Corpos de pacientes com câncer e Covid são trocados em hospital
Um dos sepultamentos já havia ocorrido quando o erro foi descoberto
Thamirys Andrade - 07/01/2021 17h40 | atualizado em 07/01/2021 17h53
A história de duas famílias em luto na Tijuca, Rio de Janeiro, cruzou-se de uma maneira inesperada na primeira semana do ano. Por um erro no hospital particular São Vicente de Paulo, os corpos de dois patriarcas recém-falecidos foram trocados na unidade.
Haicton Paula Ferreira, de 66 anos, morreu de Covid-19 no domingo (3), enquanto Waldyr Rosa da Silva, de 81 anos, perdeu a luta contra o câncer na madrugada de segunda-feira (4). O segundo já havia sido sepultado pela família errada em caixão fechado, para evitar novos contágios, quando o filho de Waldyr percebeu o erro ao fazer o reconhecimento do corpo do pai. Eduardo Castro conta que a própria etiqueta de identificação exibia o nome do outro falecido, o que causa ainda mais mistério sobre como a confusão teria ocorrido.
– Estamos sofrendo muito. Eu não sei onde está o corpo do meu pai. Não desejo que ninguém passe nunca por isso – lamentou Eduardo em entrevista ao jornal O Globo.
O filho de Waldyr, Márcio de Paula Ferreira, de 40 anos, explica que, durante o velório no Cemitério de Inhaúma, a família recebeu a orientação de não se aproximar do caixão por medidas de segurança.
– O caixão estava fechado, e só a parte de cima estava exposta. O rosto dele estava com um adesivo da testa até a boca – conta.
Eduardo frisa o risco de contágio, já que, como Haicton teve Covid-19, e não câncer, não foram tomados os devidos cuidados sanitários.
O Tribunal de Justiça do Rio concedeu uma autorização para retirar o corpo de Waldyr do Cemitério de Inhaúma. O pedido para enterrar Haicton, no entanto, foi negado, pois oficialmente ele já consta como enterrado e ainda não há provas sobre a troca.
O HOSPITAL
Mesmo após a constatação do erro, as famílias reclamam de negligência por parte do hospital para resolver a questão. A família de Waldyr acusa a unidade de não ter tomado providências imediatas e de não apoiar as famílias adequadamente.
– A gente teve que correr atrás de tudo. O hospital não identificou o problema nem ligou para a outra família – desabafa Aline, irmã de Eduardo.
Em nota, o Hospital São Vicente de Paula anunciou a abertura de uma sindicância para investigar como o equívoco pode ter ocorrido. A direção também afirma que o filho de Haicton fez o processo de reconhecimento e confirmou Waldyr como sendo seu pai. A unidade garantiu ainda que câmeras de segurança podem provar que o caixão não estava fechado.
As famílias registraram boletim de ocorrência por subtração de cadáver na 6ª Delegacia de Polícia, na Cidade Nova.
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