Delegado: “Não há relação de Bolsonaro com caso Marielle”
Coletiva de imprensa detalhou execução da vereadora carioca e seu motorista
Camille Dornelles - 12/03/2019 13h14 | atualizado em 12/03/2019 13h16
Na manhã desta terça-feira (12), o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, o vice-governador, o secretário da Polícia Civil e delegados participaram de uma coletiva de imprensa. Eles deram esclarecimentos sobre os assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes.
Entre os presentes estava o delegado Giniton Lages, da Delegacia de Homicídios. Ele detalhou o processo de investigação e reiterou diversas vezes que o assassinato da vereadora carioca não é um caso qualquer, mas muito complexo e emblemático.
– Não é fácil tratar desse crime. Ele marca (os investigadores) de forma muito profunda. Eu sempre falei aos profissionais que cada um sairia mais forte. Todos sabem que é uma investigação complexa, não estamos diante de um crime passional, não temos imagens contundentes… Eu não quero que o caso Marielle e Anderson se repita. Quando eu mostrar o perfil dos envolvidos, vocês vão entender que qualquer um de nós poderia ser vítima – iniciou Lages.
O delegado declarou que alguns detalhes não serão revelados porque a Polícia Civil prezará pelo sigilo investigativo. No entanto, revelou diversas informações sobre a execução. Lages garantiu que o caso foi uma execução premeditada e que ela ocorreu conforme o plano dos assassinos.
Confira abaixo algumas das principais informações dadas pelo delegado.
LIGAÇÃO COM BOLSONARO
Segundo os presentes, as investigações mostraram que a família Bolsonaro não tem nenhuma ligação com o crime. A hipótese foi facilmente descartada.
– Nossa investigação descartou o envolvimento da família Bolsonaro no crime – apontou o delegado.
PERSEGUIÇÃO
A dupla presa nesta terça-feira realizou uma perseguição de mais de uma hora do carro da vereadora. Nesse tempo, não pararam, não abasteceram, não fizeram nenhuma ligação e deixaram de usar a internet no celular por volta das 17h (o crime foi às 21h). O delegado Lages afirma que esse comportamento é suspeito.
– Os autores ficaram dentro do veículo esperando por Marielle durante duas horas, sem sair do carro. Na execução, eles também não desceram do veículo. Isso é muito emblemático e importante – aponta.
IDENTIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS
Os presos foram descobertos através de investigações pré e pós-crime, pois as imagens da execução não ajudaram na identificação. Os dois se encaixam em um perfil já suspeito da Polícia Civil. O atirador foi Ronnie Lessa e o motorista era Élcio Vieira de Queiroz.
– Estávamos diante de um crime que foge à regra, porque 80% dos crimes elucidados são feitos por testemunhos. Como eles não saíram do veículo, não havia um testemunho que pudesse reconhecê-los – descreveu.
DISPAROS
Os tiros que mataram Marielle e o motorista Anderson Gomes foram feitos de dentro do carro dos criminosos. Eles foram disparados em movimento e penetraram bem fundo no carro, o que demonstra habilidade do atirador.
Os disparos aconteceram entre 21h09 e 21h12 do dia 14 de março de 2018.
DISQUE DENÚNCIA
A Polícia Civil reuniu diversas denúncias recebidas e as avaliou individualmente. As informações ajudaram a traçar melhor o perfil dos assassinos.
– Não foi o Disque Denúncia que fechou o caso, mas ele deu direcionamentos às investigações. Por trás do Disque Denúncia sempre tem uma intenção, então fomos filtrando – declarou Lages.
MOTIVAÇÃO
Segundo os investigadores, a motivação foi um crime de ódio, por motivo torpe. O delegado esclareceu que os mandantes do crime e detalhes da motivação serão revelados na segunda fase, que está em curso.
– O motivo foi torpe. Isso está claro. Para a Justiça, isso quer dizer que ele se liga à motivação do autor, dele próprio (Ronnie Lessa), por diferenças ideológicas – explicou Lages.
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