Doméstica é multada em R$ 10 mil por criticar médico
Vera Lúcia Lopes diz que não sabe como vai conseguir o dinheiro
Jade Nunes - 03/05/2019 14h00 | atualizado em 03/05/2019 15h26

A empregada doméstica Vera Lúcia Lopes, de 49 anos, afirma que não sabe como vai pagar uma multa de R$ 10 mil imposta pelo Tribunal de Justiça do Estado. O valor é referente a um processo movido por um médico da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Ela foi condenada em abril após publicar no Facebook uma foto criticando dois médicos da unidade de saúde. A sobrinha de Vera já havia sido atendida e aguardava para ser internada quando viu os profissionais conversando.
No post, ela marcou a UPA e escreveu na reação: “Vera Lúcia Lopes está se sentido exausta em UPA Leblon”.
A mulher ainda completou com a seguinte frase:
– Por isso que as UPAs não funcionam. Enquanto os pacientes padecem, os médicos ficam batendo papo.
Quando questionado sobre a suposta postura imprópria, o médico, que não teve a identidade revelada, tomou conhecimento da foto e resolveu processar. No depoimento, ele argumenta que estava falando com a colega “por ela ter dúvida sobre o caso de um paciente, uma vez que estava [trabalhando] havia uma ou duas semanas na UPA”.
A juíza Edi de Fátima Dalla Porta Franco considerou que “o conteúdo extrapolou de modo grave e reprovável o direito de livre manifestação do pensamento”.
– Fixo em R$ 10.000,00 (dez mil reais) para compensá-lo dos danos morais, inclusive para desestimular a ré a reiterar a prática desse ato ilícito – escreveu a magistrada na decisão.
Vera diz que recebe um salário R$ 1 mil como doméstica. Ela mora com o filho de 21 anos que trabalha como segurança de hotel.
– Acho que é injusto esse valor de R$ 10 mil. No dia em que eu fui ao tribunal, expliquei para juíza. Ela não falou nada, nem pediu minha carteira profissional para ver quanto eu ganho. Mandaram eu tirar a publicação do ar, e eu tirei. Agora, um médico pedir indenização de uma empregada doméstica? Eles poderiam mandar alguém na minha casa, ver minha situação – declarou ao portal Uol.
O advogado do médico pela Associação de Defesa dos Direitos Médicos, David Amizo Frizzo, explica que o profissional não entrou na Justiça interessado nos bens de Vera.
– Não buscamos a Justiça por motivo financeiro, mas pedagógico. As redes sociais se transformaram em um campo aberto, expondo os médicos e outros trabalhadores “de bem”. Hoje em dia, o cidadão só aprende a tomar mais cuidado quando dói no bolso.
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