Gabriela Doria - 16/08/2020 20h49 | atualizado em 16/08/2020 20h50

O momento mais triste na vida de uma mãe marcou também o seu renascimento. Maria Isabel dos Santos, de 65 anos, esperava um transplante de rim havia 10 anos e acabou recebendo o órgão de seu próprio filho, Magno de Oliveira, de 34 anos, que morreu tragicamente em um acidente de moto.

O caso aconteceu em São Francisco do Itabapoana, no Norte Fluminense.

– Nós ficamos muito abalados com tudo o que estava acontecendo e quando nos perguntaram sobre a doação, a primeira coisa que pensamos era que o rim poderia ser doado para a nossa mãe. Mas os médicos nos explicaram que não era possível escolher, que o procedimento é sigiloso e segue critérios. Ficamos sem chão – lembrou Isabela, irmã de Magno.

Decepcionada em não conseguir ajudar a mãe por causa da fila de transplantes, Isabela pensou em desistir da doação dos órgãos do irmão, mas foi convencida por Maria Isabel a fazer a boa ação.

– Depois de contar para a minha mãe que Magno tinha morrido, falei para ela sobre a decisão que precisávamos tomar e que nós não poderíamos doar diretamente para ela. Confesso que fiquei muito egoísta na hora. Mas minha mãe disse algo que ainda me emociona muito. [Ela disse] “A nossa tristeza de hoje vai se tornar a alegria de outras pessoas e, um dia, a tristeza de outra família será a nossa alegria”. A sabedoria da minha mãe fez a gente tomar a decisão certa – contou Isabela.

E após as palavras da mãe, a família autorizou a doação dos rins, fígado e coração de Magno.

O que eles não esperavam é que algumas horas depois o hospital entraria em contato novamente com a família, desta vez para informar sobre o que eles mais esperavam ouvir nos últimos 10 anos.

– Minha mãe recebeu uma ligação do hospital às 23h30 de quinta-feira (16), dizendo que ela foi selecionada para o transplante e que precisaria passar pela triagem. Outras cinco pessoas também foram chamadas e fizeram a triagem, mas minha mãe foi a escolhida porque o nível de compatibilidade era muito alto. Foi aí que nosso coração começou a sentir que o rim era do meu irmão – afirmou a filha de Maria Isabel.

A família teve certeza de que se tratava do rim de Magno após ser informada sobre o perfil do doador.

– A equipe médica informou para a minha mãe que ela receberia um rim de um doador de morte encefálica, de Campos dos Goytacazes, de 34 anos e 6 meses. Só houve aquela cirurgia de captação na sexta-feira e as informações batiam exatamente com o caso do meu irmão. Era ele – constaram.

Maria Isabel, que fazia hemodiálise há 10 anos, tinha 100% de compatibilidade com o órgão do filho.

– Essa história é uma história muito excepcional e rara e, porque não dizer também, emocionante – disse o psicólogo do programa municipal de transplantes NF – Transplantes, Luiz Cosmelli.

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