de parques culturais e de 22 aeroportos, além da despoluição do rio Pinheiros, que, segundo previsões, deve ser concluída até o fim do próximo ano.
– De um lado, promoção; de outro lado, estruturação. Essa é a síntese da estratégia do desenvolvimento do turismo enquanto negócio. Onde tem turismo não falta emprego. Se me mostrarem um lugar que tem bastante turismo e que tenha desemprego, eu vou ficar muito surpreso porque eu não conheço esse lugar – declarou Lummertz.
CRÍTICAS A BOLSONARO
Durante o evento, João Doria não deixou de tecer críticas à gestão do turismo feita pelo governo federal, estendendo sua desaprovação também aos demais ministérios.
– [Bolsonaro] abandonou o turismo, escanteou o turismo, e não transformou aquilo que poderia, aproveitando a boa gestão do presidente Temer. Bolsonaro interrompeu esse processo, como interrompeu também na área da cultura. O Brasil regrediu no plano cultural. Me parece que regrediu em tudo. No plano ambiental, na educação, na saúde. Não tem área onde houve alguma evolução nesses dois anos e meio do atual governo.
O tucano também disse que o governo “virou as costas para os estados” brasileiros.
– O governo federal desrespeitou o pacto federativo, virou as costas para os estados. Cada governador teve que encontrar as suas próprias soluções no turismo, na indústria, no comércio, nos serviços, na saúde, no setor de educação. Nunca se houve um abandono tão grande no pacto federativo como agora. Nem na Ditadura Militar houve uma ruptura do pacto como aconteceu neste governo.
Sem esconder sua intenção de candidatar-se à Presidência em 2022, Doria afirmou que o “tratamento certo do turismo” pode recolocar o Brasil em uma posição de destaque em apenas um mandato presidencial.
– A meu ver, entre dois e três anos isso pode acontecer, revitalizando plenamente o turismo no país em todas as regiões. Não há região no país onde você não tem um conjunto de atratividades. Esse é o maior potencial de recursos naturais que uma nação tem – acrescentou Doria.

AVIAÇÃO
O presidente da Abear, Eduardo Sanoviz, e o diretor de Vendas e Marketing da Latam, Diogo Elias, que também marcaram presença na coletiva, destacaram que a retomada das atividades já é evidente também na área da aviação, outro dos setores extremamente impactados pela paralisação de viagens na pandemia.
Segundo Sanoviz, “a malha aérea fechou o mês de setembro com 74% do que era no [período] pré-pandemia, do ponto de vista doméstico, e 23% do ponto de vista internacional”. Para ele, os voos domésticos devem recuperar os 100% da era pré-pandêmica até o próximo trimestre de 2021, enquanto os voos internacionais são “mais complexos”, pois são condicionados à reabertura de outros países ao Brasil. Ainda assim, ele prevê que a flexibilização dos Estados Unidos e da Argentina para brasileiros eleve a oferta para 40% em novembro.
Diogo Elias, por sua vez, também pontuou que a demanda por viagens voltou a ser mais significativa e que hoje a Latam já opera com 82% de sua capacidade de oferta, esperando chegar próximo dos 100% ao fim de 2021. Para incentivar a retomada, eles criaram um programa de distribuição de vacina gratuita ao Brasil.
– A gente já transportou, para a região Norte, um milhão de doses; para Minas Gerais, 8 milhões de doses; para o Rio Grande do Sul, 7 milhões de doses; para Santa Catarina, 5 milhões de doses; e, para o Rio de Janeiro, mais de 12 milhões de doses – enumerou.

INOVAÇÃO HOTELEIRA
Em busca de contornar os prejuízos causados pela pandemia e adaptar-se à nova realidade, o setor hoteleiro paulista também precisou buscar meios de inovar. Para isso, passou a investir no chamado Room Office. A ideia foi investir em quartos de hotel com configuração de escritórios para atrair um novo perfil viajante: os profissionais de trabalho remoto que não podem ou não desejam trabalhar de casa.
Segundo Toni Sando, presidente executivo do São Paulo Convention & Visitors Bureau (SPCVB), o “novo turismo de negócios” tem contribuído para a retomada hoteleira.
– Este novo turismo de negócios, pago pela pessoa física que busca um ambiente diferenciado para o trabalho, impacta em como estudávamos o setor. […] Este movimento se torna ainda mais relevante frente a um momento em que as reuniões presenciais de negócios e eventos, como feiras e congressos, ainda não retornaram de forma consistente – explicou.
Para o governador João Doria, porém, o atrativo do turismo no estado não está somente nos hotéis, eventos, parques e instituições, mas especialmente na receptividade do povo paulistano.
– A beleza de São Paulo está no seu povo; está no carinho da população que vive aqui, que aprendeu a receber e a tratar com amor, com atenção e respeito brasileiros e estrangeiros ou que residem, ou que visitam a capital de São Paulo.

MUSEU DE LÍNGUA PORTUGUESA
Um dos primeiros museus totalmente dedicados a um idioma, o Museu de Língua Portuguesa pode ser encarado como um dos símbolos da resistência cultural paulista diante da pandemia, visto que foi reinaugurado em 31 de julho deste ano, em meio à luta contra o vírus. Localizada na histórica Estação da Luz, a instituição estava fechada para obras de construção e restauro após sofrer um incêndio em dezembro de 2015.
Segundo Marília Bonas, diretora técnica do museu, o público “está muito feliz” em poder retornar às atividades culturais de forma presencial.
– Inaugurar o Museu da Língua Portuguesa depois de cinco anos de obra, de recuperação, e no meio de uma pandemia, foi um enorme desafio. A gente fez muitas adaptações, para esse contexto. A gente trabalhou com canetas touch, com marcação de espaço, álcool em gel, uso de máscara (…) Agora com a flexibilidade, mudaram algumas regras, mas continuamos, por exemplo, exigindo o uso de máscara para garantir a segurança do público, que está muito feliz em poder voltar presencialmente às atividades culturais.
Na avaliação de Marília, a reabertura do museu durante a pandemia foi muito “simbólica”.
– Estava todo mundo com muita saudade de poder visitar o museu, de ter um tempo para si, de contemplação, de conhecimento. E também o museu tem essa questão muito imersiva, afetiva. E nesse contexto em que a gente passou muito tempo confinado (…) poder viver uma experiência que te desloca do seu dia a dia de trabalho é algo que tem uma enorme potência, e a gente está muito feliz de poder oferecer essa experiência para o nosso público de novo – assinalou.
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