Flordelis: ‘Nenhuma mãe cria um filho para passar por isso”
Deputada deu entrevista coletiva para falar do assassinato de seu marido
Jade Nunes e Henrique Gimenes - 25/06/2019 18h47 | atualizado em 26/06/2019 14h37
Nesta terça-feira (25), a deputada federal Flordelis deu uma entrevista coletiva para falar sobre as investigações a respeito da morte de seu marido, o pastor Anderson do Carmo. Ao longo de cerca de uma hora, a parlamentar falou sobre seu relacionamento com os filhos, o crime, as investigações e suas perspectivas para o futuro.
Nesta segunda-feira (24), a deputada passou mais de 10 horas depondo na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí.
Antes de começar a responder aos questionamento, Flordelis reafirmou que falou à polícia como testemunha e que foram “horas muito difíceis”.
O assassinato de Anderson aconteceu na madrugada do dia 16. Até momento, dois filhos de Flordelis foram presos por suspeita de participação no crime. São eles Flávio dos Santos, de 38 anos, e Lucas dos Santos, de 18.
Ao final da coletiva, a deputada, emocionada, pediu à população que não rotulem seus filhos. Ela ainda disse que a família está sofrendo muito e pediu a compreensão das pessoas.
– Parte de mim realmente morreu, mas eu permaneço de pé. E todas as coisas que seriam realizadas pelo meu marido serão realizadas – explicou.
Confira os principais momentos da entrevista:
Confiança nos filhos
Espero que seja solucionado o mais rápido possível, porque é uma dor muito grande perder meu marido. As pessoas que me acompanham sabem como ele era importante na minha vida. Sabem como andávamos sempre juntos. Ele articulava tudo para mim. Se eu cheguei aonde cheguei, depois de todo o trabalho feito com excelência pela gravadora, foi por ele. Quando eu disse que queria ser deputada, foi meu esposo que articulou tudo.
Agora não é questão de confiar ou não confiar, mas sim esperar o andamento das coisas. Eu quero justiça, que a justiça seja feita. Se for provado que foram meus filhos, eu quero saber o por quê. Estávamos em um momento muito bom no nosso lar e em nossa família.
Se foi um dos meus filhos, eu quero que ele seja punido. Eu quero justiça, porque eu não perdi um marido, perdi mais do que isso. Perdi um amigo. Eu quero justiça pelo que aconteceu ao meu marido.
Celulares sumidos e denúncia de que ela colocou algo na comida de Anderson
Quando me foi pedido, eu entreguei uma caixa com tudo que tenho, inclusive meu celular. Se me perguntarem aonde está o aparelho, eu vou responder o mesmo que ontem, que não sei. Não sou muito apegada a celular. O meu costumava ficar na mão de meus filhos (…) O mais importante agora é que o caso seja esclarecido.
Quando à medicação, já foi respondido. Meu esposo passou por um período de doença, foi internado. Ele teve crises de ansiedade, passava mal. Quando eu ganhei as eleições, não pudemos fazer a carreata. Ele passava mal. Quanto aos remédios, ele tinha dificuldade em tomar medicação. E não era só a Flordelis e a filha, tinha uma missionária em minha casa que ajudava [a dar remédio a Anderson]. Nada era feito às escondidas.
Relação com Anderson
Não éramos só marido e mulher, éramos mais do que isso. Éramos amigos e parceiros. Tínhamos uma cumplicidade muito boa e muito linda. Quando fui eleita deputada, todas as semanas meu marido ia comigo para Brasília. Ele não ia só me deixar na Câmara dos Deputados, ele ficava lá comigo. Enquanto eu tinha minhas limitações, eu fui pessoalmente ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, pedir que ele autorizasse, por um tempo, a presença do meu marido dentro do plenário para me ajudar a me sentir mais segura. Eu fui atendida por ele. E meu marido ficava presente ali comigo. Quando íamos ao partido, o PSD, meu marido também estava sempre presente. Nas viagens também.
Eu não acredito nessa hipótese de traição do meu marido. A mulher, quando ela é traída, desconfia. E eu tenho certeza. Eu colocaria a mão no fogo.
Fogueira no quintal de casa e arma encontrada no quarto de Flávio
Jamais permiti armas em minha casa. Eu nunca permiti. Acho que é algo novo. Esse cômodo já havia sido revistado uma primeira vez e nada foi encontrado. E na segunda [revista] foi encontrada a arma.
Vídeos que mostram seus filhos antes do crime
O pouco que vi no jornal, e quando vi, foi a cena anterior, porque estava com meu marido. O filho que chegou foi o Daniel, que é músico. Foi ele quem chegou na filmagem. E quem mostrou saindo foi o Lucas. O Flávio, quando mostra, é ele saindo atrás de uma viatura e depois retornando.
Insistência em uma versão de latrocínio e proposta de R$ 10 mil para matar Anderson
A proposta eu não sabia. Isso não tinha chegado ao nosso conhecimento.
Até que prove o contrário, todas as hipóteses são viáveis. Eu falei que acreditava que ladrões tivessem entrado e matado meu marido. Hoje estou junto com a polícia para que eles mostrem e provem o que aconteceu, se foi um roubo seguido de morte ou um assassinato por alguém da minha casa ou por alguém de fora. Ninguém, até o momento, pode afirmar.
Quem poderia ser o mandante do crime? Anderson recebia ameaça?
Meu marido não estava recebendo nenhum tipo de ameaça. Não sei [se há um mandante]. Estou empenhada para saber por que meu marido morreu, quem foi e o porquê.
Desaparecimento do celular de Anderson
Eu realmente não sei onde está o celular do meu esposo. Ontem foi o que mais me perguntaram. Após tomarem conhecimento, como a casa é aberta, foi uma romaria. Muita gente entrou na minha casa. Eu não tenho como dizer ao certo quantas pessoas andaram ou circularam pela minha casa. Queria muito esse celular, porque ele é importante para mim. Lá estão nossos últimos momentos maravilhosos juntos, meu primeiro jogo da Seleção Brasileira que assisti com meu esposo e outras viagens. Minha agenda de cantora era feita por esse celular. Nossos amigos e maiores contatos estavam no aparelho. Queria pedir que quem estiver com o celular do meu marido, que devolva. É muito importante para mim. Muitas outras coisas foram perdidas.
Meu filho tinha tirado uma pulseira de ouro de seu braço e ela desapareceu. Outros objetos também sumiram de minha casa, e eu não faço questão. Tem um anel também desaparecido, relógios do meu marido, porque ele amava relógios. Os que não estavam guardados sumiram. Não posso dizer se sumiu no dia do crime. Não tenho como afirmar o momento em que sumiu, só sei que sumiu.
Sobre a fogueira, um dos meus filhos fez junto com o jardineiro que estava lá. Nada foi premeditado. Era uma coisa que já tinha acontecido lá. Todas vezes que o mato era cortado, ele era queimado. Acho que o celular não poderia estar lá porque a polícia mexeu no fogo.
Como estão sendo os dias sem seu marido
Eu e meus filhos, os mais velhos, tivemos uma história de vida de muito sofrimento e muita luta. Lutamos muito para nos mantermos juntos. Todo o sofrimento que passamos e vivemos no passado fez com que a gente se unisse. Eu vivo para meus filhos e por eles. Eles são meus amigos, tesouro e herança de Deus. E esses momentos e esses dias, sem a presença de meu esposo… A ficha parece que ainda não caiu direito. Tem dias que acordo e acho que ele vai aparecer, porque ele era muito brincalhão e se escondia dentro de casa.
Ele vai me fazer muita falta, porque eu só dizia o que eu queria e ele fazia acontecer. Eu não sei como vai ser daqui a para frente.
Relação da família e relação de Flávio com Anderson
Apesar de ser uma grande família, éramos como todas as outras. Tinha problemas, mas sempre tivemos um relacionamento de amizade e de respeito. A gente reunia os filhos na sala para conversar. Não houve nenhum atrito entre eles. Pelo contrário, Flávio viajou para Brasília com ele (…) Se tivesse alguma discussão, teria sido visto.
Não teve briga por dinheiro, mas por outros detalhes sim. Entre Flávio e Anderson não teve, mas entre outros filhos sim. Coisas como política ou futebol.
Confissão de Flávio
O que eu sei é que não houve confissão. Foi dito para mim ontem que não houve a confissão de que Flávio matou Anderson.
Confiança em Flávio e Lucas
Meu maior desejo hoje seria o de ver meu filho Flávio, porque eu ainda não vi. Eu tenho certeza que para mim ele diria a verdade. Meus filhos nunca tiveram o hábito de mentir para mim. Estou lutando para ter esse encontro. E quero que ele diga para mim.
Sobre colocar a mão no fogo, eu prefiro não responder. Mas eu não acredito. Meu filho estava lá, foi ele quem socorreu, quem levou para o hospital, mesmo com o mandado de prisão por violência doméstica.
Os dois são meus filhos. Não existe essa questão de biológico ou adotado, porque para mim a maior gestação é a do coração. Os dois são meus filhos. Eu quero que meus filhos sigam o ensinamento que dei para eles. Que sejam verdadeiros sempre. Que digam a verdade sempre. E quero dizer para eles que a nossa família tá sofrendo muito. Os irmãos estão sofrendo.
Eu estou sofrendo muito. Nenhuma mãe cria um filho para ter esse tipo de acusação. É muito duro para uma mãe. E mais duro ainda é ser incriminada por atos que os filhos cometeram. O que eu tenho a dizer é que nunca esqueçam o que eu e o pai ensinamos, o caminho do amor e da verdade.
Arma encontrada no quarto de Flávio
Há uma episódio que liga a presença da arma, mas está em sigilo. Se eu falar, vai prejudicar, mas a polícia já está ciente.
Trajetória ministerial com o esposo. Relação com os fiéis na Igreja
Nada do que foi construído por nós dois vai acabar. As coisas principais na vida do meu esposo eram Deus, Flordelis e o Ministério. E eu não vou deixar acabar. O meu amor por ele vai dar força para que o Ministério permaneça de pé. Nós temos obreiros. E eu sei que temos muitas pessoas pelo Brasil afora orando por mim e por minha família.
O CASO
O pastor Anderson do Carmo foi assassinado na madrugada do domingo (16) na garagem de casa, em Pendotiba, Niterói (RJ). O laudo mostrou 30 perfurações pelo corpo, a maior parte nas costas, peito e região da virilha. Anderson era casado há 25 anos com Flordelis, pastora e deputada federal pelo Rio de Janeiro. Sempre ao lado da esposa, ele atuava como secretário-geral do PSD no Estado.
Dois filhos da pastora estão presos preventivamente, Lucas dos Santos, de 18 anos, e Flávio dos Santos Rodrigues, de 38 anos. O mais velho assumiu ter efetuado seis tiros. Lucas teria ajudado comprando a arma, mas não estaria em casa no momento dos disparos. Os agentes ainda estão investigando os pontos contraditórios.
Um terceiro filho teria afirmado, em depoimento, que não ouviu discussão, barulho de carro ou moto em fuga. Que quando chegou na cena do crime encontrou o irmão Flávio próximo ao pai, caído. Ele garantiu ainda que o celular de Anderson, que está sumido, foi entregue a Flordelis.
Ainda em depoimento, o filho disse que o pastor já recebeu uma mensagem com ameaça de morte e uma das irmãs ofereceu R$ 10 mil a Lucas para que cometesse o crime. Flordelis e três filhas já teriam colocado remédios na comida de Anderson, por isso, sua saúde estava debilitada.
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