Depois de 87 anos, PSOL e PT acusam hino do RS de racismo
Vereadores afirmaram que expressão contida na canção seria discriminatória
Paulo Moura - 05/01/2021 13h28 | atualizado em 06/01/2021 07h58
Após ser cantado por quase um século sem grandes discussões ou polêmicas a respeito de seu conteúdo, o hino do estado do Rio Grande do Sul virou alvo de uma polêmica criada por vereadores do PSOL, PT e PCdoB em Porto Alegre (RS). Segundo os parlamentares, um dos trechos da canção, que é entoada desde 1933, teria conteúdo racista.
– Não temos obrigação nenhuma de cantar um verso que diz que o nosso povo não tem virtudes, por isso foi escravizado. O hino foi elaborado em um contexto de guerra, no qual a única forma de escravização era sobre a população negra, que lutou na guerra sob promessa de liberdade, que não tiveram – disse o vereador Matheus Gomes (PSOL).
A recusa quanto a cantá-lo aconteceu durante a cerimônia de posse, na última sexta-feira (1°), quando os parlamentares permaneceram sentados durante a execução do hino. A postura do vereador do PSOL provocou uma chuva de críticas a ele nas redes sociais. Muitos alegaram que o sentido da frase não é racista; antes, tem a ver com a relação do Rio Grande do Sul com o Império.
O trecho do hino que causou discussões diz que o “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. Apesar da alegação de racismo feita pelos parlamentares de esquerda, membros de movimentos de tradição gaúcha refutaram a acusação e apontaram que a bancada negra perde tempo com polêmicas desnecessárias, em vez de discutir assuntos mais importantes.
– Enquanto a bancada negra fica sentada e não canta o hino, nosso povo perde um precioso tempo de ser protagonista de uma nova história. Este é nosso tempo. Precisamos sair das amarras, lutar com as armas do respeito e da igualdade e quebrar alguns preconceitos próprios – declarou Julia Dutra, diretora de Manifestações Individuais e Espontâneas do Movimento Tradicionalista Gaúcho.
O HINO
Com letra de Francisco Pinto da Fontoura, música do Comendador Maestro Joaquim José de Mendanha e harmonização de Antônio Corte Real, a versão atual do hino é do ano de 1933, sendo esta a terceira adaptação feita para a canção, que teve sua primeira edição em 1838.
A letra atual da canção, porém, sofreu uma alteração em 1966, quando foi oficializada como Hino Farroupilha ou Hino Rio-Grandense, por força da lei 5.213, de 5 de janeiro de 1966. Na ocasião, foi suprimida a segunda estrofe por conta de termos descontextualizados em relação à cultura gaúcha, tais como “Atenas” e “romanos”.
Confira a letra do atual hino gaúcho, na íntegra:
Como a aurora precursora
Do farol da divindade
Foi o Vinte de Setembro
O precursor da liberdade.
Mostremos valor, constância
Nesta ímpia e injusta guerra.
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra.
De modelo a toda terra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra.
Mas não basta, pra ser livre,
Ser forte aguerrido e bravo.
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo.
Mostremos valor, constância
Nesta ímpia e injusta guerra.
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra.
De modelo a toda terra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra.